28/10/2009 - 18h29min
Combate e prevenção às drogas foi motivo de debate em audiência pública
A audiência pública que tem como tema o combate e prevenção às drogas, realizada hoje (28), pela Comissão de Saúde, presidida pelo deputado Genésio Goulart (PMDB), teve como foco principal o crack. O uso da droga tem aumentado consideravelmente nos últimos anos devido ao baixo preço.
A reunião foi solicitada pelo deputado Antônio Aguiar (PMDB), que também presidiu o evento. Segundo ele, o consumo do crack é maior que o da cocaína, pois é mais barato e seus efeitos duram menos tempo. “Por ser estimulante, ocasiona dependência física e, posteriormente, a morte devido a sua terrível ação sobre o sistema nervoso central e cardíaco. Ele leva oito segundos para fazer efeito, enquanto que a cocaína leva 20 minutos.”
Aguiar, que é médico, explicou que o crack deriva da planta de coca, é resultante da mistura de cocaína, bicarbonato de sódio ou amônia e água destilada, resultando em grãos que são fumados em cachimbos. O seu surgimento se deu no início da década de 80. “Quando está no sistema nervoso central, a droga gera aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremores, excitação, maior aptidão física e mental.”
O diretor de Integração da Secretaria de Segurança Pública, Eliseu de Souza, acredita que o Brasil está vivendo uma epidemia e que precisa assumir esse flagelo social. “Esse é assunto de gravidade mundial. Temos que assumir esse flagelo social. É preciso lutar contra esse câncer da nossa sociedade.” Eliseu acredita que a situação pode mudar se as secretarias de Saúde, Segurança Pública e Educação trabalharem juntas. “A droga não é só problema de saúde. É um problema da sociedade e todos juntos temos que lutar contra ela”, completou.
Já o secretário de Segurança Pública, Ronaldo Benedet (PMDB), afirmou que é preciso mudar a visão que as pessoas têm do setor e que 80% dos crimes do nosso estado estão relacionados, direta ou indiretamente, com as drogas. “A segurança pública é encarada como polícia e cadeia, mas não é. É preciso mais. As pessoas precisam estabelecer regras de convivência. Na verdade, a repressão está sendo feita, mas estamos só apagando o fogo.”
O presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes, Clóvis Luiz Fava, defendeu que o governo ofereça mais ações para diminuir o crescimento das drogas e que apenas a repressão não surte muito efeito. “Nós, conselheiros, estamos passando por uma batalha porque sabemos onde está o problema, mas não temos respaldo nenhum do Estado e nem dos municípios.”
Representando a Secretaria da Saúde, Maria Cecília Rodrigues disse que o maior problema do usuário é a exclusão social. “Estamos preocupados com o sofrimento humano. Mas o que podemos oferecer para essas pessoas em troca do vazio das drogas? Nós a internamos e depois?”, questionou.
Em nome da Secretaria de Educação, o diretor-geral Silvestre Heerdt afirmou que a sociedade atual está muito tolerante e que isso precisa mudar. “Estamos banalizando a situação. A sociedade precisa reagir mais. Temos que apostar na educação e na prevenção para que possamos agir menos na repreensão.”
O diretor-geral e Institucional do Grupo RBS, Marcos Barbosa, explicou por que o Grupo decidiu fazer a campanha especifica contra o uso do crack. “O crack está fazendo muitas vítimas atualmente. As pessoas estão morrendo. Pode ser que seja utopia, mas o nosso objetivo com a campanha é que a droga não tenha nenhum novo usuário. A prevenção e a conscientização são os principais remédios para esse problema.” De acordo com ele, no estado do Rio de Janeiro os traficantes estão parando de vender crack, pois os usuários estão morrendo muito rápido, acabando com o “mercado” em pouco tempo.
Encaminhamentos
A reunião definiu três encaminhamentos. O primeiro é uma moção solicitando o aumento de verbas para as comunidades terapêuticas e instituições que trabalhem com a recuperação de dependentes químicos. O pedido foi feito por dependentes químicos que estiveram na audiência pública e reclamaram de falta de verbas para as instituições.
Os pedidos de capacitação dos professores em relação à prevenção às drogas e a criação de um centro especializado em dependentes químicos também serão encaminhados ao governo estadual.
Conheça a droga
Cinco a sete vezes mais potente do que a cocaína, o crack é também mais cruel e mortífero do que ela. Possui um alto poder para desestruturar a personalidade, agindo em prazo muito curto e criando enorme dependência psicológica. Assim como a cocaína, não causa dependência física, o corpo não sinaliza a carência da droga.
As primeiras sensações são de euforia, brilho e bem-estar. Na segunda vez, elas já não aparecem. Logo os neurônios são lesados e o coração entra em descompasso (de 180 a 240 batimentos por minuto). Há risco de hemorragia cerebral, fissura, alucinações, delírios, convulsão, infarto agudo e morte.
O pulmão se fragmenta. Problemas respiratórios como congestão nasal, tosse insistente e expectoração de mucos negros indicam os danos sofridos.
Dores de cabeça, tonturas e desmaios, tremores, magreza, transpiração, palidez e nervosismo atormentam o craqueiro. São comuns queimaduras nos lábios, na língua e no rosto pela proximidade da chama do isqueiro no cachimbo, no qual a pedra é fumada.
O crack induz a abortos e nascimentos prematuros. Os bebês sobreviventes apresentam cérebro menor e choram de dor quando tocados ou expostos à luz. Demoram mais para falar, andar e ir ao banheiro sozinho e têm imensa dificuldade de aprendizado (Graziela May Pereira/Divulgação Alesc)