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09/07/2013 - 11h53min

Assembleia homenageia protagonistas da reação às enchentes de 1983

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Sessão Especial em homenagem às pessoas e os segmentos da sociedade que contribuíram para amenizar as dificuldades e sofrimentos dos catarinenses em B

O Poder Legislativo homenageou na noite de segunda-feira, dia 8, personalidades e instituições que protagonizaram a reação a mais longa enchente no Vale do Rio Itajaí, ocorrida em julho de 1983 e que durou 32 dias. “Sem energia, sem comunicação, rádio, tevê, jornal e sem alimentos. E ninguém sabia se um parente em outra parte da cidade estava bem ou mal”, lembrou Dalto dos Reis, na época prefeito de Blumenau, que destacou a reconstrução da cidade em um ano.

Foram homenageados o deputado federal Esperidião Amin, então governador do estado; deputado Edison Andrino; Dalto dos Reis; Antonio Carlos Konder Reis, secretário de estado que comandou a reconstrução; Bernardo Wolfgang Werner, ex-presidente da Fiesc (in memorian); os jornalistas Luiz Antonio Soares, Moacir Pereira e José Carlos “Zico” Soares; Alda Schlemm Niemeyer, do Clube de Radioamadores de Blumenau e Mário Neves, da Rede Brasil Sul de Comunicações; o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar, Exército, Marinha e Aeronáutica.

A dor da fome, segundo Dalto dos Reis

“O que foi mas dramático? A falta de alimentos. Fiquei 26 dias no prédio da prefeitura. Era desesperador passar um dia, dois, três, quatro sem a gente ver um alimento sequer. Havia 600 pessoas no prédio, inclusive o corpo de bombeiros. Era tão terrível a fome que hoje eu divido a minha comida com qualquer faminto”.

Dalto descreveu uma cena que ocorreu nos fundos da prefeitura. O jornalista Walter Souza, da RBS, entrevistava-o. No fundo, uma fila de pessoas aguardava a vez de receber leite em pó. “Uma menina veio correndo e se agarrou na minha cintura gritando:  – Pelo amor de Deus me dê um pão, não consigo suportar a fome. Chamei alguém, pedi que fosse buscar minha comida. Entreguei o pão para essa criança e ela correu contra a vidraça do prédio. O Walter baixou o microfone e começou a chorar. Nós fomos até a menina, ela comia o pão, mas a impressão é que tinha se transformado em um animal”.

O desprezo de João Figueiredo

Após a catástrofe, como acontece até os dias de hoje, os prefeitos tomam o rumo do Planalto Central atrás de verba para recuperar os danos causados pelas intempéries. Com o prefeito de Blumenau não foi diferente. Agendou audiência com o presidente João Batista de Oliveira Figueiredo. Um dia antes voou para Brasília e às 8h30 da manhã, meia hora antes da horário marcado, estava na ante sala do presidente da República.

Figueiredo não recebeu os blumenauenses, mandou dizer que não ia ajudar a cidade, que o prefeito era adversário político, do PMDB. “O grande ausente na reconstrução foi o governo federal”, lamentou Dalto, que destacou as doações das igrejas Católica e Luterana alemãs, que viabilizaram a reconstrução de mil casas.

Um deputado navegador

Em 1983 Edison Andrino (PMDB) estreou como deputado. “Cheguei com 36 anos de idade. Quando começou a enchente tinha 5 meses como deputado. Em 9 de julho, com o rio quase 16 metros acima, me perguntava o que podia fazer. Como era ligado às atividades náuticas, lidava mais com lanchas do que com a função de deputado, formamos um grupo de marinheiros e fomos para Blumenau com lanchas, até onde deu”.

“Subimos o rio levando água, velas, não subimos pelo leito, subimos pelos pastos. A maior dificuldade eram as cercas de arame farpado, havia vacas, bois, enroscados nelas. Cortávamos a cerca com alicates. A noite era um terror, com gritos, choros. Nossa missão era tirar as pessoas das casas, convence-los a sair. Teve o caso de um açougue, de porta de esteira, havia alguém lá dentro e tinha de mergulhar para entrar”.

Andrino ressaltou o apoio do comodoro do Iate Clube Veleiros da Ilha, Paulo Gil, além do esforço de Moacir Brandalise e Beaco Vieira. O deputado revelou que as pessoas resgatadas faziam de tudo para retribuir o auxílio. “Eu dizia, não tem uma biritinha? Ficava molhado dia e noite. Davam os melhores uísques,meu barco virou um bar”, contou Andrino, arrancado risos da plateia, que lotou o plenário Osni Régis.

As recordações de Esperidião Amin

Passados 30 anos da tragédia de 1983, Esperidião Amin resumiu a experiência em três palavras: solidariedade, esperança e determinação. “Não há nenhuma mancha significativa digna do registro, não há notícia de saques, roubos, violências”. Ele destacou o pacto de não demissão, firmado pelo comércio, indústria e agricultura, com a intermediação da Fiesc. “Estamos todos no buraco, ou ficamos aqui ou saímos juntos”, declarou o ex-governador, explicando a lógica que determinou o pacto entre os empresários.

“Foi uma provação para todos nós, em todos os níveis. Trinta e dois dias desmontam ou põem à prova a resistência das pessoas. O governador tinha 35 anos, a mulher 29, estava grávida, de perna quebrada. Ficar em casa era uma coisa desconfortável, como adormecer a consciência sabendo ou não sabendo o que estava acontecendo?”, questionou.

De acordo com Amin, a reconstrução recorde deve ser creditada “à atitude do povo, que sobrepujou todas as expetativas das lideranças empresariais, políticas e religiosas”. Amin elogiou a atuação de Antonio Carlos Konder Reis, que mesmo tendo sido governador, aceitou a missão de comandar a secretaria da Reconstrução.

O deputado federal ainda lembrou que o Pelotão de Operações Especiais (Pelopes) do 1º Batalhão Ferroviário de Lages  foi a primeira tropa a chegar em Blumenau. “Ajudou uma boa causa, de um bom povo, que continuou a dar bons exemplos. Aqui não há algemas fazendo ninguém escravo, aqui há cidadãos”, afirmou representante de Florianópolis na Câmara dos Deputados.

Lançamento do livro “Amin: 30 anos depois”

Na oportunidade, o jornalista Moacir Pereira lançou o livro Amin: 30 anos depois. De acordo com o autor, “Esperidião é o fio condutor das matérias, um sinal, uma inspiração. Retrata sobretudo a importância da solidariedade e da capacidade do ser humano superar dificuldades”.

Moacir recordou a cobertura das enchentes da então TV Catarinense. “O Estácio Ramos retirou do ar a programação da Globo. Eram telefonemas ao vivo, pedidos de salvamento, cidadãos comuns, rádios amadores. Jornalismo puro, sem precedentes na história,16 horas por dia. Foi uma meteórica projeção nacional”, constatou.

Vítor Santos
Agência AL

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