16/11/2009 - 13h52min
Bullying é tema de seminário na Assembleia
Educadores atentos e família participativa no trabalho dos valores humanos. Essa é uma das maneiras de prevenir e tratar um problema que atinge anualmente, no mundo, cerca de 350 milhões de crianças e adolescentes: o bullying. Isso significa um milhão de vítimas deste tipo de violência por dia. No Brasil não existem diagnósticos sobre o bullying, a repetição de atitudes agressivas e intencionais adotadas na escola por um aluno ou grupo contra um ou mais colegas, causando angústia e sofrimento.
O assunto foi debatido entre educadores no Seminário Regional Os desafios da educação brasileira, com o tema “Violência e drogas nas escolas”, realizado pela Escola do Legislativo, em um primeiro período, nesta manhã (16), no Auditório Deputada Antonieta de Barros. A palestrante foi Cléo Fante, doutoranda em Ciências da Educação e vice-presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar. O encontro teve como debatedor o presidente da Escola do Legislativo, deputado Joares Ponticelli (PP).
“É uma das formas de violência que mais cresce no mundo”, afirma Cléo Fante, pedagoga pioneira no estudo do tema no país e autora de “Bullying Escolar”. Segundo ela, o bullying pode acontecer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, entre vizinhos e em locais de trabalho. Mas é no contexto escolar que mais é identificado. “Existem relatos de bullying em escolas das redes pública e privada, rurais e urbanas, e até mesmo com crianças de 3 e 4 anos, ainda no ensino infantil”, comenta.
Essa violência cada vez mais faz parte do cenário escolar e vem exigindo muita atenção dos educadores para que se evitem consequências desastrosas, uma vez que sua manifestação pode ser física ou psicológica. A pessoa ou o grupo que impõe o bullying ridiculariza, humilha e intimida suas vítimas.
Cléo Fante destacou entre os prejuízos mais comuns às vítimas desse tipo de agressão a dificuldade no aprendizado, no desenvolvimento do processo de socialização e alteração na saúde mental. Os sintomas mais usuais são depressão, baixa auto-estima, ansiedade e, por fim, abandono dos estudos. O bullying é uma prática de exclusão social, segundo explicou a palestrante, cujos principais alvos costumam ser pessoas mais retraídas, inseguras. Essas características acabam fazendo com que elas não peçam ajuda e, em geral, se sintam desamparadas e encontram dificuldades de aceitação. “São presas fáceis, submissas e vulneráveis aos valentões da escola”, enumerou Cléo Fante. Além dos traços psicológicos, as vítimas desse tipo de agressão apresentam particularidades, como problemas com obesidade, estatura, deficiência física. As agressões podem ainda abordar aspectos culturais, étnicos e religiosos, exemplifica.
Para enfrentar o bullying são necessários conhecimento, capacitação profissional e discussão do tema junto à comunidade escolar numa busca de soluções conjuntas. A maneira de intervir, defende a pesquisadora, é através da identificação de casos e suas causas; e encaminhamentos pedagógico e familiar a profissionais da psicologia ou pediatria, da assistência social, do conselho tutelar, entre outros.
Lei catarinense
O presidente da Escola do Legislativo, Joares Ponticelli, é autor de uma lei que em Santa Catarina autorizou o governo do Estado a instituir o Programa de Combate ao Bullying, de ação interdisciplinar e de participação comunitária nas escolas públicas e privadas. A proposta tem o objetivo de prevenir e combater a prática nas escolas; capacitar docentes e equipe pedagógica, incluir regras normativas contra a prática, esclarecer sobre aspectos éticos e legais e desenvolver campanhas educativas, entre outras ações.
Na avaliação de Ponticelli, o encontro da manhã de hoje foi muito positivo, até mesmo porque está se percebendo que a lei começa a produzir resultados como a identificação do problema, debates e ações proativas, oportunizando o combate efetivo a um problema real que atinge um universo muito grande de estudantes. Ele também informou que a partir de março de 2010 o Ministério Público estará coordenando uma campanha nas escolas com o intuito de esclarecer sobre o problema e coibir sua prática. (Scheila Dziedzic/Divulgação Alesc)