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21/08/2020 - 19h33min

Especialistas abordam benefícios e desafios do aleitamento materno

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O 5º Congresso Catarinense de Aleitamento Materno prossegue nos dias 28 de agosto e 4 de setembro

“O aleitamento materno confere segurança emocional, estreitando o vínculo entre mãe e o filho, construindo um momento insubstituível. As carícias da mãe, ao amamentar, além de intensa sensação de prazer, vão progressivamente dando à criança a configuração do seu próprio corpo, permitindo o estabelecimento de limites do seu eu devido ao contorno que lhe é proporcionado pelo corpo materno.” Com essas frases o pediatra e presidente do Instituto da Primeira Infância (Iprede), em Fortaleza (CE), Sulivan Mota, abriu a primeira palestra do segundo módulo do 5º Congresso Catarinense de Aleitamento Materno, na tarde desta sexta-feira (121). O evento é uma promoção da Assembleia Legislativa, por meio da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira.

As palestras on-line, com o tema “O Universo da Mulher nos Dias Atuais”, reúnem profissionais renomados e tratam de temas diversos relacionados direta ou indiretamente à prática do aleitamento materno. Nesta sexta-feira, por mais de três horas, os participantes puderam assistir a quatro palestras de profissionais renomados especialistas em amamentação.

Além da pediatra cearense, que preside um dos maiores projetos de extensão da Universidade Federal do Ceará, que desde 1986 atua na prevenção e no tratamento de crianças com desnutrição e hoje é referência em primeira infância, falaram também a juíza do Trabalho Zelaide de Souza Philippi, que abordou os direitos e deveres das gestantes e lactantes à luz da nova reforma trabalhista, o coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano, João Aprígio Guerra de Almeida, referência mundial e a maior rede de bancos de leite humano do mundo e a fonoaudióloga Luciana Ferreira Cardoso Assuiti, que falou sobre amamentação sistêmica. O mediador do evento foi o pediatra e educador Cecim El Achkar.

Vínculo familiar
O pediatra e professor universitário Sulivan Mota defendeu que os primeiros anos da infância são os períodos críticos e de sensibilidade, ou janelas de oportunidades, quando o cérebro demanda um certo tipo de estímulo, para criar ou estabilizar algumas estruturas duradouras do ser humano. Para ele, depois só com muito esforço poderá ser aperfeiçoado essa pessoa. De acordo com o pediatra, o desenvolvimento infantil é a base do desenvolvimento humano. “Melhor atenção nos primeiros mil dias significa oportunidades maiores de sobrevivência, crescimento e desenvolvimento. O vínculo mãe e filho, na amamentação, favorece o desenvolvimento da inteligência, da personalidade e do comportamento social.”

Mota destacou que a amamentação estabelece a ligação mais íntima entre mãe e o bebê, satisfazendo as necessidades emocionais de ambos, oferecendo ao bebê garantia do equilíbrio interno. O médico observou ainda que não importa apenas dar o seio, o que importa é como o seio é dado e como as solicitações da criança são atendidas. “Não se incorpora apenas o leite da mãe, mas também sua voz, seus embalos e suas carícias.”

“No contato mãe-filho, amamentação, o seio constitui o primeiro objeto de amor e porto de partida para o desenvolvimento das relações. Desta forma o bebê pode introjetar a vida afetiva, espiritual e alimentar.” Mota lembrou ainda que com a amamentação ocorre a liberação do hormônio ocitocina, popularmente conhecido com o hormônio do amor. “Os animais que não produzem ocitocina ignoram seus filhotes, o que leva a crer que a amamentação, por um processo bioquímico, favorece o afeto da mãe pelo bebê.”

Segundo o pediatra, ao contrário da crença popular, o aleitamento materno torna a criança mais segura e permite seu crescimento social. “Bebês que não formaram vínculo com as mães passam a ter problemas de comportamento mais tarde na vida. Tendem a agir de forma hostil e agressiva.”

Direitos e deveres
A juíza do Trabalho Zelaide de Souza Philippi falou sobre os direitos e deveres das gestantes e lactantes à luz da nova reforma trabalhista. Ela explicou que atualmente a legislação brasileira garante que quem tem direito são as mães celetistas, empregadas domésticas, contribuintes individuais, seguradas especiais (rurais), contribuintes facultativas, servidoras públicas, trabalhadoras intermitentes, temporárias.

Em alguns casos, ressaltou, há exigência de carência, como exemplo as contribuintes individuais, no qual a lei exige pelo menos dez meses de contribuição previdenciária. Ela defendeu a ampliação da licença maternidade para 180 dias, que já vem sendo adotado por alguns estados, como Goiás, Espírito Santo e São Paulo, e já vem sendo concedido para servidoras federais. As empresas privadas que estão inscritas no programa “Empresa Cidadã”.

A magistrada enfatizou que quem paga a licença maternidade ou paternidade é a Previdência Social e não o empregador. Ela explicou que o empregador, em alguns casos, antecipa o pagamento, mas depois é ressarcido. Sobre a licença paternidade, a juíza lembra que inicialmente era de apenas um dia, depois em 1988, passou para cinco dias, mas desde 2006 foi ampliado para 20 dias com a Lei da Primeira Infância.

Falando sobre casos práticos, a juíza citou o exemplo do caso de um bebê falecer no parto, a mãe continuará a ter direito a licença maternidade, com a ressalva que se falecer antes da 22 ª semana, serão 15 dias, e depois 120 dias. Se a mãe falecer, o pai terá o direito à licença maternidade. Na avaliação da juíza, a reforma trabalhista retirou muitos direitos das mulheres gestantes e lactantes.

Banco de leite
O Brasil tem a maior rede de banco de leite humano do mundo, que há 35 anos vem desenvolvendo um trabalho de referência mundial. O coordenador da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR), João Aprígio Guerra de Almeida, falou da iniciativa, que conta com apoio do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz, com a missão de promover, proteger e apoiar o aleitamento materno, coletar e distribuir leite humano com qualidade certificada e contribuir para a diminuição da mortalidade infantil.

Em 2001, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a rBLH-BR como uma das ações que mais contribuíram para redução da mortalidade infantil no mundo, na década de 1990. De 1990 a 2012, a taxa de mortalidade infantil no Brasil reduziu 70,5%. Ele explicou que os bancos de leite humano são casas de apoio à amamentação, onde mulheres recebem suporte para superar obstáculos que possam estar impedindo a amamentação. Caso isso não seja possível, pode-se obter leite para bebês sem mãe ou cujas mães não conseguem produzir leite. No Brasil, há mais de 230 bancos de leite humano em funcionamento.

O coordenador afirmou ainda que o modelo brasileiro é reconhecido mundialmente pelo desenvolvimento tecnológico inédito que alia baixo custo à alta qualidade, além de distribuir o leite humano conforme as necessidades específicas de cada bebê, aumentando a eficácia da iniciativa para a redução da mortalidade neonatal.

Ele defendeu a mobilização social para promover o uso de leite materno doado para bebês que não podem ser amamentados diretamente por suas mães, contribuindo desta forma na redução da mortalidade infantil. Para João Aprígio, “o protagonista da história da amamentação é a mulher e não o leite, ou mesmo o filho. Nossa preocupação tornou-se a melhor forma de apoiar as mulheres para que elas possam amamentar seus próprios filhos.”

Amamentação sistêmica
A fonoaudióloga Luciana Ferreira Cardoso Assuiti fez uma palestra defendendo a integração da família no atendimento ao recém-nascido, da valorização de todos os membros familiares, num período de transformação grande no seio familiar, com a mulher assumindo o papel de mãe. Para ela, a inteligência sistêmica tem que ser uma postura diante a vida, que ajuda a compreender a vivência da outra pessoa.

Luciana reforçou que o aleitamento materno é o amor mais puro e que com esse ato torna a vida melhor, reforçando o relacionamento entre mãe e filho. Ela falou sobre os ciclos do amor, do livro Ordens do Amor, de Bert Hellinger. “A primeira coisa que aprendemos na vida é pedir, depois é servir, trocar, conduzir e fluir.”

Defendeu ainda que os profissionais de saúde têm que ter uma atitude de acolher as pessoas que estão pedindo ajuda, de acolher, ao atender as famílias gestantes. Que as famílias devem incluir a todos neste atendimento ao bebê, mas com cada um cumprindo seu papel. “A mãe, avó, sogra, pai....” Salientou ainda que deve haver um equilíbrio de troca, dar e receber dos familiares e que a mulher deve entender que ela deve estar conectada com ela mesma, mas que ela também pode pedir colo ao marido, mãe, sogra, avó.

Mais dois dias
O 5º Congresso Catarinense de Aleitamento continua nas próximas duas sextas-feiras, sempre das 14 às 16 horas. A TVAL transmite ao vivo o evento.

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