Entidades querem garantir que surdos façam prova em libras para tirar CNH
A solicitação de apoio ao governo estadual para produção de vídeos em língua brasileira de sinais (libras) que atendam às necessidades dos surdos no processo de retirada da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) foi o encaminhamento proposto em reunião técnica realizada na manhã desta quinta-feira (29), na Sala das Comissões do Palácio Barriga Verde.
O encontro foi promovido pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa e reuniu representantes de associações de surdos, do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), da Fundação Catarinense de Educação Especial, do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência, da Associação Catarinense de Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais, entre outros.
A proposta é que sejam produzidos vídeos adaptados em linguagem de sinais, tanto como materiais para formação de condutores quanto para prova teórica a ser aplicada pelo Detran. “A intenção é produzir esse material, colocar em teste em dois polos – Joinville e Florianópolis – e depois implantar em todo o estado”, disse a assessora da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Janice Aparecida Steidel Krasniak.
De acordo com a gerente de Habilitação de Condutores do Detran, delegada Cláudia Regina Bernardi da Silva, o órgão estadual não possui um intérprete de libras em seu quadro de funcionários. Em decorrência disso, muitos surdos encontram dificuldades quando se candidatam a retirar a carteira de habilitação, pois não há uma ferramenta adequada para fazer a avaliação teórica.
A presidente da Associação de Surdos da Grande Florianópolis, Sandra Lúcia Amorim, comentou que o uso de libras no teste é a melhor forma de garantir o direito de acessibilidade.
Experiências
Durante a reunião, foram apresentados dois vídeos amadores elaborados pela Associação de Surdos da Grande Florianópolis e pela Escola do Legislativo da Câmara de Vereadores de Joinville. São projetos experimentais de adaptações em libras para materiais utilizados pelas autoescolas na formação de condutores e para a prova aplicada pelo Detran. “Esses vídeos mostram que é possível fazer um trabalho semelhante, é claro que aprimorado, para todo o estado, em benefício do segmento”, afirmou o vereador de Joinville James Schroeder.
O presidente da Escola do Legislativo da Câmara de Vereadores de Joinville relatou que o problema relacionado às complicações para obtenção da CNH foi identificado a partir do contato com alunos do curso gratuito de libras promovido pela instituição. “O Detran não tem uma prova específica para os surdos e as autoescolas também têm dificuldades de encontrar intérpretes que possam lecionar o curso de formação de motorista para a comunidade de surdos”.
Diante deste contexto, a Escola do Legislativo passou a oferecer desde o mês de setembro um curso de apoio todo ministrado em libras com o conteúdo oferecido pelas autoescolas. Recentemente, a instituição aplicou um teste semelhante ao do Detran aos 57 alunos do curso. “Inicialmente, a prova foi aplicada em português e, na sequência, as mesmas questões em libras. A avaliação comprovou que a compreensão e o resultado são muito melhores em libras. Percebemos que o problema realmente é desconhecimento do conteúdo, mas de interpretação da questão”, disse Schroeder. (Ludmilla Gadotti)