Especialista em neurologia abre palestras do Congresso sobre Autismo
A Assembleia Legislativa realiza nesta quarta-feira (5), por iniciativa da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em parceria com a Escola do Legislativo e a Associação Catarinense de Autismo (Asca), o 2º Congresso Catarinense sobre Autismo. O evento é alusivo à passagem do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, e tem como objetivos disseminar informações e esclarecer familiares e profissionais de diversas áreas, em especial da educação e da saúde.
O congresso está acontecendo no Auditório Antonieta de Barros, com lotação máxima (500 pessoas) e oferece, ao longo do dia, palestras com especialistas na temática. O médico neurologista Clay Brittes abriu a programação com a palestra “Autismo: aspectos clínicos e pedagógicos”.
Na abertura do evento, o deputado José Nei Ascari (PSD) destacou que o autismo é ainda um universo desconhecido. “Precisamos de ações e de políticas públicas, precisamos fortalecer as entidades e disseminar informações. O conhecimento, nesse processo, é fundamental. Por isso reunimos neste espaço aqueles que fazem a diferença e realizam o trabalho na ponta, que são os profissionais.” O deputado é presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência e autor da Lei 13.036/2013, que implantou em Santa Catarina a Política Estadual de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Silvio Dreveck (PP), prestigiou a cerimônia de abertura e destacou a contribuição do Parlamento à causa. Ele também enalteceu o trabalho das entidades que atuam em benefício das pessoas com autismo. Já a presidente da Asca, Cátia Cristiane Purnhagen Franzoi, registrou a expectativa positiva com a possibilidade de reunir especialistas renomados no assunto. “Muito ainda tem que se fazer pelas pessoas com autismo. Se a gente conseguir, cada vez mais, desmitificar esse assunto e fazer com que as pessoas compreendam o que é, daremos uma grande contribuição.” Na opinião dela, a maior carência das famílias e dos profissionais é saber como lidar com as pessoas enquadradas no espectro autista, sejam crianças ou adolescentes.
O cartunista Rodrigo Tramonte (36) está apresentando durante o congresso um livro de sua autoria: “Humor azul, o lado engraçado do autismo”. Na obra, ele aliou a experiência de desenhista a sua vivência como autista. Tramonte defendeu que “para tornar o autismo conhecido, acabar com o preconceito e abrir oportunidades às pessoas com autismo são necessárias duas coisas, ação e informação”. Ele sugeriu que os autistas e seus familiares entrem em contato com as entidades que atuam na área e participem de eventos e movimentos.
Especialista
Na primeira palestra do dia, o neurologista Clay Brittes deu uma aula sobre autismo, começando pela identificação dos principais sinais ou sintomas, já que o diagnóstico do autismo não é físico, mas comportamental. Conforme Brittes, todos os autistas possuem três características em comum – dificuldade de interação social; dificuldade de comunicação; comportamentos repetitivos e restritos.
Na opinião do especialista, um bom diagnóstico de TEA precisa ser garantido antes dos 3 anos. “Antes dessa idade, as intervenções levam a resultados mais eficazes e a gente tem condições de modificar de forma substancial as alterações na socialização, as dificuldades na comunicação e redução dos comportamentos repetitivos e restritos dessas crianças. Mas fazer o diagnóstico precoce requer conhecimento, ninguém faz diagnóstico de autismo se não conhecer os sinais, os sintomas, o perfil de comportamento, como a criança se desenvolve, quais são os déficits e desvios de desenvolvimento dela, os perfis de comportamento. Os problemas relacionados ao autismo devem ser de conhecimento de todas as pessoas”, enfatizou.
Brittes explicou que o autismo passou a ser estudado e pesquisado com mais ênfase somente a partir de 1970, por isso hoje tem-se a impressão de que os casos de autismo estão aumentando. O que havia, na opinião dele, era subnotificação, por falta de diagnóstico. Na década de 1970, acreditava-se que uma em cada mil crianças era autista. Hoje, nos Estados Unidos, a estimativa é de uma para cada 52 crianças nascidas. Mas existem fatores de risco que podem aumentar a incidência de autismo, e um deles é a idade dos pais. “Ser pai ou mãe depois dos 40 anos aumenta o risco. E as pessoas estão deixando para ter filhos mais tarde”, alertou.
Outros fatores de risco são história familiar de autismo ou outros transtornos psiquiátricos, TDH, transtorno de humor, deficiência intelectual e síndromes genéticas; e nascimento de criança prematura ou com baixo peso. “Uma forma de evitar é conscientizar as pessoas sobre esses fatores de risco.” Existem pesquisas em curso para verificar se o autismo tem alguma ligação com a utilização de agrotóxicos ou doenças crônicas maternas, mas a causa exata ainda é desconhecia. Os diagnósticos de TEA são mais comuns em meninos, em uma proporção de 4X1. “Ainda não se sabe por que aspectos genéticos ligados ao cromossomo X [das meninas] são um fator de proteção contra o autismo”, explicou Brittes.
O seminário prosseguirá no período da tarde, com uma palestra do educador Antônio Eugênio Cunha, sobre autismo e inclusão.
Agência AL