Grupo apoia familiares de pessoas desaparecidas em Santa Catarina
Os olhos de Maria de Brito Caetano, 78 anos, se enchem de lágrimas ao lembrar da filha Tereza Cristina de Brito Galliani. Em 1982, a jovem de 19 anos desapareceu da Ponte do Imaruí, em Palhoça, na Grande Florianópolis, sem deixar pistas. As três décadas sem notícias não impedem que a Tereza seja uma presença constante no dia a dia da mãe. “Eu era uma pessoa saudável. Depois que ela desapareceu, tive pressão alta, diabetes. Ainda tem noites que eu não durmo”, conta Maria.
A história de Tereza é apenas uma entre as milhares que motivaram a criação, em 2011, do Grupo de Apoio aos Familiares de Desaparecidos (Gafad) em Santa Catarina. A entidade sem fins lucrativos é formada por amigos, familiares e voluntários. Seu objetivo principal é ouvir, acolher e amparar as pessoas que vivem o drama de ter um ente querido desaparecido.
O Gafad conta com atendimentos na área psicológica, de assistência social e advocatícia aos familiares, realizados por voluntários. “Nosso objetivo é lidar com o lado humano das estatísticas das pessoas desaparecidas”, conta Aldaléia Conceição, presidente do Gafad. “Nós percebemos que cada desaparecido é um número, mas por trás desse número há um drama, há familiares que precisam ser amparados”.
O grupo, formado por aproximadamente 30 pessoas, conta com o apoio do SOS Desaparecidos, projeto da Polícia Militar que mantém uma equipe exclusiva e especializada em desaparecimentos. Além de apoio às famílias, o Gafad trabalha na coleta de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular, a ser protocolado na Câmara dos Deputados, que crie políticas públicas para o tema, além de estruturar as polícias nos estados, já que atualmente só existem três delegacias especializadas em desaparecidos no Brasil – uma delas está em São José, na Grande Florianópolis.
Drama
Segundo o grupo, os casos mais comuns de desaparecimentos envolvem adolescentes que estão em conflito com a família e pessoas que sofrem de problemas mentais. É o caso de Everton Luiz da Cruz, que é autista e epilético e desapareceu aos 27 anos, em agosto de 2011, na Capital. Segundo a mãe dele, Elodi Matilde Fontoura Alves, que também é vice-presidente do Gafad, Everton saiu para passear com o cachorro. O cão retornou para casa, mas o rapaz nunca mais foi visto.
“A gente não vive mais depois que alguém desaparece. A gente apenas sobrevive”, relata Elodi. “A sua vida para, você não consegue dormir direito. Qualquer carro que passa na rua e buzina, você pensa que pode ser seu filho. Toda hora que o telefone toca, você corre para atender, pensando que vai ter notícias”.
Elodi considera que o trabalho do grupo é essencial para o bem-estar das famílias dos desaparecidos. “Esse grupo é tudo. Aqui um apoia o outro. Os voluntários nos dão estrutura, nos dão um rumo para seguir em frente, voltar à vida normal, mas sem desistir da busca pelos nossos familiares”, comenta.
As pessoas e profissionais interessados em atuarem voluntariamente no Gafad podem entrar em contato pelo telefone (48) 9845-4555. O grupo mantém uma página no Facebook e também atende pelo e-mail ggafad@gmail.com.
A relação das pessoas desaparecidas está disponível no site do SOS Desparecidos. Quem tiver informações sobre o paradeiro de algum desaparecido pode entrar em contato pelos telefones (48) 3229-6715 ou (48) 9156-8264.
Agência AL