Apae de Ituporanga usa matemática para alavancar aprendizagem de alunos
O uso da matemática para alavancar a aprendizagem dos alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Ituporanga, no Alto Vale do Itajaí, resultou em projetos reconhecidos estadual e nacionalmente.
“Já trabalhei com português e história e chegava no final do ano frustrada, não tinha certeza se tinham aprendido algo, mas com a matemática eles avançam e você vê o avanço”, informou a coordenadora pedagógica Liliane Hoffmann Justen, há 17 anos professora da Apae de Ituporanga.
O projeto mais exitoso foi “A matemática na trilha das compras”, de 2016, que representou o estado na VI Feira Nacional de Matemática, categoria educação especial, realizada em Rio Branco (AC). É um jogo de tabuleiro cujo objetivo é comprar e pagar os ingredientes utilizados na oficina de produção de doces da instituição.
O jogo consiste em uma mesa de plástico com um tabuleiro de 30 casas, dois carrinhos de compras (miniaturas), duas bolsas com dinheiro e pequenos recortes das embalagens dos produtos (ovos, açúcar, trigo, leite, margarina, fermento, chocolate em pó e em barra) dispostos em duas prateleiras.
O aluno joga o dado, confere o número e faz o carrinho percorrer as casas indicadas; se cai em uma casa que determina a compra de farinha trigo, o jogador apanha o trigo na prateleira e coloca-o no carrinho. No final, confere os produtos, soma os respectivos preços e paga com as cédulas que estão na bolsa.
“Foi uma longa jornada, começou em 2016 na sala de produção de doces. Eram dez alunos de 30 a 50 anos que não conheciam nem os rótulos dos ingredientes. Então começamos a programar uma trilha em que eles iam comprando os produtos que usavam. Logo a classe toda estava habituada a reconhecer os produtos”, explicou a coordenadora pedagógica.
“Daí aumentamos a dificuldade, colocamos números com os preços dos ingredientes e eles teriam de comprar e pagar. Começamos com moedas de um real, quando terminavam a compra, tinham de somar e dizer a quantia. Em seguida trocamos as moedas por cédulas para aprenderem a trocar cinco moedas de um real por uma cédula de cinco. Nem todos conseguiram chegar a este entendimento, não compreenderam o aspecto abstrato, mas a Adriana e o Volney Rohling conseguiram e hoje os dois têm conhecimento do sistema monetário brasileiro”, afirmou Liliane Justen.
“Hoje ninguém me engana, aprendi a comprar, somar e pagar tudo com dinheiro de verdade”, revelou Adriana da Silva (46), aluna da Apae de Ituporanga, feliz da vida porque consegue ir sozinha ao supermercado. Ela possui deficiência moderada e frequenta a educação especial desde os 18 anos.
“Nosso objetivo é transformá-los em seres independentes. Mesmo com dificuldades, eles têm condições de aprender, apesar de que muitas famílias não acreditam no processo”, lamentou a professora.
Teoria e prática
Além da aprendizagem através do jogo, os alunos da Apae de Ituporanga fazem compras reais no supermercado, para abastecer a oficina de produção de doces.
“Eles vendem os docinhos que fazem e com o dinheiro vão no supermercado e compram novamente os ingredientes. Aprenderam a guardar os produtos na prateleira ou na geladeira, conhecimentos simples, mas que eles não estavam habituados a fazer em casa”, contou Cintia Mara Kletemberg, professora da Apae e responsável pela produção de doces.
“Depois que vendem os doces, dividem o dinheiro entre eles e escolhem comprar coisas que estão precisando. O projeto vai até a divisão do lucro, eles entendem todo o processo”, completou Liliane Justen.
“Dá para comprar coisas que a gente quer, eu compro muita roupa, pijama e brincos, que eu gosto de usar brinco”, afirmou Adriana.
Matemática & educação física
Atualmente os números e a soma deles são elementos indispensáveis nos projetos pedagógicos da Escola Especial da Amizade, como é chamada a Apae de Ituporanga.
O professor de educação física, Luan Campolino Marquez, p. ex., ajustou os conteúdos da disciplina à matemática recorrendo ao jogo de dardos e ao controle semestral de peso e percentual de gordura dos alunos.
No caso do jogo de dardos, dois alunos competem entre si, cada um atirando dois dardos no alvo.
“Eles observam a numeração da pontuação, escrevem na lousa os números e montam a operação de adição; ou pegam as fichas que contêm os números tradicionais e os colocam na mesa, preparando a adição; então pegam as quantidades correspondentes aos números em quadradinhos de material dourado, colocando-os embaixo de cada número; após essa etapa, o jogador junta os quadradinhos e conta-os para conhecer o resultado final”, ensinou Luan.
O professor também utiliza a pesagem semestral dos alunos para acompanhar e comparar a evolução do peso e da taxa de gordura.
“Quando chega a hora da pesagem eles ficam apreensivos para compararem os resultados. Uma experiência muito prazerosa no meu primeiro ano como professor”, revelou Luan.
Alimentando a matemática
Este ano a Apae de Ituporanga emplacou outro projeto na XX Femacri, feira regional de matemática e ciências: “Alimentando a matemática”, escolhido para representar a região na XXXIII Feira Catarinense de Matemática, que acontecerá de 27 a 29 de setembro, em Criciúma.
É outro jogo de tabuleiro, com dados, casas e vários nomes de alimentos. O objetivo é obter o maior número de pontos. Se o dado levar o jogador a uma casa que contém alimento saudável, ele ganha pontos; se o alimento não for saudável, perde pontos.
Exposição interna
No dia da visita da Agência AL à Apae de Ituporanga, quinta-feira (23), professores e alunos estavam expondo os projetos executados ao longo do primeiro semestre de 2018.
Estavam sendo exibidos ao público “Alimentando a matemática”, “Lançamento de dardo na matemática” e “Transitando com a matemática”.
Agência AL