Assembleia debate perspectivas de uso da ponte Hercílio Luz
Fechada ao tráfego há 27 anos, a ponte Hercílio Luz - primeira ligação terrestre entre a Ilha de Santa Catarina e o continente e detentora do título de patrimônio histórico, artístico e arquitetônico nacional - atravessa um complexo processo de restauração que promete reativá-la até o final de 2018. Ante a perspectiva com o fato, intensificam-se as discussões em torno da futura destinação da estrutura, com grupos defendendo seu uso para diminuir os problemas de mobilidade na capital catarinense ou como instrumento de apoio ao turismo.
Um simpósio realizado na manhã desta quarta-feira (28) na Assembleia Legislativa pela Comissão de Transportes e Desenvolvimento Urbano, no qual participaram gestores públicos, especialistas em trânsito e representantes de entidades sociais, buscou colocar frente a frente os defensores das duas propostas.
Presente ao evento, o engenheiro do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra), Wenceslau Diotallévy, que atua como fiscal das obras de restauração da Hercílio Luz, afirmou que o governo pretende priorizar o uso da ponte para o tráfego de veículos. Quando a obra estiver concluída, disse, a intenção é que a ligação seja aberta à passagem de automóveis e caminhões leves, o que possibilitaria absorver até 20% dos cerca de 150 mil veículos que atualmente atravessam diariamente as pontes Colombo Salles e Pedro Ivo Campos.
A demanda turística, entretanto, não está excluída do planejamento do governo, disse. “Antes da reforma havia apenas uma via para a travessia de pedestres e ciclistas, no lado norte, mas com o aumento em 2,5 metros da plataforma, haverá uma segunda, que se constituirá em mais um equipamento a ser inserido no sistema viário de Florianópolis.”
Já Lúcio da Silva Filho, que integra a Associação Amigos do Parque da Luz (AAPLuz), entidade voltada a preservação da zona urbana localizada na cabeceira insular da ponte, argumenta que a estrutura é, oficialmente, um monumento histórico e deve servir para a contemplação e a promoção do turismo no município.
No ano de 1995, como servidor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ele fez parte da comissão que para que o Ministério do Turismo reconhecesse a ponte como patrimônio histórico nacional. "Queremos que ela se torne uma passarela para todos, para o bem-estar da população, para receber bem o turista em Florianópolis e como ícone da capital e obra de arte de engenharia. Ela precisa ser revitalizada sim, mas também valorizada no seu conjunto, do qual fazem parte as cabeceiras e todo o entorno envolvendo o cenário paisagístico.”
Neste sentido, disse, a AAPLuz propõe que pedestres e ciclistas sejam priorizados, reservando-se uma pista de rodagem para a circulação de ônibus panorâmicos e bondes. A ideia, segundo afirmou, já contaria com a simpatia de alguns gestores públicos. “A prefeitura do município está atenta e vai no mesmo sentido da associação. Da mesma forma, também estamos em um processo de entendimento com o governo do Estado.”
Já o deputado João Amin (PP), que preside a Comissão de Transportes, afirmou que, particularmente, é partidário da utilização da ponte como suporte ao trânsito de veículos, mas que todas as propostas devem ser analisadas. “Sabemos dessas necessidades e da parceria do município com o Estado, por isso essa provocação da Comissão de Transportes com este evento, para que a ponte, depois de meio bilhão de reais gastos, tenha um uso adequado.”
Histórico da ponte
Foram três anos e meio de trabalho. A Ponte Hercílio Luz foi construída entre novembro de 1922 e maio de 1926 pela empresa americana Byington & Sundstrom. O projeto é de autoria do engenheiro David Barnard Steinman, das firmas associadas Robinson & Steinman e todo o material utilizado na construção veio de navio dos Estados Unidos. A inauguração oficial, com liberação para o trânsito, aconteceu em 13 de maio de 1926.
A ideia inicial era nomeá-la Ponte da Independência, mas optou-se pelo nome Hercílio Luz, em homenagem ao governador do Estado que foi um dos principais responsáveis pela idealização da obra.
Segundo o historiador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Angelo Renato Biléssimo, um dos principais objetivos de Hercílio Luz com a construção da ponte era consolidar Florianópolis como centro político e administrativo de Santa Catarina. “À época, havia uma forte pressão para transferir a capital para Lages ou Curitibanos, cidades localizadas em uma área mais central do estado e de melhor acesso, tendo em vista que a travessia para Florianópolis era toda feita por balsas.”
Hercílio Luz, entretanto, não chegou a ver a obra concluída. Em meados de 1924, sua saúde declinou rapidamente, possivelmente devido a um câncer de estômago e, providenciou-se uma inauguração simbólica da ponte, em 8 de outubro do mesmo ano, por meio de uma réplica de madeira construída junto ao trapiche de Florianópolis. Hercílio Luz faleceria 12 dias após o evento.
Segundo registros da época, a obra custou o equivalente a dois orçamentos anuais do Estado de Santa Catarina, quantia mediante a financiamentos junto a instituições financeiras norte-americanas. O pagamento do empréstimo só seria finalizado em 1978, mais de 50 anos após a inauguração da obra.
A utilização como travessia entre a Ilha de Santa Catarina e o continente perdurou, de forma ininterrupta, até o dia em 22 de janeiro de 1982, quando foi interditada ao tráfego. Seis anos depois, em 15 de março de 1988, chegou a ser parcialmente reaberta, mas somente para uso de pedestres, bicicletas, motocicletas e veículos de tração animal.
O fechamento definitivo para o trânsito ocorreu no dia 4 de julho de 1991, ocasião em que os gestores da época, temendo o colapso da estrutura, iniciaram a retirada do piso asfáltico do seu vão central, na tentativa de diminuir-lhe o peso.
Ainda que esteja fechada ao trânsito há 27 anos, a ponte Hercílio Luz está consolidada como um dos símbolos de Florianópolis e Santa Catarina, tendo sido oficialmente tombada como Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico municipal em 4 de agosto de 1992, e estadual em 13 de maio de 1997. No mesmo ano, o Ministério da Cultura também concedeu o mesmo reconhecimento à estrutura em nível nacional.
A ponte em números
- Extensão total: 821 metros;
- Viaduto insular: 259 metros;
- Viaduto continental: 222,5 metros;
- Vão central: 339,5 metros;
- Altura das torres: 74,21 metros, a partir do nível do mar;
- Altura do vão pênsil: 30,86 metros, a partir do nível do mar;
- Peso da estrutura de aço: aproximadamente 5 mil toneladas
Agência AL