/
Consultor de saúde defende ampliação dos espaços livres do cigarro
Para o consultor de saúde da Rede Globo, Luiz Fernando Correia, as políticas que restringem os espaços físicos nos quais é permitido fumar são determinantes na diminuição dos casos de câncer derivados do uso do tabaco. Ele citou o caso da Finlândia, que adotou políticas restritivas e criou espaços livres do cigarro. Em 1960, 58% dos homens fumavam, enquanto em 1976 apenas 28%. Em contrapartida, a incidência do câncer de pulmão caiu de 80 casos a cada 100 mil finlandeses em 1960, para 32 em 1976.
O consultor participou na manhã desta sexta-feira (2), no Hotel Cambirela, do IV Encontro Brasileiro de Portadores de Câncer e do VII Encontro Catarinense da Mulher Mastectomizada, organizado pela Associação Brasileira dos Portadores de Câncer (Amucc), cuja sede é em Florianópolis.
Segundo Correia, “proibiu-se o fumo nas empresas, mas foi na hora que acabou o fumódromo que caiu o número de fumantes”. Ele afirmou que as políticas restritivas criaram nos países e cidades que as adotaram quarteirões livres do cigarro. “Com as restrições legais, não têm espaços para fumar, diminui o consumo e a vontade de fumar passa”, argumentou Correia.
O consultor afirmou que o câncer mata metade dos fumantes. “Eles ficam chateados quando dizemos isso, mas é a verdade”, explicou, acrescentando que o consumo do tabaco é responsável por 22% das mortes por câncer e por 71% do câncer no pulmão. “Se todo mundo parasse de fumar, um terço dos tumores sumiriam no médio prazo”, comparou.
Porque não consigo parar de fumar?
Para responder a pergunta, Correia levantou três hipóteses acerca das dificuldades para parar de fumar: a dependência química; receio de assumir riscos; satisfação de mecanismos de recompensas. Para demonstrar que a dependência química por si só não explica as dificuldades de parar de fumar, o consultor citou casos, bastante comuns, de pessoas que deixam de fumar do dia para noite. “A dificuldade não está só na parte química”, afirmou.
Segundo Correia, também não há falta de informação, uma vez que pesquisas demonstram que o fumante está bem informado sobre os riscos do vício. Já a personalidade do fumante também é um fator que tem influência no sucesso ou fracasso em parar de fumar. “Os fumantes estão no grupo avesso ao risco”.
Entretanto, conforme Correia, o problema também está na recompensa física/psicológica que o cigarro proporciona ao usuário. Neste contexto, frisou o consultor, as políticas de restrição de espaços em que é permitido fumar criam dificuldades reais aos fumantes, que acabam fumando menos e até parando. Para explicar a consequência prática das restrições sobre o consumo, Correia citou um dito popular, “espera um pouquinho, que vontade dá e passa”.
Um caso real na plateia
“Travo uma batalha diária, com gastos consideráveis e o que consegui foram 18 dias sem cigarro. Já parei de fumar em todos os dias da semana, só falta o sábado. Acredito que minha dificuldade é a dependência química. Essa história de ‘vontade dá e passa’, daqui cinco minutos vai dar de novo e vai te enlouquecendo. Entendi o mecanismo de recompensa como algo que vai substituir o cigarro”, ponderou um homem de cerca de 50 anos, que preferiu não se identificar.
Correia respondeu que apenas 15% dos que tentam para de fumar têm sucesso. “Um grande grupo vai recair e vai ter de começar de novo. Vontade dá e passa’ é mais um argumento de como é importante a restrição”, explicou, agregando que as empresas teriam um ganho financeiro com o seguro saúde se fizessem o gerenciamento do risco dos seus empregados. “Todas criariam um programa para os funcionários parar de fumar”, ensinou.
Outro caso real
“Sou ex-fumante. Queria parar desde o primeiro dia. Com as medidas restritivas que têm hoje não teria começado. Passei por mil recaídas, é um processo longo, até criei um blog. O jeito é encontrar um processo dentro de si mesmo e não ter vergonha de pedir ajuda. O homem tem maior dificuldade para pedir ajuda. Dar esse passo já é um grande caminho andado, a cada recaída você está um passo mais perto, desde que você não desista disso”, contou Paula Johns, diretora executiva da Aliança de Controle de Tabagismo, do Rio de Janeiro.
Segundo Correia, “tá na hora de mudar tudo”
“O terceiro setor precisa atuar de maneira mais ativa. Está na hora de invadir o sistema e mudar tudo. Não adianta, limite de pressão existe e tem de ser exercido. E para exercer a democracia tem de participar, articular, fazer o que eles fazem, a indústria do tabaco e os governantes que não estão preocupados com isso. Você pode convencer o governante, pode, mas estando ali dentro, participando nos conselhos, você joga o jogo deles, contra eles. Só resolve articulando, mesmo”.
A importância da divulgação na mídia
Correia recomendou que o terceiro setor tem de transformar o trabalho em notícia. “Só vai chegar no jornal se for com cara de notícia. Posso ser até grosseiro, mas por mais meritório que seja o trabalho, só vai chegar na mídia se virar notícia”.
Cânceres associados ao consumo de tabaco
Pulmão, laringe, boca, garganta, rins, bexiga, pâncreas, estômago, colo de útero e leucemia mieloide aguda.
Agência AL
