Enfermagem: especialista detalha princípios do parto não-invasivo
O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Enfermagem, Otávio Muniz da Costa Vargens, detalhou os princípios do parto não-invasivo em palestra no 2º Encontro sobre o Papel da Enfermagem Obstétrica Neonatal, que prossegue na tarde desta quinta-feira (5), na Assembleia Legislativa.
O primeiro princípio determina que a enfermeira obstetra não pode ser a protagonista do parto. “Quem faz o parto é a mulher, a enfermeira jamais deveria dizer ‘vou fazer o parto’. Vamos usar a expressão ‘vou cuidar das mulheres que estão parindo’, é assim que entendo a atitude de cuidado”, ensinou Vargens.
O segundo princípio propõe que parir não é apenas um fenômeno biológico. “Somos gente que cuida de gente, no caso de mulheres que estão vivenciando o parto, bem como de suas famílias. O parto é um evento familiar, não é simplesmente um fenômeno biológico, mas um fenômeno social, político, espiritual e econômico”, descreveu.
O terceiro princípio indica que o parto não precisa de controle, mas de cuidado. “Não podemos confundir cuidado com procedimentos, como se a realização de procedimentos fosse cuidar. Máquinas realizam procedimentos, equipamentos realizam procedimentos, mas não cuidam. Entendemos o cuidado como uma relação interpessoal em que os procedimentos técnicos são mediadores de um cuidado”, explicou o professor.
Já o quarto princípio impõe o respeito à privacidade e à integridade da mulher e do recém-nascido. “Estamos cuidando, não queremos invadir a natureza, a privacidade, o direito, o corpo da mulher: uma injeção na veia, um toque vaginal podem não ser invasivos, a diferença está na maneira como se faz. Assim, procedimentos invasivos somente devem ser usados com o consentimento da mulher, significa abrir mão do espaço de poder”, ponderou o especialista em parto não invasivo.
Desmedicalização
De acordo com o professor da UERJ, a enfermagem obstétrica não-invasiva deve enfrentar o desafio da desmedicalização, isto é, a redução do uso de medicamentos.
“Um caminho diferente significa pensar os fenômenos fisiológicos – puberdade, menstruação, menopausa – como eventos naturais. Precisamos entender os fenômenos fisiológicos como fenômenos naturais e não devemos interferir muito neles, porque quanto mais a gente interfere nos processos fisiológicos, mais transtornos criamos”, advertiu Vargens.
O pesquisador da UERJ citou o caso da menstruação irregular em adolescentes. “O que fazemos? Receitamos contraceptivos, mas quantas meninas de 14, 15,16 anos estão na contingência de se entupir de hormônios porque eu quis interferir? Nosso modo de pensar é contra o modelo medicalizado que sustenta a prática obstétrica atual, que é a patologização dos fenômenos naturais colocados”, criticou.
Para Vargens, o profissional de enfermagem obstétrica precisa mudar de postura e aprender novamente. "Para cuidar do outro sob a perspectiva desmedicalizada precisamos desaprender tudo e aprender uma coisa diferente! É muito difícil abrir mão do conhecimento que sustentou a nossa prática, por isso não jogamos fora o conhecimento que temos, mas rejeitamos como única verdade. Ao rejeitarmos nos propomos a buscar algo novo, que permita entender os fenômenos em outra ótica e cuidar em outra perspectiva”, argumentou Vargens.
Agência AL