Encontro debate papel da enfermagem obstétrica na promoção da saúde
O aprimoramento da assistência prestada a mulheres, recém-nascidos e familiares é o principal objetivo do evento que reúne obstetrizes e enfermeiros obstetras nesta quinta-feira (1º), no Auditório Deputada Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa.
O encontro promove debates sobre avanços na prática da enfermagem obstétrica, qualificação profissional da categoria, políticas públicas voltadas à saúde de gestantes e puérperas, protagonismo das mulheres no parto e humanização do nascimento. A iniciativa é da Comissão de Saúde do Parlamento catarinense, em parceria com a Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira e a Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (Abenfo).
Para a deputada Ana Paula Lima (PT), proponente do evento, a Alesc tem contribuído na construção de leis e políticas públicas que asseguram direitos de atendimento humanizado à mulher e ao bebê. Ela citou como conquistas recentes a realização no Parlamento de dois congressos nacionais sobre parto humanizado. Além disso, destacou a legislação que permite a presença de doulas em maternidades e a que coíbe atos de violência obstétrica.
Na solenidade de abertura do evento, a parlamentar fez questão de ler um trecho do artigo “Cotidiano de exceção”, da colunista do El País Eliane Brum. “De acordo com o texto, ‘silenciar é o primeiro ato de desumanização do outro’. Como profissionais da saúde, não podemos silenciar. Que o preparo e o profissionalismo resultem no cuidado ao outro na prática do dia a dia. Os desafios são inúmeros. Enquanto tivermos uma mulher sofrendo, um bebê nascendo de forma inadequada, vamos ficar vigilantes.”
Por sua vez, o presidente da Comissão de Saúde da Alesc, deputado Neodi Saretta (PT), frisou a relevância da Rede Cegonha para o país. A estratégia implementada pelo Ministério da Saúde desde 2011 tem como finalidade estruturar e organizar a atenção à saúde materno-infantil no Brasil. “Ela deve ser mantida com o objetivo de melhorar a assistência e diminuir a mortalidade materna e infantil.”
Empoderamento de profissionais e gestantes
Os pronunciamentos da presidente da Abenfo/SC, Larissa Rocha, e da representante da entidade nacional, Maria Emília de Oliveira, foram pautados pela importância de debater o fortalecimento da categoria e a melhoria da qualidade da assistência a mulheres, bebês e familiares.
“É fundamental empoderar os profissionais em termos de autonomia junto à mulher e ao recém-nascido, principalmente na assistência ao parto. Isso vai refletir no empoderamento das mulheres para que possam parir como e onde quiserem, de forma humanizada”, disse Maria Emília.
Desafios
A promoção da maternidade segura requer, segundo a presidente da Abenfo nacional, Kleyde Ventura de Souza, a efetiva participação de obstetrizes e enfermeiros obstetras. Conforme a professora doutora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, os profissionais podem colaborar na constituição de uma rede de cuidados cuja premissa seja a atenção humanizada e baseada em evidências científicas a fim de melhorar a experiência da mulher e da família no processo de gestação, parto e pós-parto.
A palestra realizada por videoconferência tratou dos desafios da enfermagem obstétrica no Brasil e no mundo. Na avaliação de Kleyde, o modelo assistencial está em fase de transição. “Tivemos avanços, mas ainda há desafios a serem superados, como as taxas elevadas de cesarianas no país, considerada uma das maiores do mundo. É uma situação preocupante, pois mais da metade dos brasileiros nasce assim. A falta de protagonismo da mulher no parto é um dos defeitos mais marcantes no modelo vigente.”
Para a presidente da Abenfo, a reconfiguração do modelo de assistência ao parto está atrelada à qualificação profissional. “Essa transição passa por uma reorganização, que envolve o fortalecimento do SUS, a capacitação dos profissionais da área da saúde, a incorporação de tecnologias não invasivas de cuidado. Precisamos resgatar o parto com segurança, livre de violências e traumas para mulheres e crianças.”
Parto humanizado na Casa Angela
Na sequência, a enfermeira obstetra Caroline Iguchi apresentou ao público a experiência da Casa Angela como um modelo bem-sucedido de atenção obstétrica.
Trata-se de um centro localizado em São Paulo que oferece assistência humanizada ao parto natural em ambiente acolhedor e respeitoso. De acordo com a palestrante, os cuidados oferecidos na Casa Angela promovem autonomia, bem-estar e conforto da mulher e sua família, além de garantir a segurança da mãe e do bebê.
Parto domiciliar
A recente divulgação de nota técnica que libera o fornecimento e controle da utilização de Declaração de Nascido Vivo (DNV) para partos realizados em domicílio no estado também ganhou repercussão no encontro. O assunto foi levantado pela representante do Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren/SC), Angela Blatt Ortiga, e pela coordenadora estadual da Saúde da Mulher, Maria Simone Pan.
“O local mais adequado para o nascimento de um bebê deve ser uma decisão da gestante. Verificamos que o número de partos domiciliares planejados vem crescendo. E as equipes precisam estar preparadas para esse atendimento”, acrescentou a deputada Ana Paula.
A conselheira também comemorou o aumento significativo de enfermeiros obstetras registrados no Coren. “De 2016 a 2017 passamos de 15 para 150 profissionais inscritos”, anunciou Angela.
Programação
O 1º Encontro sobre o papel da enfermagem obstétrica, neonatal e obstetrizes na saúde catarinense segue até sexta-feira (2), com palestras, oficinas, reuniões, exibição de filme e a cerimônia de posse da Comissão de Parto Domiciliar Planejado da Abenfo/SC.
Confira a programação completa no site da Escola do Legislativo.
Rádio AL