Blumenau debate impactos das drogas e da violência contra a mulher
FOTO: Solon Soares/Agência AL
Os impactos do consumo de drogas e da violência contra as mulheres foram debatidos em um seminário promovido pela Comissão de Prevenção e Combate às Drogas da Assembleia Legislativa. O evento, realizado na sede da Associação dos Municípios do Vale Europeu, em Blumenau, reuniu lideranças públicas e representantes das polícias militar e civil para informar à comunidade sobre o tema na noite desta quarta-feira (30).
“As drogas e o álcool são problemas que afetam a sociedade sem distinção de classe social. Precisamos estar atentos, prevenir e assistir quem precisa. Neste mês da mulher, dedicamos um evento especial para elas, que muitas vezes convivem com esse drama em suas famílias e na sociedade”, afirmou o deputado Ismael dos Santos (PSD). Autor do maior programa de acolhimento de dependentes químicos de Santa Catarina, o Reviver, que já atendeu mais de 25 mil jovens visando sua reintegração à sociedade, o presidente do colegiado apresentou um dos quatro painéis do evento.
Segundo ele, o “flagelo da humanidade que estremeceu o século XX, infelizmente adentrou no século XXI”. E, disse Santos, a questão da pandemia agravou ainda mais o quadro com a presença e permanência das pessoas em casa. “Temos dados no Brasil que mostram quem chegamos a 20 milhões de usuários de drogas pesadas. Em Santa Catarina os números aumentaram e, enquanto isso, todo aquele entorno trágico da violência conta a mulher também cresceu. Isso nos motivou a realizar no mês de março esse evento aqui em Blumenau, por ter uma Delegacia da Mulher muito eficiente, para tratarmos desse assunto”, relatou.
Outro fator que motivou o evento foram os dados de 2021, ano em que foram registrados 51 mil boletins de ocorrência de maus tratos por mulheres que sofreram violência doméstica. “E muita dessa violência veio inflada pela questão do aumento do consumo do álcool. Debatemos isso buscando encontrar soluções”, comentou o deputado. De acordo com ele, a Comissão de Prevenção e Combate às Drogas trabalha com o tripé da prevenção, do acolhimento e da repressão. Por isso foram convidados para palestrar no seminário três colaboradores que trabalham nessas áreas. “E a nossa missão enquanto presidente da comissão é chamar a atenção do cidadão catarinense para esse desafio que é a mulher nesse contexto da droga ligada à questão da drogadição da juventude”, citou.
A ação em Blumenau foi solicitada ao Parlamento pela vereadora Silmara Miguel (PSD). O motivo, segundo ela, está ligado ao acompanhamento da crescente situação de drogadição. “A gente entende que as famílias que têm um dependente [dos tóxicos] acabam se tornando vítima e refém da situação. E muitas das mulheres que têm nos procurado hoje não sabem como agir, não sabem quais os caminhos e o que fazer. Então essa palestra trazida pela Alesc foi essencial por ser esclarecedora com relação a toda essa situação. E poder mostrar às famílias que existe uma rede de apoio que pode amparar todas e fazer com que elas encontrem um caminho para trilhar, para achar uma solução, é muito importante. A gente tem percebido em Blumenau, com a Procuradoria da Mulher que implementamos na Câmara de Vereadores, que aumentou a quantidade de mulheres que tem sido vítimas disso tudo sem saber para onde correr”, contou.
Na opinião da vereadora, nem todas as mulheres que participaram do evento têm pessoas na família envolvidas com drogas. “Mas elas entenderam que, para poder ajudar, precisam saber quais são os caminhos. Então a importância não foi só para quem tem o problema em casa, mas para quem conhece uma família que vive a situação e saber como ajudar”, avaliou.
Repressão e prevenção
Comissário da Polícia Civil, Alberto Junior Cordeiro dos Santos, falou sobre a repressão ao narcotráfico e as organizações criminosas. “Estatisticamente falando, não só em nível de estado, mas de Brasil, todos os crimes que a sociedade é vítima estão umbilicalmente ligados ao tráfico e à venda de substâncias entorpecentes”, assegurou. De acordo com ele, é vital que a sociedade tenha consciência de que sequestros, crimes de roubo, extorsão, apropriação indébita, lavagem de dinheiro, e “uma infinidade de tantos outros crimes”, são ligados direta ou indiretamente ao tráfico de drogas.
A atividade, afirmou, acontece em todo o Brasil. O comissário explicou que, se comparar a situação de Santa Catarina com os demais estados, o combate ao problema vive um momento “muito favorável”. Porém, o tráfico de drogas e o poder econômico das organizações criminosas são inegáveis. “As autoridades têm consciência disso e, por esse motivo, o enfrentamento é constante no Estado”, destacou.
Ramiro Boni, coordenador da Comissão de Prevenção e Combate às Drogas, falou sobre o acolhimento e tratamento promovido pelo Programa Reviver, que está no oitavo ano e já atendeu mais de 25 mil jovens. “Considero que é um sucesso no Sul do Brasil, principalmente. Graças ao Reviver a gente conseguiu mudar a realidade catarinense na questão das drogas”, informou. Segundo ele, em nível de Brasil, estatísticas revelam que, de cada dez acolhidos, sete vão recair. “Em Santa Catarina a gente conseguiu mudar isso. É possível provar com dados científicos, matérias, artigos. Hoje no Estado, a cada dez acolhidos, seis vão conseguir levar uma vida normal”, assegurou.
Outro palestrante foi o subtenente da Polícia Militar de Santa Catarina, Cláudio Fernando Wolff, que falou das drogas e seus Impactos na sociedade. “Há 24 anos a Polícia Militar implantou o Proerd [Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência] em Santa Catarina e, desde então, estamos nas escolas por entender que é um caminho menos traumático e mais tranquilo por tratar com crianças que ainda não estiveram em contato com as drogas”, contou.
O subtenente considerou que a meta de levar a informação à família é muito mais eficiente por intermédio das crianças. “Levar aquela esperança de fazer com que a criança chegue ao seu ideal, que são seus sonhos, seus objetivos de vida, é uma forma mais efetiva de combater o uso de drogas, com toda a certeza. Nós das forças de segurança e das políticas públicas estamos meio que em uma função de enxugar gelo. A gente está sempre prendendo traficantes, sempre retirando drogas de circulação, mas o problema é recorrente. Então temos pelo menos que tentar resgatar, levar a informação para as famílias, para a comunidade. Temos que estar mais próximos, para não dar espaço para o traficante”, concluiu.
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