Clubes 4S são homenageados pelo trabalho de extensão rural no Oeste
Melhorar as condições socioeconômicas de populações rurais e levar técnicas e práticas modernas ao jovem do campo era o principal objetivo dos "Clubes 4 S" (Saber para Sentir, Saúde para Servir), que desenvolviam essencialmente um trabalho de extensão rural, iniciado na década de 60 no Brasil. Os clubes, contudo, ofereciam além do aprendizado de técnicas, um espaço de sociabilidade para a juventude.
Com o passar do tempo, eles se extinguiram, mas na região de São Carlos, Oeste de Santa Catarina, continuam desenvolvendo seu trabalho com a receptividade da população. Na sexta-feira (06) foram celebrados os 50 anos de história dessas entidades, na Câmara de Vereadores de São Carlos, em sessão solene promovida pela Assembleia Legislativa por solicitação do deputado Padre Pedro Baldissera (PT).
Os Clubes 4S são entidades sem fins lucrativos e tiveram seu auge, na região Oeste, na década de 70, fomentados pela extinta Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Santa Catarina (Acaresc), atual Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Santa Catarina (Epagri). Por intermédio desses órgãos, os clubes levavam experiências e ensinamentos básicos a pequenos grupos em microrregiões carentes, a partir de necessidades previamente detectadas, fosse economia doméstica, higiene básica ou preventiva, cooperativismo, artesanato e, principalmente, produção agropecuária.
Trabalhavam com estudantes e recém-formados voluntários, que tinham, assim, a possibilidade de viajar e também de aplicar e colocar em prática seus conhecimentos acadêmicos e teóricos. Antigamente, os jovens do campo participavam dos clubes até casar. São nove agremiações, atualmente, que têm como sócios não apenas jovens, mas toda a família.
Padre Pedro presidiu a sessão e fez um agradecimento especial pelas atitudes responsáveis dos extensionistas em mudar a vida das pessoas do meio rural e em garantir que muitas barreiras fossem ultrapassadas. De acordo com o parlamentar, os Clubes 4S foram espaços de solidariedade, contribuição e cuidado.
"Como é importante dividir conhecimento, vivências, experiências, pois a vida não é nada se não soubermos aprender e ensinar. Quem é jovem da roça sabe do que estou falando. Logo na juventude, garantir a participação da família na vida significa a porta para a liberdade e autonomia."
O parlamentar fez uma avaliação da sociedade atual, a qual, segundo ele, apresenta-nos modelos aparentemente mais fáceis e atrativos, mas que nos distanciam de nós mesmos. Para ele, a ação dos 4S foram importantes para garantir à comunidade valores como a ideia de que é preciso enfrentar as dificuldades de forma autônoma, mas não de forma solitária.
Marcos Antonio Theisen, prefeito de Cunhataí, relatou que o Clube 4 S, ao qual é associado desde 1964, contribuiu muito para o desenvolvimento da agricultura local. "Além da atividade agrícola, os jovens são protagonistas de grandes mudanças para a sociedade, e a presença dos Clubes 4S contribuiu de forma decisiva para impulsionar esses jovens a buscar as mudanças necessárias", afirmou.
O prefeito de São Carlos, Cleomar Weber Kuhn, declarou a existência um exemplo de doação, de dedicação e de voluntariado extremamente importante com a permanência dos clubes, que auxiliam a integração do jovens e das famílias rurais com a cultura urbana. "Nosso município completa seus 60 anos de emancipação e fica muito claro hoje o quanto é importante o trabalho dos Clubes 4S. Com todo orgulho, afirmo que sou agricultor e que a agricultura do nosso município é extremamente forte, representando 65% do PIB. Isso foi possível ao trabalho de extensão rural." Entre os anos de 2012 e 2013 houve um aumento de 2% no PIB do município de São Carlos, conforme o prefeito, o que representa um crescimento de 14,67% na economia.
Kuhn destacou, também, o trabalho social desenvolvido pelos Clubes 4S. Atualmente mais do que levar técnicas e conhecimento acadêmico a população rural, os clubes funcionam como espaços de entretenimento e apoio as famílias, como em casos de doenças e morte.
A atual presidente do Comitê 4S, Rejane Land, fez um resgate histórico do movimento dos Clubes 4S em São Carlos e em Santa Catarina. Segundo ela, o produtor rural é um conservador por necessidade, mas é um inovador por convicção. Da mesma forma que as populações pobres e carentes espalhadas pelo Brasil adentro. O grande problema dessas populações é que faltam recursos financeiros e conhecimentos. Com base nessa característica, em relação às experiências dessas pessoas, criou-se o programa dos “Clubes 4 S”.
Origem dos Clubes 4S no mundo e no Brasil
Os Clubes 4S no Brasil eram o equivalente aos Clubes 4H, implantados nos anos de 1920 e 1930 nos Estados Unidos, de tradução literal, ao menos na forma de atuar. Essas entidades sem fins lucrativos eram mantidas por meio de contribuições financeiras de empresas.
A visão era de médio e longo prazo e teve efeitos altamente positivos. As empresas mantenedoras, nos discursos de justificativas a seus acionistas, alegavam que estariam desenvolvendo e criando futuros novos consumidores para seus produtos e serviços, porque na situação de miserabilidade em que viviam algumas dessas populações não urbanas, elas nunca teriam condições de consumir nada. Mas os investimentos, em verdade, eram muito pequenos.
Os Clubes 4 S, em essência, desenvolviam um trabalho de extensão cultural. Na área rural atuavam os formandos em Agronomia, Veterinária e Zootecnia, que ensinavam aos jovens, filhos de pequenos produtores rurais, como produzir com maior nível de produtividade, e sempre na mesma atividade de seus pais. Os pais eram “convencidos” a ceder uma parte pequena de suas terras e, a partir da orientação recebida, os filhos usavam técnicas mais modernas de plantio ou criação, porém, sem grandes sofisticações nem investimentos, já que os recursos eram escassos. Invariavelmente obtinham produtividade três a cinco vezes maior que aquela que seus pais conseguiam com técnicas antigas e obsoletas.
No Brasil, a extensão rural surgiu no contexto da guerra fria, em Minas Gerais. O contexto do final da Segunda Guerra e o acirramento da disputa entre o bloco capitalista, comandado pelos Estados Unidos, e o bloco socialista, liderado pela União Soviética, fez com que a “filantropia científica” incluísse em sua pauta a população rural. No imaginário das elites tratava-se de população facilmente seduzível aos ideais comunistas. Ante a ameaça do perigo vermelho, era fundamental que a agricultura brasileira superasse o seu “atraso”. O receituário estaria na adoção de uma cultura tecnicista, a qual seria formada a partir do trabalho dos extensionistas.
A Extensão Rural, como política do Estado para a agricultura, surgiu em Santa Catarina no ano de 1956, criando várias estratégias de educação informal que transmitiam informações com o objetivo de formar, entre os agricultores, uma cultura que levasse à prática o uso de insumos e equipamentos agrícolas, proporcionando a Revolução Verde. Dentre essas estratégias inserem-se os Clubes 4S, que reuniam rapazes e moças do meio rural, organizados em grupos e, com a orientação de extensionistas, desenvolviam várias atividades educativas.
No Oeste catarinense, a economia baseada na agricultura, a vida social e o artesanato, praticados no período anterior a 1960, sofreram profundas modificações. Com a introdução da tecnologia moderna, a partir da adoção de novas técnicas de cultivo impulsionadas pelo trabalho da extensão rural, a forma de pensar e cultivar mudou: passou-se a praticar a agricultura mecanizada sem questionar as possíveis consequências ambientais, adotando um modo de produção essencialmente voltado para o mercado.
Homenageados:
- Prefeito Cleomar Weber Kuhn, representado a Prefeitura Municipal de São Carlos
- Prefeito Marcos Antônio Thiesen, representando a Prefeitura de Cunhataí
- Vereador Ronei Schislengo Chaves, representando a Câmara de Vereadores de São Carlos
- Vereador Leandro Weberich, representando a Câmara de Vereadores de Cunhataí
- Humberto Bicca Neto, representando Escritório da Epagri de São Carlos
- Lilian Castelani, representando Escritório da Epagri de Cunhataí
- Deiwyson Marschall, representando o Clube Amizade - Linha São Sebastião - São Carlos
- Carlos Edson Schonberger, representando o Clube Estrela D'Alva - Linha Navegante - São Carlos
- Daniel Ternus, representando o Clube Estrela da Manhã - Linha Moraes - São Carlos
- Alice Killing, representando o Clube Flor do Oeste - Cunhataí
- Arlei Fischer, representando o Clube Sempre Unidos - São João - São Carlos
- Sidney José Breier, representando o Clube Vale das Águas de Pratas - São Carlos
- Gilmar José Assmann, representando o Clube Brasinha - Centro Aguinhas - São Carlos
- Geferson Kroth, representando o Clube Paz e Amor - Linha Passing - São Carlos
- Edico Kreuz, representando o Clube Sorriso Amigo - Centro Aguinhas - São Carlos
- Valdecir Mai, presidente do Comitê 4S entre 1985 e 1986
- Hélio René Watte, presidente do Comitê 4S entre 1987 e 1988
- José Marcos Sander, presidente do Comitê 4S entre 1989 e 1990
- Bruno Land, presidente do Comitê 4S entre 1991 e 1992
- Ademir Paulo Schuch, presidente do Comitê 4S entre 1993 e 1994
- Vanderlei Bachindorf, presidente do Comitê 4S entre 1995 e 1996
- Marli Both, presidente do Comitê 4S entre 1997 e 1998
- Gracile Rempel, presidente do Comitê 4S entre 1999 e 2000
- Ricardo Schimit, presidente do Comitê 4S entre 2001 e 2002
- Dorli Hoss, presidente do Comitê 4S entre 2003 e 2004
- Ildemar Brutscher, presidente do Comitê 4S entre 2005 e 2013
- Rejane Land, presidente do Comitê 4S de 2014
- Otto Eiserle, representante do filho Marcelo Eiserle (falecido), presidente do Comite 4S de 1997 e 1998.
Agência AL