Comissão define prioridades sobre resgate da ciência nas escolas
A elaboração de uma carta que será encaminhada às lideranças políticas estaduais e nacionais, promoção de seminários regionais, abertura de discussões sobre as condições para promoção de pesquisas nas escolas e estreitar as relações entre a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC/SC), o Fórum Estadual Popular de Educação com a Secretaria Estadual da Educação, foram os principais tópicos definidos no final do 1º Seminário Catarinense Escola é Lugar de Ciência, realizado nesta segunda-feira (26), no Auditório Deputada Antonieta de Barros, com a presença de mais de 500 professores de várias regionais do estado.
Presidente da comissão, a deputada Luciane Carminatti (PT) informou que a carta do seminário será elaborada nos próximos dias pelos promotores do seminário e será encaminhada ao governo estadual, Assembleia Legislativa, Câmara dos Deputados, Senado e ao Ministério da Educação, como forma de apoiar a ciência nas escolas. Os seminários regionais e o lançamento de uma frente parlamentar em Defesa da Ciência na Escola também serão definidos nas próximas semanas. “Esse seminário é um pontapé inicial para que a gente possa avançar na defesa da ciência nas escolas. A ideia é ampliar para todas as regiões a discussão de como estimular o conhecimento crítico, científico e que, de fato, mude a realidade da escola pública.”
O secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC/SC), André Ramos, avaliou como positiva a realização do seminário na Assembleia Legislativa devido à preocupação dos professores catarinenses com o tema, surpreendendo os organizadores pela procura e a consequente lotação do plenário com mais de 500 professores. “Isso deixa claro que os professores têm muito a dizer, que têm muitas demandas e que estão preocupados com a formação dos professores na área da ciência e que o evento deve servir de exemplo para os demais estados.”
No período da tarde também foi realizado uma mesa redonda com o tema “Ciência na Escola: Relatos de práticas educativas”, com apresentação de cases catarinenses pelos professores Vera Lúcia Bazzo (Fepe-SC), Leandro Duso (UFSC-Florianópolis), Aldo Sena de Oliveira (UFSC-Blumenau), Marcelo Girardi Schappo (IFSC-SJ), Sandra Aparecida dos Santos (Unidavi) e Isabela Regina Fornari Muller (diretora de ensino da SED).
O evento foi promovido pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa em parceria com a SBPC-SC e o Fórum Estadual Popular de Educação, com realização da Escola do Legislativo Deputado Lúcio Mauro da Silveira e apoio de dez instituições públicas de ensino superior no estado (UFSC, UFFS, IFC, IFSC e Udesc); Sistema Acafe, Secretaria de Estado da Educação, Federação Catarinense dos Municípios (Fecam), União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte).
Valorização da ciência
O doutor em física pela UFRJ e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, que ministrou a palestra “A escola em debate: o papel da Ciência e de outros saberes”, defendeu que as universidades devam estar mais próximas das comunidades onde estão inseridas e que prestem contas de suas atividades, não tendo vergonha de mostrar que a educação é cara. “A universidade tem sua autonomia, mas ao mesmo tempo tem que prestar contas à sociedade. Tem que estar mais próxima da comunidade, apoiar o ensino básico, discutir melhorias, além de valorizar os professores, investindo na formação e condições de trabalho”, resumiu.
Ele falou também das dificuldades que a educação passa atualmente como a falta de recursos para bolsas de estudos e a possível extinção de uma das maiores agências de fomento à pesquisa do país, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Disse que ainda essa semana estará em Brasília para entregar ao Senado e à Câmara dos Deputados uma petição com mais de um milhão de assinaturas, e apoiada por quase 90 entidades científicas e acadêmicas, em defesa de 85 mil pesquisadores que podem ficar sem recursos.
Segundo Moreira Castro, há frentes da área econômica do governo, que não têm conhecimento sobre como funciona o sistema, que “acenam com a possibilidade de extinção do CNPq”, defendendo que o conselho seja substituído pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que oferece bolsas de mestrado e doutorado dentro e fora do Brasil. “A comunidade [científica e acadêmica] sempre defendeu a existência das duas agências, pois elas têm funções diferentes”, explica.
Moreira Castro ainda destacou em sua palestra a importância do naturalista Fritz Müller, que foi o primeiro cientista a testar em campo as ideias de Charles Darwin. Lembrou que o nome referência cientifica catarinense, Fritz Müller, é o terceiro cientista mais citado por Darwin em seu livro “A Origem das Espécies”.