Livro conta trajetória de brigadeiro acusado de trair a Coroa Portuguesa
A história de um personagem importante na história da Ilha de Santa Catarina, mas desconhecido dos catarinenses e considerado traidor em Portugal, é o tema de um livro lançado na noite desta quarta-feira (11), no Espaço Cultural Jerônimo Cultural da Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
“O Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria: de Portugal à América Meridional – Uma trajetória”, escrito pela historiadora catarinense Sara Regina dos Reis e pelo engenheiro argentino Francisco Javier Castiglione, desmente, com base em documentos oficiais, a versão que o engenheiro militar português Sá e Faria teria traído seu país e permitido que os espanhóis invadissem a Ilha de Santa Catarina em 1777.
A obra demandou pesquisas de mais de 20 anos, com viagens a arquivos históricos de Portugal e Espanha em busca de documentos oficiais sobre a trajetória de Sá e Faria. A história oficial conta que o brigadeiro foi enviado para o Brasil para, entre outras atribuições, cuidar da segurança da parte meridional do território português na América, sendo responsável pela construção de vários fortes no litoral brasileiro, sendo dois deles na Ilha de Santa Catarina: o Forte de Santana e o Forte da Praia de Fora.
Em 1776, diante da ameaça da invasão espanhola, que já havia se concretizado em outras regiões do Sul, Sá e Faria foi enviado pela Coroa portuguesa para a Ilha de Santa Catarina com o objetivo de protegê-la. No entanto, assim que a invasão se concretizou, ele teria fugido com o então vice-rei do Rio da Prata, o espanhol Pedro de Cevallos, para a Argentina.
“Eu sempre achei que o brigadeiro Sá e Faria era um homem muito íntegro para ser considerado um traidor. Iniciei a pesquisa para provar que ele não tinha traído Portugal e encontrei um documento, no Arquivo das Índias em Sevilha (Espanha), que comprova que ele não fugiu para Buenos Aires, mas foi feito prisioneiro por Cevallos e levado para Buenos Aires”, conta a pesquisadora.
Sara se emociona ao comentar sobre a descoberta do documento, que está reproduzido no livro lançado na Alesc. Segundo ela, por causa da suspeita de traição, Sá e Faria foi esquecido na história de Portugal e é uma figura praticamente desconhecida por lá, apesar da sua importância na América do Sul. “Ele não tinha como evitar a invasão. A ilha, na época, era totalmente desprovida de estrutura”, afirma a historiadora.
Co-autor do livro, Castiglione destaca que o brigadeiro se transformou num dos principais nomes da engenharia na América do Sul àquela época, com participação em obras na Argentina, no Brasil e no Uruguai. “Ele foi uma figura interessantíssima. Um excelente cartógrafo e mesmo como prisioneiro de guerra em Buenos Aires ele teve participação em várias obras na Argentina”, comenta Castiglione.
Agência AL