Assembleia debate proliferação do mosquito maruim na região Norte
A Assembleia Legislativa de Santa Catarina, atendendo a uma solicitação da Associação dos Municípios do Vale do Itapocu (Amvali), promoveu na noite desta segunda-feira (27) uma audiência pública com o objetivo de debater a proliferação do mosquito maruim na região norte do estado. O debate foi realizado por meio da Comissão de Proteção Civil, na sede da Amvali, em Jaraguá do Sul.
No encontro, que reuniu prefeitos, vereadores e secretários municipais, foram recorrentes as reclamações sobre a infestação do mosquito, sobretudo nas áreas rurais. "Lá em casa passamos repelente o dia inteiro, usamos calças e camisas de manga comprida e deixamos o ventilador ligado direto, mas mesmo assim a situação é insuportável, não se consegue nem lavar uma roupa, limpar a casa. Mas a maior preocupação é com as crianças, que ficam se coçando o dia inteiro, até na escola, e muitas vezes chegam a desenvolver reação alérgica às picadas", disse Andréia Miotto, moradora de Corupá.
A cidade é atualmente um dos principais focos do mosquito dentro da Amvali, entidade que também reúne Barra Velha, Guaramirim, Jaraguá do Sul, Massaranduba e São João do Itaperiú.
O cenário, entretanto, também foi relatado por prefeitos de fora da Amvi, como o de Luis Alves. Segundo Marcos Pedro Veber, além de causar desconfortos e problemas de saúde à população, o alastramento do mosquito vem prejudicando até empreendimentos econômicos no município. "O turismo rural e até o mercado imobiliário também estão perdendo muito com esta situação, o que também vem nos preocupando."
Presente à reunião, o biólogo Luiz Américo de Souza esclareceu que o problema vem sendo ocasionado pelo mosquito Culicoides paraensis, uma das três espécies de maruins comuns à região e que pode ser vetor de vírus causadores de dermatoses, da febre de Oropuche e da doença da língua azul, que também ataca ovinos, caprinos e bovinos. Segundo um levantamento feito por ele em Corupá, quando exposta ao ambiente natural, uma pessoa pode chegar a levar mais de 1.500 picadas do inseto por hora.
Ele afirma que a disseminação da espécie na região está ligada ao avanço da agricultura sobre a mata atlântica, o que teria causado um desequilíbrio ambiental. "O homem avançou com suas roças de banana, aipim, cana-de-açúcar, palmáceas, e as matérias orgânicas em decomposição decorrentes desses cultivos ofereceram todos os nutrientes necessários para as fêmeas do mosquito colocarem seus ovos e as larvas se desenvolverem. A vinda de pessoas e animais para estas áreas também ofereceu mais um atrativo para os insetos, o sangue."
Possíveis soluções
Souza, que atua como pesquisador para Amvali, apresentou durante a audiência pública um trabalho realizado na Univille, instituição em que atualmente realiza um doutorado justamente na área do combate ao maruim.
A pesquisa, disse, tem como base estudos feitos na Alemanha pelo seu professor-orientador, sobre a utilização da clorofila para a eliminação das larvas, nos quais foram obtidas taxa de sucesso de 98%.
O método, que ainda está na fase de testes, poderia ser uma alternativa para a região, conforme argumentou. "Não queremos acabar com o maruim, só voltar ao equilíbrio natural dele. E com o uso da clorofila podemos ter esta possibilidade. Esperamos que até julho de 2018 possamos fazer os testes em campo, com a esperança de até o final daquele ano começar a produção industrial."
Outra vantagem da técnica é poder utilizar as folhas de bananeira para a extração da clorofila. "Além de produzirmos este inseticida natural, ainda utilizamos as sobras das plantações de banana, o que pode trazer uma fonte de renda extra aos produtores", disse.
Mas enquanto o controle da praga não é implementado, Souza apresenta uma alternativa que promete levar esperança às pessoas que não suportam mais serem alvo dos insetos. Trata-se de um creme feito com o extrato da alfavaca-cravo, também chamada de majericão-cravo ou manjericão-chinesa. Em testes, a pomada feita com a essência da planta chegou a afastar os mosquitos por até oito horas.
Um dos grandes entraves para a produção em massa do repelente, entretanto, é a falta da matéria-prima necessária. "Precisamos de 40 quilos de folhas para tirar 100 ml de essência, mas ainda não temos roças da planta, por isso estamos estimulando os agricultores a fazerem isso. Como a produção do repelente da alfavaca-cravo é muito simples, superado esse problema em dois anos poderemos partir para a produção em larga escala."
Debates prosseguem
O deputado Patricio Destro (PSB), que preside a Comissão de Proteção Civil, destacou a importância do trabalho realizado por Souza, o qual qualificou como pioneiro e com potencial para beneficiar milhões de pessoas. "Existem em torno de 1,4 mil espécies de maruins espalhadas por todo o mundo e se esse fosse um problema fácil de resolver, já teria sido feito. Mas acredito que estamos muito próximos, senão de resolvê-lo, mas de diminuir as dificuldades que encontramos aqui e que essa audiência foi um passo importante neste sentido."
O parlamentar anunciou ainda a realização de outros eventos do tipo, sendo o próximo em março de 2018. "A ideia é marcarmos outras reuniões para ver o desenvolvimento do assunto e avançarmos em outros próximos encaminhamentos. Para estes próximos encontros convidaremos também representantes da Epagri e das secretarias da Agricultura, Desenvolvimento Econômico e Sustentável e da Saúde."
Agência AL