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23/09/2013 - 18h42min

Comissão Estadual da Verdade ouve jornalistas e historiadores

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Objetivo da audiência foi colher informações sobre as prisões políticas ocorridas durante a Ditadura Militar. FOTO: Carlos Kilian/Agência AL

A Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright ouviu, na tarde desta segunda-feira (23), o depoimento de jornalistas e historiadores que elaboraram pesquisas ou trabalhos acadêmicos sobre as prisões políticas ocorridas durante o período da Ditadura Militar (1964-1985). O objetivo da audiência pública foi colher mais informações para o trabalho da comissão, que investiga as violações contra os direitos humanos cometidas nesse período.

O primeiro a ser ouvido foi o historiador Maikon Jean Duarte, que trouxe informações sobre as prisões políticas ocorridas em Joinville, no norte do estado. Ele mostrou como a ligação entre a classe empresarial joinvilense, o poder público municipal e o Exército em defesa do regime militar. Duarte destacou que a Fundição Tupy, uma das maiores empresas da cidade à época, serviu de espaço para defesa e propaganda dos ideais do golpe de 1964.

“Toda essa história é muito silenciada, porque incomoda muita gente”, afirmou o historiador. “O mais absurdo é que figuras que permitiram ou foram coniventes com as violações dos direitos humanos são enaltecidas. Essa é a maneira que a história está sendo contada”.

Operação Barriga Verde
O jornalista e escritor Celso Martins, autor do livro “Os Quatro Cantos do Sol – Operação Barriga Verde”, trouxe informações sobre a operação militar que resultou na prisão de 42 pessoas, segundo dados oficiais, em novembro de 1975.  O objetivo foi desarticular o Partido Comunista do Brasil em todo o Brasil, por isso, a operação foi realizada em outros estados.

“Pela primeira vez, a tortura foi utilizada de forma abrangente e sistemática em Santa Catarina. Isso nunca havia ocorrido no estado”, comentou. Martins apresentou relatos de presos políticos que foram torturados no Doi-Codi em Curitiba (PR) e na Polícia Federal em Florianópolis. “Além das sequelas físicas e psicológicas, o que mais impressiona é o impacto disso tudo na memória das pessoas”, relatou.

Morte do prefeito de Balneário Camboriú
O jornalista Marcos Espíndola, autor de um projeto de conclusão de curso na Univali sobre o assunto, trouxe informações sobre os presos políticos na região de Itajaí, logo após o golpe de 1964. Segundo ele, os presos eram pessoas ligadas ao movimento sindical, bastante fortalecido à época graças ao Porto de Itajaí e à ligação que o presidente deposto João Goulart tinha com a região.

Espíndola apresentou relatos de presos que foram vítimas de tortura física e psicológica. Ele também tratou do caso do ex-prefeito de Balneário Camboriú Higino Pio, encontrado morto numa cela da Escola de Aprendizes Marinheiros em Florianópolis, em 1969. “O corpo dele foi levado ao IML como indigente. O velório e o enterro foram acompanhados pela Polícia Federal e as pessoas não podiam se aproximar do caixão, que foi entregue lacrado à família”, disse.

A integrante do Coletivo Memória, Verdade e Justiça João Batista Rita, de Criciúma, abordou a história de quatro presos políticos em um projeto experimental desenvolvido por ela para o curso de Jornalismo da SATC. Ela ouviu Romilton Rita, irmão de João Batista Rita, um dos catarinenses desaparecidos durante o regime militar. 

A historiadora Marise da Silveira também foi ouvida pela comissão. Ela elaborou, no fim da década de 90, um trabalho acadêmico sobre as mulheres que foram presas durante da Ditadura Militar. Além da humilhação sofrida durante as sessões de tortura, ela comentou sobre os traumas que acompanham essas mulheres e a dificuldade para se arranjar emprego após a prisão. “Uma das mágoas, das tristezas que elas não conseguem superar é a perda dos amigos mortos durante o regime militar”, comentou.

Saiba mais
A Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright foi criada em Santa Catarina, por meio de decreto do governador Raimundo Colombo (PSD), em março deste ano. Um projeto de autoria do Poder Executivo, em tramitação na Assembleia, transforma a criação da comissão em lei e dá mais poderes para o colegiado.

O grupo examina violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar e auxiliar os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV). A comissão é formada por representantes do Tribunal de Justiça (TJSC), da Procuradoria-Geral do Estado, OAB, Assembleia Legislativa, e do Coletivo Catarinense pela Memória, Verdade e Justiça.

Marcelo Espinoza
Agência AL

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