Com método de Singapura, Joinville busca índices de países desenvolvidos
FOTO: Solon Soares/Agência AL
A prefeitura de Joinville, por meio da sua Secretaria de Educação, deu início, em março deste ano, à implantação de uma nova metodologia de ensino que promete levar a formação dos cerca de 50 mil alunos da rede escolar do município a um novo patamar de qualidade. Trata-se do método de Singapura, país asiático que figura entre as principais potências mundiais de educação, segundo o mais recente programa de avaliação internacional de alunos.
A capacitação dos primeiros professores e gestores do Ensino Fundamental ocorreu entre os dias 5 e 9 de março, com a vinda dos especialistas Boon Liang Chua e Kok Siang Tan, do Instituto Nacional de Educação de Singapura (NIE); em uma iniciativa que também contou com o apoio do Instituto Ayrton Senna e da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). Os docentes formados na ocasião agora estão repassando os conhecimentos recebidos a um novo grupo de 126 docentes.
Em Joinville, o modelo vem sendo direcionado para as áreas de matemática e de ciências, por meio dos conteúdos já ministrados na rede de ensino local e constantes na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
De acordo com o secretário municipal de Educação de Joinville, Roque Antônio Mattei, a metodologia de Singapura pode ser aplicada a todas as disciplinas, mas a decisão de priorizar matemática e ciências está relacionada à própria vocação econômica da cidade. “Esse sistema pode ser utilizado em qualquer campo do conhecimento, mas optamos por iniciar por essas duas áreas justamente por termos esse perfil mais tecnológico e industrial, visando justamente o desenvolvimento da nossa cidade nos próximos 30 anos, conforme o planejamento que estamos fazendo.”
Ainda conforme o secretário, o objetivo é que futuramente o município consiga atingir padrões educacionais semelhantes aos apresentados pelos países desenvolvidos. “Joinville já está entre os municípios brasileiros com melhores índices educacionais, mas queremos avançar mais, nos equiparando ao que é praticado nos países mais avançados. O nosso município hoje recebe cada vez mais investimentos de fora do Brasil e nós precisamos preparar a comunidade para esse novo cenário.”
Metodologia investigativa
Também conhecido como "Mastery Approach" ou "Abordagem Maestria", o método de Singapura tem como foco a resolução de problemas e a pesquisa, com os educadores instigando os alunos a entenderem o raciocínio lógico que está por trás das questões apresentadas, em vez da mera aquisição de informações.
Para a professora Nazaré Costa, que coordenadora a capacitação dos professores, a sistemática de Singapura guarda semelhanças com o que já vinha sendo praticado nas escolas locais. “Ela é uma metodologia investigativa, na qual o professor encaminha aos alunos os conteúdos a serem trabalhados. Eles os estudam em casa e vêm para a escola com as dúvidas. Depois, o professor vai fazendo a intervenção e trabalhando a questão com eles individualmente, em duplas, ou em grupo.”
Já Maria do Carmo Souza Ferreira, que atua como diretora da Escola Municipal Orestes Guimarães, aponta como vantagem da didática de Singapura a associação dos temas estudados pelos alunos as suas próprias vivências diárias. “No método tradicional há muita teoria, que não possibilita ao aluno criar significados. Já pelo sistema de Singapura, ele começa a entender todo o processo.”
A mudança no formato de ensino também recebeu elogios dos alunos do 9º ano da unidade de ensino. “Eu senti a diferença sim. Pelo fato de utilizá-lo em situações cotidianas, como na padaria, no mercado, conseguimos entender melhor os problemas aplicados e o que o professor queria nos passar”, disse Bárbara Santos, de 14 anos.
“Percebi uma grande diferença para o nosso psicológico, pois a gente aprende a ter mais discernimento sobre as coisas. É ainda uma grande ajuda para a atuação que queremos exercer no futuro” acrescentou Ana Carolina da Veiga, também de 14 anos.
Liderança na educação
Conforme o último levantamento do Programa de Avaliação Internacional de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), promovido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Singapura lidera o ranking da educação mundial. Em 2015, o país ficou em primeiro lugar nas três disciplinas avaliadas: ciências, matemática e leitura, com pontuações bem acima dos demais países mais bem colocados no ranking, como Japão e Hong Kong. No mesmo ano, o Brasil alcançou a 59ª posição em leitura, a 63ª em ciências e a 65ª em matemática, entre as 70 nações que participaram do exame.
O NIE é o principal instituto de formação de professores do país, ligado diretamente ao ministério da educação. O instituto é considerado um dos responsáveis pela revolução no ensino alcançada nos últimos anos. Atualmente, a educação é a segunda área com mais investimentos do governo local, atrás apenas da defesa, sendo que a maior parte do orçamento vai para a formação de professores e de gestores escolares, tido como pilar fundamental de seu exitoso sistema educacional.
Além de desenvolver práticas pedagógicas inovadoras e políticas públicas baseadas em evidências, o objetivo da instituição é também garantir que a formação dos professores locais esteja sempre alinhada às necessidades da educação no século 21, com foco especialmente no desenvolvimento socioemocional.
Agência AL