Alesc sedia 4º Congresso Catarinense sobre Autismo
O autismo, suas formas de identificação e as maneiras de incluir os autistas na sociedade foram temas centrais do 4º Congresso Catarinense Sobre Autismo, realizado nesta quinta-feira (4) no auditório Antonieta de Barros. O evento, uma promoção da Assembleia Legislativa, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, reuniu cerca de 700 técnicos de instituições que atendem esta parcela da população em Santa Catarina.
O presidente da Casa, deputado Julio Garcia (PSD), resgatou a parceria entre o Legislativo estadual e os movimentos de apoio como os que trabalham com os autistas. “Esta aproximação da Alesc com os movimentos sociais – de modo especial o das Apaes e o movimento que trabalha com autismo e tantos outros segmentos – já vem desde 2005 e só foi ampliada. Quando o então deputado José Nei Ascari propôs a criação da comissão para tratar especificamente desse assunto, esse entrosamento aumentou,” disse o deputado, que aproveitou para lançar um desafio aos colegas parlamentares. “Vamos encontrar caminhos para fazer a lei do autista.”
A iniciativa foi elogiada pelo agora conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, José Nei Ascari. “O esforço de ampliar a lei das Apaes para os autistas é alvissareira”, avaliou. Ascari foi um dos homenageados pela Associação Catarinense de Autismo na abertura do congresso.
Parceria
A importância de eventos como esse para maior compreensão e inclusão de autistas pela sociedade foi destacada por parlamentares e pelo palestrante Clay Brites, pediatra especialista em neurologia infantil. Para o médico, nada funciona mais do que conhecimento. “A gente sabe que quanto mais se sabe sobre autismo, mais se identifica cedo, mais se sabe o que fazer e como acompanhar essas crianças. A hora em que se conhece profundamente, o preconceito vai embora.”
Segundo o presidente da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência, deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB), eventos como esse ajudam a superar barreiras. “Acho que esse braço estendido da Alesc é muito importante. E está aí a presença de quase 700 técnicos espalhados no estado inteiro que querem saber um pouco mais. Então, tenho certeza de que este é mais um grande evento que vai ficar na história da Alesc e eu estou muito honrado em ser o presidente desta comissão.”
A deputada Marlene Fengler (PSD), presidente da Escola do Legislativo, louvou o trabalho conjunto entre entidades em favor dos autistas. “Acho que o nome é parceria, inclusão, empoderamento, é você juntar Alesc, Escola do Legislativo, todas as entidades ligadas para a gente transformar ou criar um ambiente para os autistas poderem ter uma vida, serem mais incluídos tanto profissionalmente quanto na sociedade.”
Emoção
A emoção maior da abertura do congresso ficou por conta do estudante e escritor autista Marcos Petry. Ao violão, Petry cantou o “Hino do Autista” e foi aplaudido de pé pelos participantes. Representante na mesa de abertura de todos os que têm o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Petry viu o evento como uma boa forma de conscientizar as pessoas a aprenderem mais sobre o autismo e terem outros olhos sobre o espectro. “É uma condição um pouco diferente de ser, só isso, mas que tem toda sua potencialidade”, disse. “E a cada ano esse evento mostra mais como que o autista pode evoluir, como ele pode contribuir e ser um ser autônomo, independente, na medida em que ele faz a caminhada dentro do espectro. Ele pode sempre evoluir. Acho que um evento assim evidencia isso para todos nós, sejamos autistas ou não.”
Petry tem um canal no YouTube que trata especificamente do tema, “O Diário de um Autista”. Ele cursa uma pós-graduação internacional em TEA que, avalia, vai ajudá-lo na pesquisa para escrever mais livros sobre o assunto – são quatro até o momento. “É bom, por exemplo, que as pessoas sabem mais sobre o autismo por causa do canal, o que eu já fiz e o que vou fazer. É muito bom trocar experiências e espero que continue assim, em curva ascendente, para procurar o autismo e o que se pode fazer por ele.”
Em sua busca pela maior compreensão do TEA por parte da população em geral, Petry faz questão de tranquilizar mesmo quem, de repente, se vê diante de um diagnóstico do espectro. “Eu diria que o autismo é uma condição como qualquer outra. O que acontece é que algumas coisas no mundo serão percebidas de maneira diferente: sons, cheiros, imagens, luzes principalmente. E aí a pessoa não pode se assustar com isso. O que ela pode fazer é se informar”, afirmou. “Mas o que eu diria principalmente é que não é um bicho de sete cabeças e com muito esforço, com muito afinco, a gente pode vencer preconceitos.”
Diagnóstico precoce
Em sua palestra, o médico Clay Brites destacou a importância de descobrir o mais cedo possível o TEA para proporcionar mais qualidade de vida às pessoas. “Tem que ter a cultura do diagnóstico precoce. É possível fazer isso antes de um ano de idade.”
Segundo Brites, a definição de políticas públicas para o tratamento de TEA deve seguir duas premissas básicas. A primeira delas é basear-se em evidências científicas. “A segunda é proporcionar meios de diagnóstico precoce, de prevenção precoce e de capacitação do sistema de entidades e escolas.”