Evento debate situação dos moradores de rua em SC
A presença de homens, mulheres e crianças e idosos vivendo nas ruas não é um fenômeno novo, mas suas causas e implicações ainda são pouco conhecidas pela sociedade brasileira, destacam os profissionais da área de serviço social. Para debater as políticas públicas direcionadas a este segmento da sociedade e refletir sobre as práticas profissionais do serviço social, teve início na manhã desta quinta-feira o seminário “População em situação de rua e atuação do Serviço Social: Concepções, práticas e contradições”.
O evento, que se estende até as 17 horas na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, é uma promoção do Conselho regional de Serviço Social (Cress-SC) e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Serviço Social (Gepss) da Universidade Federal de Santa Catarina.
Para a presidente do Cress-SC, entidade que conta com 4.800 associados em todo o estado, Magali Regis Franz, o seminário é uma grande oportunidade para os profissionais do serviço social trocarem experiências e discutirem a realidade de seus municípios. Ela chamou a atenção para o fato de que a maioria das cidades catarinenses não promove ações efetivas para tirar os moradores de rua da situação de vulnerabilidade social em que se encontram. “Nossos gestores ainda investem muito pouco em medidas essenciais para a realização de um bom trabalho de atendimento, como a criação de equipes multidisciplinares de atenção social e casas de abrigo. Muitos apenas transferem o problema, fornecendo passagens para que estas pessoas se transfiram para outros municípios”, disse.
Em sua fala, a assistente social Leila Franzoni fez um relato de sua experiência na coordenação do Centro POP, que presta atendimento especializado para população em situação de rua em Florianópolis. O serviço, prestado por uma equipe formada por seis assistentes sociais, quatro psicólogos e três educadores, oferece cuidados de higiene e alimentação, encaminhamento para albergagem e acompanhamento para a rede de proteção social.
Na capital, a maior parte dos moradores de rua, em média 200 pessoas, é formada por homens, geralmente oriundos de outras cidades catarinenses. Nos últimos anos, entretanto, observou Leila, o perfil do grupo começou a mudar, pela participação de mulheres e pessoas com curso superior. “O principal motivo desta mudança é o uso cada vez maior das drogas, principalmente do crack”, disse.
Uma das principais necessidades em Florianópolis, disse, é o reforço das campanhas de orientação visando o esclarecimento da sociedade. “Parte da população não compreende os motivos pelos quais alguém vira morador de rua e, movida pelas boas intenções, oferece dinheiro a estas pessoas, o que muitas vezes acaba atrasando sua recuperação e reinserção social”.
Falta de visibilidade
A assistente social Karina de Witt apresentou ao público sua dissertação de mestrado, que focou a população em situação de rua de Chapecó.
Entre as 36 pessoas entrevistadas para o estudo, em geral nascidas no próprio município, disse Karina, grande parte alegou terem ido parar nas ruas devido à dependência química, conflitos familiares e desemprego. Outras revelaram como motivo situações de perdas de familiares e decepções amorosas.
Sobre os serviços prestados pelo poder público a esta parcela da população, a pesquisa identificou que o atendimento ainda é muito pontual, realizado na maior parte das vezes de forma emergencial por falta de políticas específicas. “A grande maioria não deseja esta situação, mas faltam políticas efetivas para tirar estas pessoas das ruas. Os programas existentes são muito burocratizados”.
Outro aspecto que também dificulta avanços para a reinserção social deste grupo, revelou Karina, é sua pouca visibilidade. “Estas pessoas não se vêem como detentoras de direitos e, por isso, não se mobilizam para reivindicar que suas expectativas são atendidas”. (Alexandre Back)
Programação:
9h15 – Mesa Redonda
Tema: O exercício profissional dos assistentes sociais junto à população em situação de rua
Debatedores:
Karina de Witt: assistente social da prefeitura de Chapecó
Ciberen C. Ouriques: assistente social da prefeitura de São José
Leila Franzoni: assistente social da prefeitura de Florianópolis
10h45 – Debate
14:00 – Mesa Redonda
Tema: O movimento da população em situação de rua
Debatedores:
Leonildo José Monteiro Filho: representante nacional do Movimento População em Situação de Rua
Celso Luiz Pereira: representante estadual do Movimento População em Situação de Rua
Leandro João Ouriques: representante do Movimento População em Situação de Rua do município de São José.
Daniel Paz dos Santos: representante nacional do Movimento População em Situação de Rua do município de Florianópolis.
14h45 – Debate
16h45: Síntese do Seminário
17:00 – Encerramento