Em audiência, pequenos agricultores pedem anistia ou suspensão do pagamento de dívidas rurais

Anistia ou suspensão do pagamento das dívidas agrícolas foram as principais reivindicações dos pequenos produtores rurais que participaram, na manhã de sábado (16), da audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura e Política Rural da Assembleia Legislativa, no CTG Mate Amargo, em São José do Cedro, no Extremo Oeste. O evento foi acompanhado por aproximadamente 300 pessoas, entre agricultores familiares, prefeitos, vereadores e membros de entidades ligadas à agropecuária. O encontro foi proposto pelo deputado Plínio de Castro (PP), com o objetivo de discutir o endividamento dos agricultores do Oeste catarinense, que se agravou com a estiagem do último verão. Para o parlamentar, as medidas já anunciadas pelo governo para enfrentar o problema não atenderam as expectativas. “Precisamos fazer aparecer as nossas necessidades, nos unir e unificar a proposta para podermos salvar os pequenos produtores”, afirmou. Segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina (Fetaesc), José Walter Dresch, pelo menos 32 mil famílias estão em situação complicada por causa das dívidas. Para o coordenador da Fretaf Sul, Alexandre Bergamin, além da estiagem, que se repetiu em oito dos últimos 12 anos, o alto custo do atual modelo de produção e o baixo preço dos produtos agrícolas também colaboram para tornar a realidade econômica da agricultura familiar ainda mais complexa. O encontro teve ainda participação do Senar/Faesc, do Sindicato dos Pequenos Agricultores de São José do Cedro, Princesa e Guarujá do Sul, da Associação dos Suinocultores, do Sindicato da Agricultura Familiar de São José do Cedro, da Cresol, da Secretaria de Desenvolvimento Regional de Dionísio Cerqueira, Banco do Brasil, além do prefeito de São José do Cedro, Renato Broetto. Reivindicações Os agricultores pediram anistia ou alongamento no prazo para o pagamento das dívidas ou ainda um desconto no total dos débitos. Muitos lembraram que as dívidas vêm se acumulando há anos e a estiagem mais recente apenas agravou a situação e criticaram o governo federal, por dar atenção a setores da indústria, como a automotiva, e não oferecer o mesmo tratamento à agricultura familiar. O presidente da Câmara Municipal de Guarujá do Sul, Carlos Possatto, afirmou que, apesar das várias linhas de crédito disponibilizadas para o pequeno agricultor, falta recurso para capital de giro. Já a agricultora Sandra Bergamin, de Cordilheira Alta, chamou a atenção para o excesso de exigências para a concessão do seguro rural e para os altos custos de produção. “É um modelo que precisa ser rediscutido, de tal forma que a renda produzida fique na propriedade”, afirmou. Na audiência, os produtores também alertaram para a situação delicada enfrentada pela suinocultura, que sofre com o alto preço dos insumos, principalmente o milho, conforme foi lembrado pelo vereador de Arabutã, Hélio Losch. A entrada de leite do Uruguai, derrubando o preço do produto catarinense, é outra preocupação do setor. Encaminhamentos O deputado Mauro de Nadal (PMDB), que presidiu a audiência, anunciou a criação de uma comissão, formada por representantes da Assembleia, do governo estadual, federações ligadas à agricultura e outros órgãos, que será responsável por levar ao governo federal o pedido para suspensão do pagamento das dívidas dos agricultores atingidos pela estiagem e a disponibilização de capital de giro para o pequeno produtor. “Esta é uma luta permanente, mas que precisa agora de definições rápidas, porque há dívidas que vão vencer nas próximas semanas e muitos produtores não sabem como vão pagar”, lembrou. Especificamente sobre a prevenção aos efeitos da estiagem, Nadal lembrou que a Assembleia realizará três audiências públicas para discutir o destino dos R$ 60 milhões do BNDES obtidos por meio de uma emenda parlamentar. O deputado Daniel Tozzo (PSDB) defendeu meios de devolver a renda produzida pelos pequenos agricultores para o campo. “Já há estudos apontando a falta de alimentos no futuro, o que transforma a profissão de produtor rural na mais importante do mundo”. Já Maurício Eskudlark (PSD) chamou a atenção para a relevância da audiência e para o grande número de agricultores presentes. “É importante quando há essa participação dos agricultores. Demonstra a nossa força e nos dá mais condições de reivindicar”, disse. (Marcelo Espinoza)