Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina Agência AL

Facebook Flickr Twitter Youtube Instagram

Pesquisar

+ Filtros de busca

 

Cadastro

Mantenha-se informado. Faça aqui o seu cadastro.

Whatsapp

Cadastre-se para receber notícias da Assembleia Legislativa no seu celular.

Aumentar Fonte / Diminuir Fonte
20/05/2014 - 13h01min

Ministro do Trabalho depõe na Comissão da Verdade de Santa Catarina

Imprimir Enviar
Manoel Dias foi preso na década de 60, em Criciúma, por ser advogado de mineiros. FOTO: Carlos Kilian/Agência AL

O ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, catarinense de Criciúma, depôs na Comissão Estadual da Verdade na tarde desta segunda-feira (19), na Assembleia Legislativa. Maneca, como é popularmente chamado, foi preso em 1964, quando era vereador em Içara, elegeu-se deputado estadual em 1965, foi cassado em 1969 e preso logo após. “Era advogado dos mineiros em Lauro Muller, fui perseguido pelos militares”, declarou.

Segundo Manoel Dias, “Criciúma foi o centro da repressão por causa do movimento sindical ativo, o núcleo politicamente mais bem organizado do Brasil, com salário profissional, sob a liderança do partidão”, explicou, referindo-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).

O ministro contou que o Exército precisou se deslocar de Blumenau para o Sul do estado. “Levaram dois dias para entrar em Criciúma, havia a preocupação de que os mineiros estavam armados”, descreveu Maneca, ponderando que tinha “cerca de 1.500 grupos dos 11, do Brizola, para dar forma aos movimentos sociais”, mas que o sindicato não possuía armas. “Faziam proselitismo político, mas a direita dizia que estávamos todos armados, que o sindicato estava cheio de armas. Entraram e não tinha arma, destruíram o sindicato e encontraram cinco mãos-de-pilão”, ironizou.

Manoel Dias relatou que depois de ocupar Criciúma, os militares se dedicaram a prender. “Prenderam todo mundo, até uma pessoa que pedia esmola na praça Nereu Ramos. Levaram 90 dias para começar ouvir, então colocamos nele o apelido de ‘Bornhausen’. Ele nos dizia, ‘meus neguinhos nunca comeram tanta carne como agora’”, descreveu o ministro, arrancando risos da plateia.

Recados para Dilma
Entretanto, antes do ministro deixar a Sala das Comissões, a depoente Eli Martins, viúva do professor Valmir Martins, que atuou clandestinamente na Ação Popular e foi preso pela primeira vez em outubro de 1968, quando participava do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), pediu que Maneca fosse o portador de “dois recados para a presidente da República”. O primeiro, que “Valmir não pediu indenização, como fizeram outros presos políticos, como a presidente Dilma. Ele foi porque quis”, justificou Eli, argumentando que o marido assumiu livremente a consequência dos seus atos.

O segundo, que o professor da UFSC morreu antes de ver o companheiro de Ibiúna, ex-ministro José Dirceu, preso na Papuda por corrupção. “Valmir era honesto”, declarou a esposa. “É o único momento que fico feliz dele ter morrido, não está vendo essa bandalheira”, completou.

Documento fraudado
Eli Martins emocionou a Comissão relatando fatos vividos pelos familiares do militante clandestino. Ela contou que o marido passou em primeiro lugar em concurso público para o Departamento de História da UFSC, todavia não podia ser chamado porque não possuía “bons antecedentes políticos”. Então, em comum acordo com a professora Osvaldina Cabral Gomes, então chefe do Departamento de História, Eli obteve um atestado de antecedentes em São José e, em casa, com todo cuidado, rasurou o documento, de modo que o marido passou de maus a bons antecedentes. “Depois mudou o reitor, ele descobriu tudo, ameaçaram tirar o Valmir da universidade, mas dona Osvaldina entrou no caso novamente”, revelou Eli Martins.

Militares e Igreja Católica
O ex-preso Heitor Bittencourt Filho também descreveu à Comissão da Verdade sua experiência com a repressão. “Não fui torturado, apenas militei no Movimento Estudantil e em 1967/68 fui presidente do Diretório Central de Estudantes da UFSC”, declarou Heitor, que enfatizou o papel da Igreja Católica no golpe de 1964.

“A Igreja foi golpista, antes do golpe promovia entidades dentro da sociedade, como a Organização Democrática Cristã, para lutar contra os estudantes de esquerda. Também cooptaram as mulheres, para a marcha da família, com Deus, pela liberdade”, argumentou Heitor, ponderando que era época da guerra fria e que a Igreja se juntou a outras forças conservadoras “para conter o avanço das esquerdas que lutavam por justiça social”.

Salvo pela sorte
Heitor revelou que entrou com processo na Comissão de Anistia, uma vez que foi demitido da empresa Klabin, em Correia Pinto, por causa das prisões políticas. “A juíza disse que não consegui provar que era empregado da Klabin”, informou Heitor, que decidiu então partir para um processo da justiça comum. “Foi aí que tive a ideia de procurar meu ex-chefe na internet. Chamava-se Roberto Sozzi de Lacerda. Encontrei e liguei para ele, foi supersolidário, é um industrial bem-sucedido, contou no depoimento que recebeu um telefonema do gerente da fábrica para me demitir”, afirmou o ex-preso político.

Próximas audiências
A Comissão Estadual da Verdade ainda realizará duas audiências públicas em Florianópolis, na Assembleia Legislativa. No dia 2 de junho serão ouvidos os peritos, inclusive um deles contratado pela ONU, para determinar definitivamente a causa mortis do ex-prefeito de Balneário Camboriú, Higino Pio. Já no dia 9 de junho, a Comissão ouvirá o ex-preso Luis Eurico Lisboa.

Vítor Santos
Agência AL

Voltar