Palestra na Assembleia apresenta os nove passos do lixo zero
FOTO: Solon Soares/Agência AL
O italiano Alessio Ciacci, consultor da União Europeia (UE) para projetos de reutilização e reciclagem de resíduos urbanos, apresentou os nove passos do lixo zero em palestra realizada na tarde de sexta-feira (2), no plenarinho da Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
O primeiro passo é a separação dos resíduos na fonte, pelas pessoas, eliminando a coleta nas ruas.
“Para chegar a um bom resultado, o mais importante é envolver a sociedade, é dela o papel principal”, ressaltou o pioneiro do lixo zero no velho continente.
O segundo passo é implantar o sistema de recolhimento domiciliar personalizado.
“Na Comuna di Capannori começamos com uma pequena parte do território para mostrar que era possível. Paulatinamente foi se estendendo, os céticos começaram a entender e acreditar. Quando chegamos a 100%, a prefeitura do lado resolveu copiar, hoje são 270 comunas em toda Itália”, explicou.
O terceiro passo é a compostagem, que pode ser doméstica, mecânica ou industrial; o quarto, a reciclagem dos materiais (plásticos, papeis, metais).
“Todos os anos chamamos os cidadãos para verificar como funciona a reciclagem e mostrar para onde vão os resíduos reciclados”, informou
O quinto passo é a redução dos descartes, isto é, a diminuição do volume de lixo que não foi reciclado ou utilizado para compostagem.
A sexta etapa compreende a taxação das embalagens.
“Na Itália foi introduzida a taxação da produção de embalagens, hoje há mais taxação no Norte que no Sul. Muitas cidades estão isentando lojas que vendem sem embalagens, como o leite vendido na torneira”, exemplificou o consultor da UE.
O sétimo passo é a cobrança pontual, como nas contas de água e luz, condicionada à quantia de lixo produzido, excluídos os materiais recicláveis e utilizados em compostagens.
“Quanto lixo uma residência ou um pátio industrial produz? A leitura da quantidade é feita com um microchip colocado nos baldes ou por códigos de barras impressos nos sacos de lixo, que são lidos automaticamente no caminhão que recolhe e pesa os baldes e sacos”, descreveu Alessio Ciacci.
A oitava etapa implica no reuso daquilo que não é reciclado ou utilizado em compostagens.
“Hoje a Itália tem a maior planta industrial para reciclar fraldas já utilizadas, construída pela Pampers”.
E para fechar o ciclo, um centro de pesquisas para identificar o que foi perdido e as possibilidades de reuso desses materiais.
“No centro de pesquisas estudamos os materiais que sobram e como eliminá-los. Os rejeitos de maquinas de café, por exemplo, não podiam ir como plástico porque tinham orgânico e não cabiam no orgânico porque tinham plásticos. A solução foi adotar cápsulas biodegradáveis. Esse processo mostra que não existe solução fácil, mas que a solução vem com o tempo”, garantiu o especialista.
Avaliação do modelo italiano
O presidente do Instituto Lixo Zero, Rodrigo Sabatini, fez uma avaliação do modelo de lixo zero implantado na Itália.
“Podia ser uma coisa de sonhadores e ativistas, mas é uma questão técnica, de qualidade total, sustentada na melhoria contínua e cujo indicador de qualidade é a quantia de lixo no final: menos lixo, mais qualidade”.
“O modelo italiano é baseado na mudança de processos, não precisa de capital para investir, mas mudar processos: em vez de jogar talher, copos, pratos dentro de uma pia, você entrega tudo separado”.
“Tem um pouco mais de custo no início, mas uma grande redução no resultado final, você para de enviar dinheiro para o aterro, faz uma coleta de melhor qualidade, que vai garantir material de maior valor”.
Um exemplo hipotético: Luiz Alves
Não há experiências de municípios com política de lixo zero no estado. Mas como o prefeito de Luiz Alves, Marcos Pedro Veber, acompanhou a palestra de Alessio Ciacci, o município do Médio Vale do Itajaí virou um caso hipotético para demonstrar que a política de lixo zero compensa financeiramente.
Luiz Alves tem cerca de 13 mil habitantes e, segundo o prefeito, produz aproximadamente 180 toneladas de lixo por mês, cujo recolhimento e destinação final custam mais de R$ 600 mil por ano aos cofres da municipalidade.
“Dessas 180 toneladas, cerca de 90 são de lixo orgânico e 35 de papelão, papel, plástico e metais. Se o lixo for separado na origem, vai ter uma fila de empresas para comprar. Não precisa de regulamentação, depois que separa, todo mundo quer comprar, é um produto de alto valor”, argumentou Rodrigo Sabatini.
“O município gasta R$ 600 mil por ano, mas com o lixo zero esse custo cairia para cerca R$ 400 mil, porque cairia o volume de lixo final e a receita com a venda dos recicláveis ou para compostagem poderia chegar a R$ 1 milhão”, estimou.
Além disso, Sabatini sugeriu um modelo de coleta nas casas.
“A residência recebe 52 sacos de lixo para utilizar um por semana. Se quer mais, se quer sacos maiores, paga mais. E a empresa (pública ou privada) só coleta naquele contêiner, só coleta naquele saco. E só é cobrado o rejeito, o lixo que sobrou; o reciclado e o orgânico não são cobrados”.
Agência AL