Especialista defende que é preciso falar do aborto para quebrar tabu
Halana Faria de Aguiar Andrezza, ginecologista, defendeu a necessidade de falar sobre o aborto para mitigar o tabu que cerca o tema. A defesa ocorreu durante o 5º Congresso Nacional do Parto Humanizado, que começou nesta quinta-feira (22), na Assembleia Legislativa, em Florianópolis.
“Tive dois abortos espontâneos, precisamos falar de aborto enquanto isso for um tabu gigantesco, é fato da vida reprodutiva das mulheres, as mulheres sempre abortaram e continuarão abortando, de forma segura ou não, precisamos tirar o aborto da clandestinidade, do esquecimento”, insistiu Halana.
A ginecologista lembrou que o aborto já foi um ato de resistência, quando praticado por índias e negras escravizadas na época do Brasil Colônia.
“Abortar significava parar o clico de escravidão, precisa falar disso na mesa de jantar da família brasileira”.
Segundo Halana, hoje é seguro realizar um aborto medicamentoso.
“Muitas mulheres ficam com sequelas quando fazem de maneira insegura, mas é muito seguro realizar aborto medicamentoso. No Uruguai, que descriminalizou o aborto, as mulheres vão a uma unidade básica de saúde, têm cinco encontros com um profissional e 20% delas desistem de abortar. Dar acesso faz com que menos mulheres abortem”, sustentou a médica.
Aborto legal
Atualmente a lei brasileira prevê a possibilidade de aborto em três casos: estupro, risco de vida para a gestante e anencefalia.
“Não temos política de aborto seguro para os demais casos em que resolvem romper a gestação, mas qualquer gestação indesejada é uma causa de sofrimento físico e psíquico”, declarou a advogada Mariane Salvatti Mescolotto.
De acordo com Mariane, as principais vítimas do aborto inseguro são as mulheres pobres, negras, com faixa etária e escolaridade baixa.
Segundo a pesquisa Data SUS, 60% das mulheres que morrem após um aborto são negras. Ampliar o acesso ao aborto vai reduzir a mortalidade materna, é um indicador social muito importante, o aborto inseguro é uma causa de mortalidade e é uma causa evitável, se tivessem acesso ao aborto seguro as mortes diminuiriam”, argumentou Mariana.
Agência AL