Deficientes visuais têm dia de superação em meio à natureza
O que poderia ser mais improvável do que encontrar um grupo de pessoas com deficiência visual em meio a uma plataforma montada na copa das árvores, a 12 metros de altura? Contrariando o senso comum, de que os esportes radicais, aqueles que envolvem um maior grau de risco e controle emocional, são apenas para esportistas e pessoas em perfeito estado físico, a Associação Catarinense para Integração do Cego (Acic) promoveu na manhã de quinta-feira (29) uma sessão de arvorismo para os seus integrantes.
A aventura, realizada em uma das maiores pistas do tipo no Sul do país, aconteceu no município de Santo Amaro da Imperatriz e contou com 18 participantes, sendo cinco cegos e 13 com baixa visão, além de sete instrutores e voluntários, que os acompanharam durante todo o percurso.
Segundo o educador físico da Acic, Igomar Zucchi, a iniciativa faz parte do projeto “Esportes de Aventura”, que já promoveu atividades como trilhas, rafting, paredão de escalada, sandboard e rapel. A proposta, disse, é utilizar o esporte como instrumento de apoio à reabilitação e inclusão social. “Muitas pessoas que perderam sua visão chegam na Acic desmotivadas, alimentando a ideia de que não poderão mais realizar certas atividades. Por meio do esporte, conseguimos alterar esta concepção. O resultado para a autoestima deles é maravilhoso, o que reflete diretamente no progresso da recuperação.”
O projeto não recebe recursos financeiros, mas conta com parcerias como a da empresa Tartarugas Turismo de Aventura, que oferece o serviço sem custos para o grupo, e também do Corpo de Bombeiros Militar, que disponibiliza o transporte. “Mesmo para quem enxerga perfeitamente, concluir essa pista envolve muitas dificuldades e uma boa dose de superação. Vê-los percorrer esses obstáculos e ultrapassar seus limites é muito gratificante e uma experiência de vida muito grande também para a nossa equipe”, destacou Paulo Cesar Dalpiva Delmonico, sócio-proprietário da Tartarugas Turismo de Aventura.
Gosto pelo desafio
A pista com 22 obstáculos montados entre as árvores, cujo percurso dura em média duas horas, não foi, afinal, uma barreira intransponível para o grupo, que em sua rotina diária geralmente se depara com muitos outros desafios, como a falta de transportes adaptados e de acessibilidade em calçadas e prédios públicos.
“Não tenho medo, pois adoro novidades e esses são só mais alguns obstáculos a serem ultrapassados”, disse Maximiliano Teixeira, de 47 anos. Natural do Rio Grande do Sul, ele conta que a perda da visão, há 20 anos, em decorrência do diabetes, o forçou a reaprender até mesmo coisas tidas como básicas, como andar e usar os sentidos.
O gosto pela adrenalina também foi expressado pela amapaense Eva de Jesus Pereira, de 36 anos, que nasceu com má-formação do nervo ótico e possui somente 10% de visão. “Apesar do nervosismo inicial, esse é um desafio que eu gosto, pois me estimula muito.”
Agência AL