Comissão de Saúde da Assembleia promove debate sobre obesidade
A obesidade é uma doença crônica que afeta cerca de 18 milhões de brasileiros. Somando o total de pessoas com sobrepeso, o montante chega a 70 milhões. Este número corresponde ao dobro do registrado há três décadas. Com a proposta de debater o tema, a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa realizou, na manhã desta quarta-feira (30), reunião ampliada no Plenarinho Paulo Stuart Wright.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é definida como a “doença em que o excesso de gordura corporal acumulada pode atingir graus capazes de afetar a saúde” e já é considerada uma epidemia. Conforme a endocrinologista Cristina da Silva Schreiber de Oliveira, ela é provocada, principalmente, por um desequilíbrio nutricional, associado ou não a distúrbios genéticos ou endócrinos. A principal causa da obesidade, na opinião da nutricionista especialista em Saúde da Família Rafaella Dimbarre de Miranda, é o consumo alimentar maior do que o gasto energético. “O fator genético influencia, mas pode ser silenciado por um ambiente favorável”, disse.
O parâmetro mais utilizado para diagnóstico é o índice de massa corporal (IMC). O cálculo é feito com a divisão do peso do paciente pela sua altura elevada ao quadrado. É o padrão usado pela OMS, que identifica o peso normal quando o resultado do cálculo está entre 18 e 25. Para ser considerado obeso, o IMC deve estar acima de 30.
O tratamento clínico inclui dieta, atividade física e uso de medicamentos. A cirurgia bariátrica é considerada o tratamento mais indicado para pessoas que têm obesidade grave, com IMC acima de 40. É recomendada por especialistas como o último recurso para atingir a perda de peso. “É a última alternativa, já que a pessoa deve ter tentado tratamento dietético e medicamentoso prévio, sem sucesso. Quando não há mais solução para a perda de peso e manutenção do peso. É preciso considerar que implica em complicações, que devem ser acompanhadas, e exige suplementação vitalícia”, ressaltou Rafaella.
Em 2012, foram realizadas no Brasil cerca de 72 mil cirurgias bariátricas pela rede de saúde suplementar e 6 mil pelo SUS. Atualmente, os critérios para a realização da operação são os seguintes:
- o paciente deve ter entre 16 e 65 anos
- se o paciente tiver IMC entre 35 e 40, deve apresentar alguma comorbidade, como diabetes, hipertensão. Neste caso, deve ter tentado, sem sucesso, tratamento conservador com dietas, atividade física e medicamentos sob orientação
- se o paciente tiver IMC acima de 40, não precisa apresentar comorbidades, mas é necessário ter tentado tratamento conservado.
- o paciente que tiver IMC 50 recebe indicação
De acordo com a nutricionista clínica do Centro Integrado de Tratamento à Obesidade, de Chapecó, Carina Rossoni, os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica e metabólica necessitam de reposições nutricionais em função das alterações anatômicas e fisiológicas promovidas pelo procedimento. “As implicações nutricionais estão diretamente relacionadas à reposição de suplementação e consumo de alimentos fonte de proteína, assim como reposição de polivitamínicos, vários minerais, e também vitamina D ao longo de toda a vida”. Carina ressaltou que entre as principais reivindicações ao governo estão a disponibilização dos polivitamínicos pelo SUS e da videolaparoscopia, uma “cirurgia menos invasiva”.
Experiência do HU
A nutricionista Rafaella Dimbarre de Miranda integra há quatro anos a equipe multidisciplinar do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Santa Catarina, referência em cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no estado. Lá são realizadas de 8 a 10 procedimentos deste tipo por mês. O perfil mais comum dos pacientes que se submetem ao à cirurgia bariátrica são mulheres entre 30 e 40 anos.
Rafaella destaca o trabalho realizado pela equipe multiprofissional para alcançar o sucesso no tratamento da obesidade. O grupo é composto por nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas, assistentes sociais, farmacêuticos, enfermeiros, cirurgiões. “Os pacientes são indicados pela Unidade Básica e o primeiro atendimento é feito pela Endocrinologia. O profissional investiga as causas da doença e depois os pacientes são encaminhados para toda a equipe. O pessoal da Nutrição faz a avaliação pré-operatória e, se necessário, faz um acompanhamento pré-operatório também. Além disso, há um acompanhamento pós-operatório por cinco anos com atendimento individual. Depois deste período, eles podem participar pelo resto da vida de um grupo de pós-operatório que se reúne mensalmente”, explicou.
Conforme a nutricionista, em alguns casos ocorre o reganho do peso. Além da dificuldade de adaptação a novos hábitos alimentares e de vida, como a prática de exercícios físicos, as causas também podem ser de fundo emocional. “Influencia muito. O índice esperado é de 10% de ganho de peso em dois anos, que é adaptação fisiológica, mas mais do que isso já é problema. Então tentamos verificar a causa para tratar. Muitas vezes é depressão ou ansiedade”.
Mudança de estilo de vida
As especialistas afirmam que o sucesso da cirurgia bariátrica no tratamento da obesidade depende da reeducação alimentar e da prática regular de exercícios físicos. “A operação é um tratamento, uma ferramenta. Para que seja eficaz, é necessária uma mudança de hábitos no pré e pós-operatório”, salientou Carina.
A alimentação saudável aliada à prática de atividade física é apontada como a melhor forma de combater e de prevenir a obesidade, segundo a presidente do Conselho Regional de Nutricionistas da 10ª região de SC, Janaina Sempre Bom. “Temos o papel de educar as pessoas para que façam escolhas mais saudáveis, contribuindo para evitar a obesidade”.
Obesidade infantil
O aumento no índice de crianças obesas no país nas últimas décadas tem preocupado especialistas. Dados do Ministério da Saúde apontam que a obesidade infantil afeta em média um terço das crianças brasileiras entre cinco e nove anos, número que, há 25 anos, era de 13%.
Segundo a endocrinologista Cristina da Silva Schreiber de Oliveira, estima-se que mais de 22 milhões de crianças no mundo com até cinco anos são obesas. “A doença afeta completamente a vida delas, estando relacionada a prejuízos no rendimento escolar, baixa autoestima, distúrbios do humor e do sono”.
Para mudar o cenário atual, na opinião da médica, é necessário investir em políticas públicas de incentivo a uma alimentação saudável e de criação de espaços para as crianças brincarem. “A área urbana é onde mais crescem os índices de obesidade infantil. É preciso oferecer mais atividades educativas, mais áreas livres, mais ginásios, mais praças”, disse. Cristina também ressaltou a necessidade de aumento do número de profissionais da equipe multidisciplinar das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a regulamentação e fiscalização do uso de produtos químicos na alimentação.
Doenças crônicas não transmissíveis
A OMS aprovou uma resolução que recomenda esforços para reduzir a obesidade no mundo até 2020. O documento estabelece um plano de ação contra as doenças crônicas não transmissíveis (câncer, diabetes tipo II, cardiovasculares e respiratórias crônicas), por intermédio do combate a uma série de fatores de risco, entre eles a obesidade.
“As doenças crônicas não transmissíveis representam 72% das mortes no Brasil todo ano. Entre as causas dessas doenças estão o tabagismo, o uso abusivo de álcool, o sedentarismo, a alimentação inadequada e a obesidade”, destacou o presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, deputado Volnei Morastoni (PT). Dados do Ministério da Saúde revelam que o SUS gasta anualmente cerca de R$ 500 milhões com o tratamento de doenças associadas à obesidade.
Tema na ordem do dia
O presidente da Comissão de Saúde pretende colocar temas relacionados à obesidade e à alimentação saudável em pauta no Parlamento catarinense. “Essa reunião é um primeiro passo de muitos outros que estão por vir para debater o assunto com toda a sua complexidade e importância para a saúde pública”.
Para Morastoni, a Assembleia deve atuar na prevenção, promoção e educação em saúde. “A obesidade é uma epidemia, um problema sério de saúde pública. Mais de 50% da população brasileira está acometida de sobrepeso e obesidade. Esse problema poderia ser evitado por meio de atividade física e alimentação saudável”, frisou.
Rádio AL