AVC tem tratamento se vítima for medicada em até quatro horas e meia
O Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, tem tratamento se a vítima for medicada até quatro horas e meia após o aparecimento dos sinais. “O AVC é agudo, quando a pessoa apresenta os sintomas, como desvio da boca, dificuldade para falar, falta de força em um lado do corpo, dor de cabeça súbita, o acidente já está acontecendo”, afirmou a doutora Gladys Lentz Martins, ensinando, em seguida, que a primeira coisa a fazer é chamar o Samu. Na Capital, a vítima pode ser conduzida diretamente ao Hospital Celso Ramos, o único da Grande Florianópolis com equipe especializada em acidentes vasculares no cérebro.
Foi o que fez dona Carlota, esposa de Wildison Maurício de Barros (70), corretor imobiliário, residente no Morro das Pedras, sul da Ilha de Santa Catarina. “Estava indo tomar banho e de repente tchum, apaguei. Quando bati no chão, minha mulher, que estava no andar de cima, ouviu o barulho e desceu correndo, pegou o telefone e chamou o Samu e o pessoal me trouxe para o Celso Ramos”, descreveu Maurício, que na época tinha 62 anos.
“Eu não estava doente e caminhava três ou quatro vezes por semana”, declarou Maurício, acrescentando que não fumava, bebia esporadicamente e praticava esportes regularmente até os 40 anos. “Mas tinha pressão alta e diabetes”, ponderou Gladys, enumerando logo após outros fatores de risco, como histórico familiar, idade, raça, sexo, colesterol, sedentarismo, obesidade, arritmia, enxaqueca, álcool, fumo e anticoncepcional via oral.
A importância do tempo
Gladys enfatizou à reportagem da Agência AL a importância da vítima chegar o mais rápido possível a um hospital especializado, como é o caso do Celso Ramos. “Quando chega um paciente precisamos acionar a equipe, fazer exames, tomografias. Somente depois de diagnosticado a equipe vai avaliar qual procedimento adotar, por isso tem de chegar cedo no hospital, senão passa a janela de medicação”, justificou a especialista.
Tratamento
Atualmente a equipe especializada em AVC do Hospital Celso Ramos utiliza dois tipos de tratamento: a aplicação de um trombolítico na veia para dissolver o coágulo e restaurar o fluxo sanguíneo nos vasos cerebrais, ou a introdução de um cateter para capturar e retirar o coágulo do cérebro. Neste último, o procedimento é análogo ao cateterismo. Mas ao invés de ser conduzido ao coração, o cateter é empurrado até cérebro para atravessar o coágulo, abarcando-o totalmente com uma espécie de rede. Uma vez capturado, a equipe retira o cateter, restabelecendo o tráfego de sangue nas veias do cérebro.
Os fatores de risco
Segundo a médica, a idade avançada por si só não causa AVC, mas se a pessoa apresenta um ou mais fatores de risco, aumentam as possibilidades de ocorrer um AVC. “Pode acontecer na infância”, informou Gladys, completando que as chances são maiores após os 55 anos para os homens e 60 para as mulheres. “Depois disso o risco dobra a cada dez anos”, garantiu a especialista, que é servidora da Secretaria de Estado da Saúde (SES).
O AVC é mais comum em homens e os afrodescendentes têm maior predisposição por causa da hipertensão. Outro fator importante é o histórico familiar. “Se tem casos na família, a chance de acontecer um AVC aumenta muito”, explicou Gladys, que advertiu que a ingestão regular de álcool também pode causar um AVC. “Predispõe à infecções.”
De acordo com a servidora da SES, é possível prevenir um AVC. “Mudando o estilo de vida, com dieta alimentar, medicamentos e exercícios”. Quando os fatores de risco são modificáveis, como sedentarismo, alcoolismo, cigarro, obesidade, entre outros, basta mudar os hábitos. Quando as causas não são reversíveis, como diabetes, enxaqueca, arritmia ou hipertensão, o caminho é o controle através de medicamentos.
Depois do AVC
Maurício de Barros contou à Agência AL que hoje leva uma vida normal. “Demorei mais de um mês para voltar a falar”, confessou. “Ele se recuperou bastante”, reconheceu Gladys, que ressaltou a importância de dormir cedo e trabalhar. “É preciso se manter ativo”, frisou.
Após sofrer o AVC, Maurício passou a tomar 12 diferentes tipos de medicamentos e a cada dois meses se submete a uma série de exames. “Gasto R$ 2,5 mil somente com exames. Já os remédios, alguns são distribuídos gratuitamente nas UPAs e nos postos de saúde de Florianópolis, mas os de tarja preta tenho de comprar”, lamentou.
Agência AL