Assembleia recebe mostra de cinema voltada para cegos e surdos
Proporcionar a deficientes visuais e auditivos a oportunidade de vivenciar a experiência do cinema por meio de filmes adaptados com legendas em português, Libras e audiodescrição. Esta é a proposta da 4ª edição da Mostra “Cinema Além da Imagem”, realizada na manhã desta quarta-feira (31) no Auditório Antonieta de Barros do Palácio Barriga-Verde, em Florianópolis.
A mostra promovida pela Associação de Mídias Audiovisuais e Cinema do Amazonas (Amacine) reúne 15 filmes de vários gêneros com enredos diversificados. Os curta-metragens apresentados revelam lendas, mitos e histórias presentes na cultura da Amazônia. As obras são fruto do trabalho de alunos que cursaram oficinas de cinema gratuitas realizadas pela associação.
Segundo o presidente da Amacine, Junior Rodrigues, o objetivo da mostra é estimular a criação de produtos audiovisuais que permitam a inclusão de cegos e surdos. “O entretenimento de audiovisual no Brasil nunca foi pensado para os deficientes visuais e auditivos, o que é um equívoco. Queremos nos comunicar com esse público, geralmente excluído, que tem uma necessidade cultural”.
O deficiente visual Valdir Caetano da Cruz, que fazia parte da plateia, aprovou a iniciativa. “Isso ajuda a melhorar a nossa vida, assim não ficamos esquecidos”, afirmou.
Na opinião do presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, deputado José Nei Ascari (PSD), a mostra é um exemplo vindo do estado de Amazonas que pode ser seguido em Santa Catarina. “A ação é voltada a um público carente de opções de entretenimento, que precisa dessas oportunidades. É mais um passo importante rumo à inclusão plena”.
Outro objetivo da mostra é sensibilizar os espectadores. Durante as exibições dos filmes, as pessoas que não são cegas são convidadas a usar uma venda nos olhos ou então fechá-los, para que possam experimentar as mesmas sensações do público-alvo do evento. “Queremos fazer com que as pessoas que não têm deficiência se sintam nas mesmas condições desse segmento específico para entender como é importante fazer cultura para todos no Brasil”, destacou Rodrigues.
De acordo com o cineasta, a iniciativa surgiu com o conhecimento de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2007, os quais apontavam que o Brasil tinha na época mais de 14 milhões de deficientes visuais e auditivos. “Começamos a trabalhar para dar acessibilidade a todo o acervo de cinema da Amacine. Em 2008 fizemos uma mostra só para surdos, no ano seguinte só para cegos e em 2010 juntamos audiodescrição e libras. O retorno foi surpreendente e assim se deu a continuidade do projeto”, disse.
Neste ano, a mostra será encerrada em Santa Catarina, após percorrer outros três estados brasileiros. Além da estreia em Manaus (AM), os curtas da 4ª edição já foram exibidos em Recife (PE), Caruaru (PE), Fortaleza (CE), Maranguape (CE), Belo Horizonte (MG) e Uberaba (MG). As sessões terminam nesta quinta-feira (1º), em Blumenau, no auditório da Furb. Até o momento, o número de espectadores já ultrapassou a marca de 1.000 pessoas.
No entanto, as exibições se disseminam por todo o país. Institutos, associações e escolas recebem os kits enviados pela Amacine e assim continuam compartilhando o material. Rodrigues calcula que, incluindo as mostras presenciais e o trabalho de divulgação realizado a partir da disseminação dos kits, mais de 30 mil pessoas assistiram aos filmes da edição de 2011.
O presidente da Associação Catarinense para Integração do Cego (Acic), Jairo da Silva, presente na abertura do evento, comprometeu-se a distribuir cópias dos DVDs das quatro mostras para todas as entidades filiadas à Federação Catarinense de Entidades de e para Cegos (Fecec). “Vamos estimular a disseminação do material para todos os municípios do estado. É gratificante saber que existem pessoas com sensibilidade e responsabilidade de produzir esse tipo de conteúdo, pensando na acessibilidade e no desenho universal”, ressaltou.
O evento foi promovido pela Amacine, com apoio da Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas, em parceria com a Assembleia Legislativa, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência. (Ludmilla Gadotti)