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07/04/2021 - 07h52min

Especialistas debatem como manter o desenvolvimento do autista na pandemia

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Debate foi realizado de forma virtual e contou com tradução simultânea em Libras.

O desenvolvimento do autista em meio às restrições decorrentes da pandemia de Covid-19 esteve no foco dos debates realizados na Live promovida na noite desta terça-feira (6) pela Assembleia Legislativa e que reuniu lideranças e especialistas ligados à área da medicina e da educação especial.

O debate, realizado de forma virtual, foi promovido pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e contou com o apoio da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira da Alesc, Associação Catarinense de Autismo (Asca), e Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE).

Atuando como mediadora do debate, Catia Cristiane Purnhagen Franzoi, que preside a Asca, questionou os demais participantes sobre os cuidados que pais e responsáveis por autistas devem ter para promover uma melhor adaptação destas pessoas no ambiente domiciliar.

Marcos Petry, que é autista e atua como escritor e palestrante sobre o tema, afirmou que o principal desafio para este segmento da população atualmente tem sido reordenar a rotina dos seus afazeres diários, abalada pela pandemia.

Ele explicou que, devido ao isolamento social, muitas casas agora passaram a ter mais movimento de pessoas e alterações nos horários das atividades dos seus moradores, o que pode ocasionar cansaço emocional e frustração ao autista, menos adaptável a mudanças no seu entorno. “O autista marca essa rotina, principalmente os mais jovens, que tem mais dificuldades em se regular, ficam mais estressados”, disse.

Neste sentido, ele tem aconselhado aos familiares de pessoas com autismo a criarem ambientes mais convidativos e estabelecerem horários fixos para cada atividade.

O deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB), que é médico neurologista e na Assembleia Legislativa preside a Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, aconselhou, sobretudo, cuidados para proporcionar uma boa noite de sono ao autista.

Conforme explicou, cerca de 80% das pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) - nome técnico do autismo - já apresentam algum tipo de dificuldade em adormecer, índice que pode ser ainda maior atualmente, tendo em vista as mudanças acarretadas pela pandemia.

Além do cansaço e da irritabilidade, disse, a privação do sono pode ocasionar a exacerbação de algumas características do transtorno, como hipersensibilidade a sons ou comportamentos repetitivos, além de trazer graves prejuízos para a aprendizagem e retenção de memórias.

Neste sentido, ele aconselhou as famílias a ficarem atentas sobre o que incomoda e o que é bem aceito pelo autista, proporcionando-lhes ambientes calmos, sem a interferência de TVs ou celulares, alimentação prévia leve, e horário fixo para o início do descanso, especialmente entre as 7h30 e 8h30, em que disse que a produção de melatonina (hormônio que auxilia o sono) é mais prevalente.

Outro conselho é que se incentive o autista a dormir sozinho, para que seja estimulada a sua individualidade e autonomia.

“Eu poderia falar muito mais, mas acho que três palavras resumem tudo: rotina, paciência e carinho”, disse ao final.

Atenção ao ambiente e desenvolvimento da empatia
Já o psicólogo José Raimundo Facion, que possui doutorado no Departamento de Psiquiatria Infantil e atua como diretor do Instituto Nacional de Pós-Graduação e Eventos Acadêmicos (Inapea), afirmou não haver relação comprovada entre as restrições ocasionadas pela pandemia e o aumento dos casos de depressão, ansiedade ou problemas de socialização em autistas.

Para ele, tudo depende da forma como as famílias de autistas estão gerenciando seus ambientes domiciliares. “As exacerbações [de características típicas do TEA] podem estar surgindo não pela pandemia, pelo confinamento, mas pela estrutura social de mais barulho, de desestruturação familiar, que podem estar influenciando no comportamento”, disse.

O especialista também citou uma nova linha de pesquisa, que investiga a relação entre a alimentação do autista e o aumento de comportamentos como irritabilidade e hipersensibilidade.

Ainda que o estudo esteja em fase inicial, ele disse que em seus 23 anos na profissão verificou que um percentual elevado de portadores do transtorno sofrem de algum tipo de problema no trato intestinal, como alta produção de gases e prisão de ventre, e que em alguns casos uma mudança alimentar pode promover benefícios também na área comportamental.

“Investigando isso sob o aspecto não científico, mas de curiosidade, observamos que quando propusemos uma modificação no comportamento alimentar das crianças, que inicialmente não precisou ser dieta, mas uma diminuição de fosfatos - muito presente nas massas – e de lactose, observamos uma modificação interessante.”

Facion destacou ainda a importância de implementar tais cuidados durante o período da infância e adolescência do autista, para que este possa desenvolver melhor suas capacidades e tornar-se um indivíduo mais independente e integrado à sociedade. “Para que possamos colocar nossos meninos e meninas na fase adulta com mais autonomia, mais regulados, temos que lhes proporcionar uma educação mais assertiva, mais amorosa”, frisou.

Já o terapeuta ocupacional Fernando Calil, que é especialista em Neurologia e em processo avaliativo, reforçou a importância do ambiente e do meio social para o aprimoramento das funções executivas (ligadas à aquisição do conhecimento e das emoções) do autista.

Segundo ele, o autismo não é um impeditivo para a pessoa possuir algum grau de empatia, de aproximar-se emocionalmente dos outros, apenas acarreta dificuldade de processar e transmitir o que está sentido.

Esta faculdade, entretanto, pode ser trabalhada, disse, e para isso forneceu cinco conselhos: nomear as emoções para a criança desde os seus anos iniciais; reafirmar que as expressões faciais são importantes para a comunicação; destacar a entonação das palavras e expressões; promover a autoestima do indivíduo (os autistas se frustram muito rápido) e ensiná-la a expressar empatia.

“Então é importante manter esse diálogo, sendo construído entre terapeutas, famílias e esse ambiente, que tem que ser todo readaptado para que se possa trabalhar essas funções executivas."

Alexandre Back
Agência AL

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