Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina Agência AL

Facebook Flickr Twitter Youtube Instagram

Pesquisar

+ Filtros de busca

 

Cadastro

Mantenha-se informado. Faça aqui o seu cadastro.

Whatsapp

Cadastre-se para receber notícias da Assembleia Legislativa no seu celular.

Aumentar Fonte / Diminuir Fonte
20/07/2015 - 11h26min

Estudo inédito em SC mapeia centenários para pesquisar longevidade

Imprimir Enviar
Pesquisadora Inês Amanda Streit. FOTO: Luiz de Assis/TVAL

Entender o que contribui para uma pessoa ultrapassar a marca dos 100 anos levou pesquisadores da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) a buscar o que há em comum no estilo de vida de idosos centenários. Conduzido por uma equipe do Laboratório de Gerontologia (Lager) do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid), o estudo procura identificar os fatores que influenciam na longevidade. O objetivo é apontar estratégias para melhorar a assistência oferecida à população dessa faixa etária, estimada em 1,2 mil pessoas no estado.

O SC 100 – Estudo Multidimensional dos Centenários de Santa Catarina é uma iniciativa inédita no estado. O protocolo de avaliação aplicado pelos pesquisadores inclui questões relacionadas a gênero, estado civil, escolaridade, situação econômica, alimentação, atividades físicas e de lazer. São considerados, ainda, fatores como humor e depressão, percepções e expectativas do idoso, assim como a rede de suporte social.  

As condições de saúde também são analisadas por meio de testes das capacidades funcional e auditiva e de uma avaliação cineantropométrica. Ela abrange informações sobre peso, estatura, circunferência do quadril e da cintura, dobra cutânea do tríceps e da panturrilha, perímetro do braço e da panturrilha, força de preensão manual e tamanho da passada em marcha. Também é solicitado ao idoso usar por uma semana um aparelho chamado pedômetro, que calcula o número de passos dados ao dia.

Um diferencial da pesquisa é a abordagem referente à sobrecarga do cuidador do idoso centenário. A proposta é que os dados levantados nos questionários sirvam como suporte para a oferta de serviços de apoio para cuidadores.

Um dos desafios enfrentados pela equipe de pesquisadores, chefiada pela doutora Giovana Zarpellon Mazo, é identificar os idosos com 100 anos ou mais que moram no estado. A estimativa atual, de 1,2 mil centenários, foi baseada no número de pessoas que tinham 97 anos ou mais no Censo Demográfico de 2010.

Todos os idosos centenários são convidados a participar da pesquisa, junto com um cuidador. Para auxiliar na localização, foi estabelecida uma parceria com a Secretaria de Estado da Saúde. Quem quiser colaborar, pode entrar em contato com o Lager (48 3321-8611 ou centenarios.udesc@gmail.com).

O procedimento padrão é a aplicação do protocolo de avaliação multidimensional, na casa do centenário ou na instituição de longa permanência onde ele resida. São feitas, no mínimo, três visitas, com duração de, aproximadamente, 1 hora e 30 minutos.

A previsão é concluir o SC 100 em oito anos. A primeira etapa do levantamento está sendo realizada na Grande Florianópolis. Em seguida, a pesquisa terá continuidade nas outras cinco mesorregiões do estado. Até o momento, considerando um estudo inicial feito em 2010, já foram entrevistados 52 centenários.

As conclusões preliminares apontam que diversos aspectos influenciam na longevidade. "Além da alimentação, do nível de atividade física, dos hábitos de lazer e das condições psicológicas, consideramos a rede de apoio social. É muito importante a relação do cuidador com o idoso. Eles precisam ter atenção, se sentirem amados", disse a educadora física e doutoranda, Inês Amanda Streit.

A pesquisadora, que participa do Conselho Estadual do Idoso e da Associação Nacional de Gerontologia de Santa Catarina (ANG/SC), antecipa um perfil do idoso centenário. "De forma geral, eles têm boas condições mentais e poucas doenças, usam poucos remédios. Também percebemos que as atividades são mais restritas ao ambiente domiciliar. No aspecto psicológico, podemos adiantar que são pessoas resilientes, com a capacidade de superar problemas e perdas, que conseguem ter uma visão positiva perante a vida."

Outra particularidade é que a população com 100 anos ou mais é composta, em sua maioria, por mulheres. "É o fenômeno da feminização da velhice. E quanto mais avançada a idade, mais acentuada fica essa diferença. Por exemplo: na fase inicial do estudo, entre os 30 primeiros entrevistados, 25 eram mulheres e cinco, homens", comentou Inês.

Na avaliação da pesquisadora, programas de atividades físicas no ambiente domiciliar são uma estratégia adequada para a promoção da saúde dos centenários. "Vemos que o idoso centenário é esquecido pelo poder público. Ele precisa ter orientação sobre exercícios funcionais para fortalecer a parte física e, assim, continuar fazendo as atividades básicas do dia a dia. Esse modo de vida vai possibilitar mais autonomia ao idoso. Consequentemente, ele vai se sentir mais feliz", concluiu. Outra necessidade indicada é a oferta de capacitação e suporte aos cuidadores.

Na opinião de Luiz Nicolazzi Júnior, o segredo da longevidade é amar a vida. Com 100 anos completados no dia 9 de fevereiro, ele é um dos participantes da pesquisa. "A vida é boa para quem gosta dela. Meu conselho é querer o bem a todos, não ter inveja e nem raiva de ninguém. Durmo bem, como de tudo, levo a vida rindo e brincando, gosto de tudo na santa paz", falou. "Quando morrer, quero que botem na minha sepultura: 'Aqui jaz Luiz Nicolazzi Júnior. Foi contra a sua vontade'", acrescentou.

A família de Luiz é constituída por seis filhos, 20 netos, 26 bisnetos e seis trinetos. "Os filhos estão todos vivos. A mais velha tem 75 anos e a mais nova, 61. Me considero feliz. Pena que perdi a Elza há cinco anos, com quem fiquei casado por 71 anos. Sinto muito a falta dela."

Luiz exerceu diversas atividades ao longo da vida, mas a principal profissão foi marceneiro. Conserva em sua casa, em Florianópolis, vários móveis feitos com as próprias mãos. Natural de Laguna (SC), ele mudou-se para a capital há 15 anos, quando passou a morar com a filha, Terezinha Nicolazzi Brown. "Tenho uma vida muito boa. Minha filha está comigo, faz tudo por mim. Mas sou independente. Faço meu caça-palavras, caminho, tomo banho sozinho, vou ao banheiro. Quando precisar dos outros para fazer isso, quero ir embora."

Terezinha encara a tarefa de cuidar do pai como uma missão. "Nos entendemos muito bem. Comigo ele está tranquilo. É uma pessoa legal, não dá trabalho, faz as coisas sozinho. Também não reclama de nada. É muito companheiro, se preocupa com todo mundo. Às vezes fica meio teimoso, é estressante, mas é preciso ter paciência."

Ela reconhece que os cuidadores também precisam de atenção especial. "Fazemos tudo pelo idoso, e, às vezes, nos esquecemos da gente." Aos 67 anos, Terezinha procura cuidar da saúde e do bem-estar. "Faço hidroginástica, musculação e vou ao geriatra a cada três meses. Para me distrair, faço trabalhos manuais como tricô, crochê e bordado. É uma terapia."

 

Ludmilla Gadotti
Rádio AL

Voltar