Com simpatia e bom humor, Dudu Braga cativa o público de Jaraguá do Sul
Intercalar piadas e episódios da sua vida foi a fórmula encontrada pelo publicitário Dudu Braga para passar ao público ensinamentos sobre uma questão difícil e ainda cercada de muitos mitos e preconceitos: qual a melhor forma de encarar as pessoas com deficiência e promover sua integração à sociedade? A palestra, que faz parte da sétima edição do Programa Encontros com a Assembleia, aconteceu na noite desta terça-feira (5), na Sociedade Cultural Artística (Scar) em Jaraguá do Sul.
Em clima de bate-papo descontraído e com forte interação com a plateia, a palestra trouxe uma retrospectiva da vida de Dudu Braga e sua relação com o pai, Roberto Carlos. Primeiro filho do cantor, Dudu foi diagnosticado com glaucoma ainda nos primeiros dias de vida, enfermidade que se refletiria nas músicas do pai. Foi olhando para as praças floridas da Holanda, para onde Dudu foi levado para tratamento, que Roberto teria composto os versos da música "As Flores do Jardim da Nossa Casa", que fala de tristeza e esperança.
As operações foram um sucesso, mas os problemas oculares voltariam 22 anos depois, com um descolamento de retina. Após novos tratamentos nos Estados Unidos, mas dessa vez sem resultados positivos, a visão de Dudu acabou reduzida a apenas 5% da capacidade do olho esquerdo. "Eu tinha saído para encontrar uma vitória e voltava com uma derrota. Chegava a hora de assimilar este resultado e enfrentar a nova vida".
Em Miami, Roberto o chamou para ouvir sua mais recente composição: Nossa Senhora. "Acho que meu pai foi quem mais sofreu e os versos desta música 'que as pedras no meu caminho, os meus pés suportem pisar, mesmo ferido de espinhos', me ajudaram a começar a superar as adversidades".
Transformando dificuldades em oportunidades
"Como nós, cegos, fazemos pra namorar?", perguntou Dudu, dando ele mesmo a resposta e arrancando risos da platéia: "Nós dependemos de nossos amigos de fé, nossos irmãos camaradas". A piada foi usada pelo palestrante para explicar momentos delicados na vida de uma pessoa com deficiência visual, como a própria aceitação.
O resgate da autoconfiança, disse, foi a chave para que ele mesmo pudesse refazer a vida e buscar novos objetivos. "Um ditado popular diz: há males que vêm para o bem. Isso é uma grande verdade. Coisas ruins que acontecem nas nossas vidas podem se revelar boas com o tempo. O importante é transformar o negativo em positivo, ou ainda, as dificuldades em oportunidades", disse.
Dudu, que até a perda da visão trabalhava com comércio de carros, passou a focar na carreira de radialista e apresentador de TV. Participou da novela América, na TV Globo, e do programa Ressoar, na TV Record, atuando também como produtor musical e em prol da inclusão das pessoas com deficiência. "O mundo atual valoriza muito o visual. De que adianta o ver e o enxergar se não existe o perceber. Os problemas sempre vão existir, mas o tamanho deles é muito dado por nós", ensinou.
Outro ponto importante, disse, é conscientizar a sociedade, sobretudo os familiares e amigos de pessoas com deficiência, sobre a maneira mais correta de tratá-los, sem isolamento ou superproteção. "Não existe nenhuma universidade de deficiência. Tive que sair com minha bengala, tropeçar e aprender. E isso foi importante para descobrir quem eu era. Deficiência não é sinônimo de incapacidade. O que a pessoa precisa é renovar as esperanças e procurar o seu caminho".
Ser filho de celebridade é...
Longe de querer esconder ou mascarar o pai famoso, em certo momento Dudu Braga fez a pergunta que grande parte da plateia certamente gostaria de ter feito: como é ser filho de Roberto Carlos?
"Ser filho de celebridade é uma coisa muito boa, todos te tratam muito bem, mas isso também faz com que sejamos vistos sempre filhos de alguém e nunca como nós mesmos. Também existe uma cobrança muito grande para que nos igualemos ou até superemos nossos pais. Confesso que jamais conseguiria isso".
Ser batizado como Roberto Carlos Braga II e apelidado de Segundinho, comentou de forma descontraída, também já foram assimilados. "Quando somos novos, queremos ter nossa própria identidade, ser reconhecidos por nós mesmos. Com o tempo, as pessoas me fizeram ver que ser filho de Roberto Carlos faz sim parte da minha identidade. Tenho o maior orgulho de ser filho desse cara".
Inclusão
Idealizado pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Joares Ponticelli (PP), para aproximar os cidadãos catarinenses do Parlamento, o Programa Encontros com a Assembleia realizou em Jaraguá do Sul a sua sétima edição. Os eventos, que já percorreram os municípios de Rio do Sul, Balneário Camboriú, Tubarão, Florianópolis, Campos Novos e Joaçaba, reuniram, ao todo, aproximadamente 3,5 mil pessoas. Mais duas etapas já estão programadas: no dia 2 de dezembro, em Araranguá, com palestra do ex-jogador de basquete Oscar Schmidt; e em 16 de dezembro, em Braço do Norte, com o educador, escritor e professor Mário Sérgio Cortella.
Para Ponticelli, a boa média de público registrada nos eventos deve-se à escolha dos palestrantes e dos temas abordados. "A sociedade tem dado uma resposta muito positiva ao programa, que tem entre suas metas promover a inclusão das pessoas com deficiência, uma das prioridades da minha gestão à frente do Parlamento".
O parlamentar citou a criação da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Programa Alesc Inclusiva. "Temos que recuperar o tempo perdido e possibilitar a integração destas pessoas, minimizando a dívida que o Poder Público tem por, durante anos, não ter implantado as políticas públicas necessárias".
Representante da região de Jaraguá do Sul, o deputado Carlos Chiodini (PMDB) afirmou que o Parlamento estadual é uma instituição plural, que deve se manter aberta e atenta a todos os segmentos da sociedade. "A garantia da acessibilidade a todos é um tema que vem ganhando cada vez maior proporção no Legislativo, resultando em diversos projetos de lei recentemente aprovados".
Presente ao evento, o prefeito de Jaraguá do Sul, Dieter Janssen (PP), destacou as ações municipais recentemente tomadas visando tornar Jaraguá do Sul mais inclusiva. “Entre as medidas, estão a construção e reforma de rampas em calçadas e edifícios públicos e a oferta de cursos de libra em creches e hospitais e demais instituições de grande circulação de pessoas", disse.
Agência AL