Parto domiciliar não é para todas, advertem especialistas
O parto domiciliar, comum na época dos nossas avós e uma opção da mulher nos dias atuais, somente é recomendado para gestações de baixo risco. “Parto domiciliar não é para todas, é para quem se sente muito segura e tem uma gestação de risco habitual, nada mais do que isso”, orientou Siglinde Ribeiro de Melo, enfermeira obstetra e doula, que atua desde 2003 em Chapecó e municípios vizinhos, durante o 2º Congresso Nacional do Parto Humanizado, que acontece nesta quinta (16) e sexta-feira, no auditório Antonieta de Barros, da Assembleia Legislativa.
Para Pablo de Queiroz Santos, professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFSC e assistente de parto domiciliar, é fundamental selecionar a gestante com base nos riscos para a mãe e o bebê. “Somente gravidez de baixo risco”, frisou o médico, ponderando em seguida que inclusive a distância da casa da gestante até a maternidade mais próxima precisa ser levado em conta. “São cerca de 30 minutos para realizar uma cesariana segura, mas do Ribeirão da Ilha até o centro de Florianópolis são 55 minutos, sem trânsito”, observou Pablo de Queiroz.
O professor da UFSC defendeu o diálogo entre os profissionais da saúde, a gestante e sua família. “É preciso conversar sobre parto, sobre o que pode dar certo ou errado e o que existe para resolver os possíveis problemas. Assim a mãe estará segura sobre o que vai acontecer com ela e com o bebê”, avaliou o médico.
Siglinde Ribeiro destacou que nos casos em que o parto domiciliar apresenta problemas, a gestante corre o risco de vivenciar “experiências desagradáveis” nos hospitais. “Teve uma gestante minha que trataram muito mal, ela teve de fazer duas cirurgias do períneo. Por isso tem de ser gestação de baixo risco, porque a gente não tem estrutura de apoio em Chapecó e região”, lamentou a doula.
Segundo a enfermeira Vânia Sorgatto Collaço, as instituições hospitalares têm preconceito contra o parto domiciliar. “São famílias violentadas por técnicos, enfermeiras e pediatras que dizem ‘olha aquela ali não deu certo’”, reclamou Vânia, que criticou a ausência de políticas públicas para respaldar o parto em casa.
A parteira ainda denunciou que as doulas têm dificuldades para acompanhar as gestantes na hora do parto. Além disso, Vânia Colaço informou que as crianças nascidas em casa enfrentam problemas para acessar medicações e vacinas. “O Capital Criança se recusa a cadastrar a criança nascida em casa, falta parceria com a prefeitura de Florianópolis, nem a pastinha ela ganha”, informou Vânia, referindo-se à pasta com objetos e informações úteis aos pais fornecida pela prefeitura da Capital aos bebês nascidos em maternidades.
Declaração de Nascido Vivo
Os especialistas e entusiastas do parto domiciliar também reclamaram das dificuldades para registrar os recém-nascidos nos cartórios. “Temos que pedir para a gestante ir ao cartório, mostrar que está grávida, senão não será dada a certidão de nascimento”, revelou Vânia Colaço.
Pablo de Queiroz reconheceu que há problemas no registro das crianças nascidas em casa. “A lei diz que qualquer profissional com registro no respectivo conselho pode requerer a Declaração de Nascido Vivo (DNV), mas em Florianópolis isso não acontece, muitos cartórios exigem testemunha e até foto do parto, fotografia de um momento íntimo”, deplorou o professor da UFSC.
Agência AL