Comissão de Pesca define ações para a preservação do boto pescador de Laguna
A Comissão de Pesca e Aquicultura da Assembleia Legislativa já definiu o conjunto de ações que pretende implementar para tentar frear o aumento da mortandade do boto pescador de Laguna, espécie que estaria sendo ameaçada pelo mal uso de redes de malha utilizadas para a pesca e pela poluição das águas costeiras do sul do estado.
O planejamento decorreu de uma audiência pública realizada pela comissão na noite desta quinta-feira (23), na Câmara de Vereadores de Laguna, da qual foram colhidas sugestões de lideranças políticas locais, representantes de entidades ambientais e de colônias de pescadores.
O pedido para a realização do evento partiu do engenheiro de pesca e policial militar Evandro dos Passos Farias, integrante do Movimento Boto Vivo, diante do registro da morte de 20 botos desde 2018, e da preocupação quanto ao destino dos 53 outros que habitam a região. “O Movimento Boto Vivo foi despertado por uma ação de pessoas que amam esse bicho, após a grande mortandade que teve em 2018. Então fizemos uma reunião em janeiro deste ano e definimos algumas estratégias ligadas à prevenção, repressão, e, futuramente, para a melhora da qualidade da água do complexo lagunar.”
Além do prejuízo ambiental, disse, o desaparecimento dos botos das águas de Laguna também acarretaria consequências socioeconômicas ao município. “Na verdade não é só o boto, uma espécie, que está morrendo. Isso desencadeia outros problemas que, inclusive, vãi acabar afetando os pescadores artesanais, sem contar o turismo, a cultura, entre outras coisas que Laguna acabou desenvolvendo por causa destes animais.”
O comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar Ambiental de Santa Catarina, Tenente-Coronel Ricardo Cordeiro Comelli, afirmou que a corporação tem buscado coibir o uso de equipamentos de pesca irregulares, mas que a mortandade dos botos pode ter outras causas, que ainda precisam ser mais bem esclarecidas. “Há uma legislação que proíbe certas coisas, como redes de malhas, e temos feito operações constantemente. É claro que não temos todo o conhecimento acerca do fato, por isso agimos com precaução. Mas essa questão vai longe, pois carece de muito mais conhecimento e estamos fazendo parte deste processo.”
Durante a reunião foram frequentes os pedidos por mais participação do governo do Estado na busca de soluções para o problema, por meio da presença de mais efetivos e estrutura para Polícia Militar Ambiental e de representantes de órgãos como o Instituto do Meio Ambiente (IMA) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), além do desassoreamento do canal de Laguna.
Em resposta, o deputado Felipe Estevão (PSL), que preside a Comissão de Pesca, afirmou que o colegiado pretende trabalhar duas frentes. Uma mais imediata, buscando levantamento de mais dados junto a especialistas em biologia marinha, e o reforço das ações de fiscalização da atividade de pesca; a outra em longo prazo, para a dragagem do canal e a despoluição do rio Tubarão, que desemboca no complexo lagunar.
Já na Assembleia Legislativa, disse, serão buscadas medidas como o aprimoramento da legislação ambiental e a destinação de verbas, via emendas parlamentares, para o município de Laguna.
“A pesca com o auxílio de golfinhos é um patrimônio que vai além de Laguna e de Santa Catarina, sendo um patrimônio de todo o nosso país. Por isso, a proposta é que esta não seja só uma audiência pública, mas um trabalho de ponta, diferenciado, que gere uma grande força tarefa que sirva como um legado para as próximas gerações. Congratulo a todos que abraçaram esta causa e que vieram estar aqui conosco”, disse o parlamentar ao final.
Já Hilário Gottselig, que na reunião representava a Secretaria da Agricultura e da Pesca, afirmou que o governo do Estado também já tem tomado providências relativas ao caso. “Tanto a secretaria quanto a Polícia Militar, concordaram que teremos que atuar em duas frentes: uma de fiscalização, principalmente entre os meses de setembro, outubro e novembro [de maior movimentação pesqueira]; e outra de orientação da comunidade, pois sem a participação ativa dela, não teremos um grande sucesso.”
Também participaram dos debates o prefeito de Laguna, Mauro Vargas Candemil; e o vice-presidente da câmara municipal de Laguna, vereador Osmar Vieira.
A pesca cooperativa
Estima-se que, além de Laguna, a pesca com o auxílio de botos ocorra somente na Mauritânia, na África.
No município catarinense a espécie presente é a Tursiops truncatus, conhecido popularmente como “golfinho nariz de garrafa”, que costuma circular entre o canal que liga a Lagoa de Santo Antônio ao mar aberto, sendo vistos também nas imediações da ponte Anita Garibaldi e do centro histórico de Laguna.
Para a captura do peixe, os pescadores preparam suas redes, colocando-se à beira do canal, a pé ou em canoas, e esperam os golfinhos conduzirem e acurralarem os cardumes.
Conforme os pesquisadores, a relação se mantém ao longo do tempo por ser benéfica também aos golfinhos, que encontram uma presa fácil nos peixes que escapam das redes dos pescadores.
Confira aqui mais fotos do evento.
Agência AL