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29/07/2014 - 14h29min

Desilusão com política reforça necessidade de reformas, acredita professor

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Valmir dos Passos, professor de Ciências Sociais da Unisul. FOTO: Solon Soares/Agência AL

A descrença do eleitor catarinense com a política, aliada ao desinteresse cada vez maior com as eleições, reforça a necessidade de uma reforma no sistema eleitoral brasileiro. É o que defende o professor de Ciências Sociais da Unisul Valmir dos Passos, entrevistado pela Agência AL, TVAL e Rádio AL. “A crise de representação está muito ligada à forma como se faz hoje política”, resumiu.

Para ele, a descrença atinge principalmente os jovens, que, na sua avaliação, têm demonstrado cada vez menos interesse pelo processo eleitoral. “A crítica que podemos observar nesse grupo social é muito despolitizada, que demonstra muito pouco conhecimento da forma como funciona o sistema político eleitoral”, pondera.

Passos acredita que a reforma política é apenas uma das mudanças necessárias para se resolver a chamada crise de representação. “Em última instância, se as instituições não fizerem essa reforma, as ruas vão fazer”, alertou.

O que o eleitor catarinense busca nas eleições? Que tipo de mudanças procura? Que tipo de candidato ele prefere?
O eleitor catarinense, como o brasileiro de modo geral, tem uma imagem muito ruim da política. Mostra um descontentamento muito grande com os serviços públicos e o que ele quer é ver melhorias ou pelo menos um movimento que se encaminhe na direção de reformas importantes. Tanto da prática política, o que podemos colocar no âmbito da ética, da moralidade, do uso do dinheiro público, quanto da eficiência, ou seja, investimentos que efetivamente melhores serviços públicos, como a saúde, quanto da educação, segurança e transporte coletivo. Então o eleitor catarinense, nesse sentido, não difere daquilo que se vê nas pautas e reivindicações do eleitor brasileiro. Uma política com maior eficiência na resposta dos serviços públicos, essencialmente isto.

O que as manifestações do último ano poderão provocar nas eleições de 2014?
As manifestações do ano passado tiveram um impacto muito grande no sistema político. Até porque o caráter central foi de uma repulsa, de uma denúncia das práticas que vêm se consolidando no sistema político brasileiro. E os partidos políticos, como um ator central do sistema político eleitoral, foram o alvo principal das críticas. Movimento teve até mesmo caráter apartidário, de crítica ao sistema partidário muito forte. A eleição é um evento que tem os partidos políticos como ator principal. Então eu vejo para essa eleição um adensamento desta crítica aos modelos de coligação, as formas como se fazem os acordos políticos, o fator ideológico se dissipando dentro de um pragmatismo muito acentuado dentro da política. Eu penso que essa eleição vai ter esse caráter crítico muito forte da população que foi reforçado pelas mobilizações de 2013.

O que o eleitor jovem espera dos candidatos que serão eleitos em outubro?
Renovação e mudança, sim. No entanto, é um público que está muito descrente do sistema eleitoral e partidário. E a eleição, como frisei, é um evento essencialmente partidário. Vejo-os olhando para a eleição com descrédito e desesperança. As pesquisas têm demonstrado isso e os índices de registro de jovens na Justiça Eleitoral comprovam esse afastamento. Eles querem mudança, transformação, mas não vêem nos partidos, lideranças atuais, no sistema eleitoral uma possibilidade disso acontecer. O que é muito ruim, extremamente negativa, que deve ser vista com muita preocupação tanto pelas lideranças políticas, autoridades, pois nosso sistema institucional só pode se reorganizar, se renovar, por essa forma, que é a organização partidária. Fora dos partidos políticos há poucas opções. Podemos caminhar para a forma de representação direta, a democracia participativa, mas esses processos não podem substituir o sistema eleitoral que nós temos, só mudá-lo. Mas essas mudanças só podem ser feitas pode dentro das instituições, não por fora.

O jovem está mostrando maior interesse pelo processo eleitoral?
Não, infelizmente não. A crítica que podemos observar nesse grupo social é muito despolitizada, que demonstra muito pouco conhecimento da forma como funciona o sistema político eleitoral. Há uma repulsa, mas dentro dela há um vazio, sem conteúdo ou consistência. É preciso conhecer mais. A crítica se qualifica na medida em que se conhece o que se está analisando. E não é isso o que se verifica. O jovem conhece muito pouco sobre política.

O voto do jovem pode representar alguma mudança nos resultados das eleições deste ano?
Do ponto de vista demográfico sim, sem dúvida, já que constitui um núcleo importante do eleitorado. Mas na medida em que se desmobiliza, se distancia e rejeita, comete um erro, o que é algo contraditório rejeitar tudo, já no Brasil mais de 30 partidos políticos, que abrangem um leque enorme do ponto de vista ideológico, desde a extrema esquerda até a extrema direita, passando por partidos religiosos, ambientalistas. O jovem, se conhecesse um pouco melhor esse conjunto de opções partidárias, poderia encontrar um caminho no sentido de mudar, renovar as práticas partidárias. Mas ele prefere simplesmente o distanciamento. Ele se afasta e diz ‘nada disso presta’, então fica um discurso sem conteúdo. Condição de mudar, de ser um ator importante ele tem, mas pra isso ele precisa interagir, num sentido propositivo, fazer parte da eleição. Ficar de fora apenas num denuncismo, sem conteúdo, muda muito pouco. O fato é que vamos eleger representantes para todos os cargos, todos os governos serão constituídos. Nenhum cargo eletivo ficará desocupado simplesmente por causa críticas vazias.

A despolitização dos jovens é um reflexo de problemas no sistema educacional?
Acredito que o sistema educacional seja parte desse ambiente de desqualificação do sistema político, assim como a mídia. Sobretudo a mídia tradicional, comercial, que tende a focar sempre os aspectos negativos da política, muitos deles menores, sem relevância, deixando de prestigiar trabalhos importantes dos poderes constituídos. Sobretudo dentro do Poder Legislativo, que é o alvo preferencial dessa desqualificação da política. Evidente que temos muitos problemas, temos muitos parlamentares que não honram a cadeira que ocupam. Mas acredito que há uma sobrevalorização de aspectos negativos e ao mesmo tempo deixa-se de dar o devido valor ao trabalho institucional dos poderes constituídos. Acho que a mídia faz muito isso e as escolas muito pouco no sentido de demonstrar o contrário, o quanto é importante o funcionamento das instituições.

Desde a primeira eleição para presidente depois da redemocratização até hoje são 25 anos. É correto afirmar que o interesse nas eleições hoje é muito menor do que em 1989? O que deu errado de lá para cá?
Sim, concordo que o interesse é menor e que esse conteúdo se esvaziou. Quando olhamos as grandes mobilizações de junho de 2013, quando vamos tentar apurar um conteúdo ali, vemos que é muito ralo, muito escasso. Se compararmos com as mobilizações para a redemocratização, as lutas pelas eleições diretas, veremos lá muito mais conteúdo, um sentido político muito mais intenso. Nesse sentido, não tenho dúvidas que houve uma desmobilização. O que teria dado errado? Veja, acho que na medida em que a sociedade vai acumulando frustrações em relação as expectativas de governo, a gente ainda convive, ainda que pese o país ser o quinto ou sexto em produção econômica do mundo, com situações inaceitáveis no transporte, sistema de ensino, enfim, essas expectativas frustradas somadas a práticas políticas, digamos, muito pouco republicanas, vão afastando o grande público do processo eleitoral.

Por outro lado, é preciso entender que numa luta pela redemocratização, somam-se muito mais argumentos para a luta política. Lutar contra o arbítrio, a tortura, lutar por ter eleições mobiliza muito mais. Quando se começa a dissipar essa luta por melhorias aqui e ali, etc., perde-se os grandes vetores para da luta. Há uma certa dispersão de conteúdo, também de pautas e as mobilizações dos último ano mostraram muito isso.

Diante desta falta de interesse e crise na representação, qual o principal desafio para reverter esse cenário?
Sem dúvida é a reforma política, que penso ser fundamental. A presidente da República no ano passado, quando chamou ao Palácio todos os governadores e prefeitos de capitais no auge da crise, fez um diagnóstico correto dizendo ser necessário fazer a reforma política. Não que esta reforma sozinha vá resolver todos os nossos problemas. A crise de representação está muito ligada à forma como se faz hoje política. Principalmente desse quadro de enorme interferência do poder econômico nas eleições, esse sistema de alianças não verticalizado. O eleitor vê com extrema dificuldade esse negócio de mudar de município e as coligações mudam completamente. Num estado é assim, em outro estado é outro. Nesse momento no Brasil, fechadas as coligações, fica evidente o que se está chamando de uma festa de coligações.

A reforma política é um passo essencial para se reconstruir a representação política no Brasil, para se dar credibilidade ao nosso sistema institucional. E há uma outra preocupação: se essas reformas não vierem, e o que tudo indica é que não ocorrerão,  pois a resposta ao próprio apelo da presidente foi com críticas como ‘Esse negócio de reforma tem interesses escusos, de um partido ou de outro’. Essa falta de um mínimo de consenso vai esticando a corda e o que vimos no ano passado foi a possibilidade de rupturas no tecido social. Em última instância, se as instituições não fizerem essa reforma, as ruas vão fazer.

Eleições 2014 na Agência AL
Desde a semana passada, a Agência AL, em parceria com a Rádio AL e a TVAL, veicula reportagens especiais sobre as Eleições 2014. As matérias abordam assuntos como o voto biométrico, a participação feminina no processo eleitoral, os preparativos da Justiça Eleitoral para o dia da votação, entre outros. Todo o material produzido pela equipe da Agência AL, incluindo imagens e infográficos, está disponível para uso editorial.

Alexandre Back
Agência AL

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