Audiência encaminha demandas de pacientes com fissura labiopalatina
O estudante Renan Boscatto nasceu com fissura labiopalatina e aguarda há cinco anos por uma cirurgia ortognática, um procedimento cirúrgico que corrige e reposiciona os ossos da mandíbula. O caso dele ilustra um dos problemas abordados na audiência pública que debateu o tratamento das pessoas com fissura labiopalatina no estado, realizada na manhã desta terça-feira (1º), no Plenarinho Deputado Paulo Stuart Wright da Assembleia Legislativa.
O presidente da Comissão de Saúde, deputado Neodi Saretta (PT), proponente da audiência, explicou que o evento foi promovido porque há uma angústia muito grande dos pacientes pelo estado afora. “É importante que esta audiência pública possa expor essa problemática, buscar os encaminhamentos para que possamos fazer essa fila andar e acabar com a angústia dos pacientes que ficam anos esperando. É um tratamento longo e essa angústia vai afetando o paciente e a família também.”
“Eu tenho 23 anos e não consigo respirar direito, não consigo tirar uma foto decente”, protestou Renan, que está prestes a se formar na faculdade e tem a autoestima prejudicada pela deformação do rosto. Problemas que afetam sua qualidade de vida, como o desvio do septo nasal, só poderão ser corrigidos após a realização da cirurgia bucomaxilofacial.
“Tenho que ser forte. Não posso chorar com o paciente, mas a minha vontade muitas vezes é chorar”, disse a assistente social Ivonete Terezinha Cassol, representando a Associação dos Portadores de Fissura Labiopalatais (Profis) de Concórdia, que atua por melhores condições de atendimento para os pacientes.
Ela afirmou que a demanda de cirurgias labiopalatinas é de 50 procedimentos por mês e que a Secretaria de Estado da Saúde (SES) reduziu a oferta para 20 procedimentos mensais. “A nossa busca hoje aqui é por agilizar a situação das filas, através de mutirão ou acelerar cirurgias, principalmente as ortognáticas”, disse Ivonete.
De acordo com o cirurgião plástico Marco Aurélio Gamborgi, os pacientes com fissura labiopalatina precisam passar por diversas cirurgias, mas deveriam estar reabilitados para a sociedade por volta dos 17 ou 18 anos. O cirurgião, atende no Centrinho Luiz Gomes (instituição de saúde de Joinville que é referência na área) e explicou que, em função de reforma no centro cirúrgico do Hospital Regional de Joinville, estão sendo priorizadas as cirurgias primárias, de fechamento da fissura labial – as demais cirurgias estão sendo deixadas para depois. Ele lamentou a situação: “precisamos tratar de forma adequada, no tempo certo”.
Demanda de cirurgias
O superintendente de Regulação da SES, Ramon Tartari, assegurou que é necessária apenas uma rediscussão do assunto. “Nós temos em Florianópolis o Hospital Infantil Joana de Gusmão, que é um hospital habilitado para tal, e ele tem, inclusive, ociosidade. Ou seja, as pessoas têm preferência por Joinville, acaba tendo demanda reprimida em Joinville, enquanto nós temos outro hospital aqui em Florianópolis habilitado, com vaga para cirurgia.” Quanto às cirurgias ortognáticas, o gestor afirmou que “a ideia é aumentar o número de procedimentos de acordo com a demanda”.
Tartari comprometeu-se a estudar a situação em Jonville para redimensionar a capacidade instalada e a manter os tratamentos iniciados no município, que é muito procurado em função da qualidade dos serviços oferecidos. Mas ele acredita que o Hospital Infantil Joana de Gusmão tem um serviço promissor, que pode ser mais utilizado, o que vai desafogar a demanda.
Agência AL