Palestra aborda aspectos da alimentação de crianças com síndrome de Down

Características físicas e fisiológicas dos portadores de síndrome de down, causadas pela mutação no cromossomo 21, são os principais aspectos a serem considerados em relação à alimentação dessas crianças. Na palestra "Nutrição e estimulação gustativa em pessoas com Síndrome de Down", proferida na manhã desta sexta-feira (21) pelo médico Guilherme Roberto Colin, o especialista em Genética Clínica destacou os cuidados que devem ser observados na alimentação para o pleno desenvolvimento dos portadores da síndrome. A palestra faz parte do III Seminário Estadual sobre Síndrome de Down, realizado no auditório Antonieta de Barros. O evento ocorre na data reconhecida internacionalmente como o Dia da Síndrome de Down e também como o Dia Estadual da Síndrome de Down em Santa Catarina, instituída em 2011 pela Lei 15.529, de autoria do deputado José Milton Scheffer (PP).

Colin trouxe o que de mais moderno se discute em relação à alimentação de recém nascidos. O médico caracterizou o período que vai da gestação até o segundo ano de vida da criança como os "1000 dias". Segundo ele, estudos comprovam que a saúde geral da pessoa durante toda a vida é fortemente influenciada pela alimentação neste período. Com os portadores da deficiência a dieta nesta idade passa a ter importância decisiva no seu desenvolvimento. Naturalmente os downs possuem uma hipotonia muscular maior que crianças sem a síndrome, o que cria algumas especificidades no modo de se alimentar. Para o médico, a preocupação deve começar quando a criança ainda está no ventre da mãe, pois tudo que é consumido por ela é repassado para o bebê. "É obrigação da mãe comer bem, alimentos importantes para o desenvolvimento da criança principalmente no último trimestre da gestação. Alimentos ricos em ômega 3, 6 e 9 fazem com que o cérebro se desenvolva", destacou o pediatra. Alimentos ricos nestes nutrientes devem continuar participando da dieta da criança para reforçar as conexões cerebrais e criar condições para o desenvolvimento do intelecto.

O aleitamento materno é outra prática que deve ser muito estimulada. Além dos benefícios já conhecidos, o próprio ato da sucção reforça a musculatura buco-maxilo-facial, trazendo benefícios para a articulação vocal, o posicionamento da língua e a posterior mastigação.

O estimulo gustativo deve obedecer as fases de desenvolvimento como de qualquer criança. Os alimentos sólidos devem ser introduzidos a partir da eclosão dos dentes, sempre variando cores, sabores, consistência e texturas. A pirâmide alimentar deve ser observada com atenção no preparo das refeições, balanceando a quantidade e a classificação dos alimentos. Todo esse cuidado se justifica, segundo o geneticista, devido a características específicas do portador da síndrome, como o intestino com dois metros a mais que uma pessoa adulta. Essa característica gera uma absorção maior de nutrientes que ocorre de forma mais lenta, também devido a característica hipotônica muscular. Com uma absorção maior de água o resultado são fezes mais duras e alguma dificuldade em evacuar.

Desenvolvimento do lactente
De acordo com o médico, o desenvolvimento geral do lactente com a deficiência é mais lento, seu ganho de peso e seu crescimento são equivalentes a metade do que outras crianças se desenvolvem em média. Nem por isso são sinônimos de desnutrição ou baixo desenvolvimento. O errado está em forçar a ingestão de alimentos, o que pode causar um problema de obesidade, visto a retenção maior e mais lenta dos nutrientes.

Sobre a questão dos hábitos alimentares, Guilherme Colin reforçou os benefícios de se dispor do período das refeições para estimular não só o desenvolvimento gustativo e nutricional, mas também as relações pessoais e familiares. "O horário e o hábito de comer em família à mesa deve ser respeitado. Hora de comer é hora de comer, não há negociação. É um exercício de disciplina, concentração e de socialização. É quando pais e filhos podem conversar", ponderou.

O geneticista deu como exemplo de estimulo gustativo para crianças o processo de se ofertar o suco de laranja. Primeiro deve-se apresentar o fruto, a laranja, para a criança, dessa forma estão sendo estimulados o toque e o paladar, depois corta-se a laranja ao meio e o alimento é novamente oferecido à criança, agora forma e paladar são novamente percebidos. O terceiro passo é oferecer apenas o gomo da fruta e espremê-lo na boca da criança, em seguida espremer a laranja, fazer o suco e oferecer. "Assim estamos estimulando a percepção, reforçando as conexões neurais e o desenvolvimento cerebral. Com resultados neuromotores, de psicomotricidade e pedagógicos positivos", reforçou Colin.

Lançamento do livro "Amor Down"
Logo após a palestra, no hall de entrada do auditório Antonieta de Barros, foi lançado o livro “Amor Down”, organizado por Luiz Antonio Hecker Kappel, médico veterinário, fiscal federal agropecuário e pai de uma menina com Síndrome de Down. O livro divide-se em quatro partes. A primeira traz um resumo sobre o que é a Sindrome de Down. A segunda parte são histórias contadas pelos pais, em seguida são apresentados depoimentos de profissionais, amigos e educadores. A última parte do livro conta com depoimentos e sonhos de adolescentes down.

A intenção do autor é sensibilizar principalmente a classe médica. "Todos sabem o que é a síndrome, mas poucos querem saber quem é o sujeito, a pessoa, 'a fera', down. Esse é um sonho realizado", justificou de forma emocionada Luiz Antonio. O deputado José Milton Scheffer participou do lançamento e elogiou a iniciativa que tem a parceria da entidade Amor para Down de Balneário Camboriú: "Essa é uma história contata por quem está dentro da história. Nos toca de maneira diferente, nos toca de uma forma especial. O cromossomo 21 é o cromossomo do amor".

O presidente da Associação Amor para Down, Marcos Antonio Costa, parabenizou os pais que participaram do livro. "Eles foram muito corajosos em expor suas experiências". Toda a renda levantada com a venda dos livros será revertida para a construção da nova sede da entidade.