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25/05/2017 - 13h51min

Currículo comum privilegia a padronização em detrimento da diversidade e singularidade

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FOTO: Solon Soares/Agência AL

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação infantil e fundamental privilegia a padronização do ensino em detrimento das diversidades que caracterizam o país . “A BNCC propõe um modelo de formação humana com identidades serializadas e padronizadas, com eliminação das diferenças e das singularidades, fazendo com que a identidade étnica ou a origem social dos alunos passem a ser encobertas”, criticou o doutor Willian Simões, professor de Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), durante seminário realizado nesta quinta-feira (25) no salão paroquial de São Carlos, às margens do rio Uruguai, no Oeste do estado.

De acordo com Simões, os conteúdos previstos na BNCC estão a serviço de competências, isto é, da capacidade do aluno mobilizar e aplicar conhecimentos. “Gente é o super-professor e o super-aluno em uma super-escola, no primeiro momento isso cai como uma utopia, mas a sociedade está dividida em classes, as pessoas não são as mesmas, há uma diversidade de estruturas (escolas) e de formação de professores”, destacou Simões.

Um dos objetivos da BNCC, segundo o professor da UFFS, é capacitar o aluno a aprender sozinho. “Ocorre quando ensino o aluno a ser proativo, a ser cada vez mais capaz de entender sozinho, então ele não precisa da mediação do professor, é como ajudar a ser pesquisador”, informou Simões, que enfatizou o viés individualista da proposta. “Em uma sociedade que se individualiza, a educação começa a se alinhar com isso, é mais importante aprender um método do que aprender os conhecimentos”, pontuou o professor.

Além disso, a BNCC persegue uma educação funcional. “O modelo privilegia o que tem funcionalidade para a criança, aquilo que é necessário para uma sociedade dinâmica, com conhecimentos provisórios, criando as condições para uma sociedade do agora”, explicou Simões, que contrapôs a solidariedade à resiliência. “Uma sociedade solidária precisa pensar no coletivo, no conjunto de pessoas, já a resiliência é uma capacidade de superar os obstáculos por si mesmo, sem o apoio da escola, ‘não e preocupe, você vai ser alguém na vida, mesmo ganhando salário baixo você vai encontrar alguma coisa motivadora que vai te levar a superar os desafios’”, ironizou Simões.

Nilce Schmitz, professora de Inglês da escola municipal Mário Xavier dos Santos, da linha São João, em São Carlos, discordou da padronização instituída pela BNCC. “Como os professores deram a sua opinião e participaram da elaboração da BNCC, acabaram corroborando ações que nem sequer cogitamos discutir, no nosso município temos dois projetos que valorizam a cooperação e a solidariedade em sala de aula, podem esquecer que na minha aula vou deixar de fazer isso, vamos continuar do jeito que estamos fazendo”, avisou a professora.

Exemplo de padronização da BNCC
O professor Willian Simões citou as competências específicas da Geografia para o 4º, 5º, 6º e 7º anos. “O quarto ano compreende o sujeito e o seu lugar no mundo, território e diversidade cultural. Então o aluno tem de ser capaz de selecionar em suas histórias familiares componentes de culturas afro-brasileiras, indígenas mestiças e de migrantes”, exemplificou Simões.

No quinto ano o aluno terá de ser capaz de identificar diferenças étnico-culturais, bem como desigualdades sociais entre grupos em diferentes territórios. No sexto ano desenvolverá a competência para analisar modificações na paisagem provocadas por diferentes tipos de sociedade, com ênfase para os povos originários.

Já no sétimo ano o estudante deverá, através de exemplos extraídos dos meios de comunicação, avaliar ideias e estereótipos acerca das paisagens e da formação territorial do Brasil. “A BNCC representa a possibilidade de se criar um nacional homogêneo, comum, único, mas desconsiderando as adversidades e singularidades locais”, frisou o professor, acrescentando que a BNCC segue “uma lógica muito próxima da lógica empresarial”.

Seminário concorrido
Mais de 200 professores das redes municipal e estadual de Palmitos, Águas de Chapecó, Cunhataí, Planalto Alegre, Saudades, Caxambu do Sul, Cunha Porã, Caibi e São Carlos participaram da discussão sobre a Base Nacional Comum Curricular. O seminário foi promovido pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, representada pelo deputado federal Pedro Uczai (PT/SC), além da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, presidida pela deputada Luciane Carminatti (PT), e da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira.

Vítor Santos
Agência AL

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