Alesc define prazo para avaliação integrada sobre mobilidade urbana
FOTO: Vicente Schmitt/Agência AL
O próximo dia 15 de março foi definido como a data para uma reunião integrada entre os municípios da Grande Florianópolis para fazer avançar a questão da mobilidade urbana. O encaminhamento surgiu durante audiência pública na Comissão de Transportes e Desenvolvimento Urbano da Assembleia Legislativa, na manhã desta terça-feira (22), proposta pela Bancada do PT.
A deputada Luciane Carminatti (PT) destacou que o tema não é novo. Segundo ela, os moradores e quem transita pela região da Grande Florianópolis convivem com a necessidade da integração dos vários modais e vivem diante dos problemas do transporte coletivo e das vias estaduais e federais, além da falta de uma solução para o transporte marítimo, precisam de uma resposta.
“É fundamental que os governos conversem, mas infelizmente eles não têm conversado. Como se pode pensar em um plano diretor integrado sem diálogo?”, indagou. Ao final da audiência, a parlamentar contou que ficou estabelecido que até o dia 15 de março os municípios precisam indicar representantes com poder de decisão. “Para que se coloquem todos os projetos na mesa e se comece uma nova fase”, comentou.
Líder da bancada do PT, o deputado Fabiano da Luz abriu a reunião citando que é necessário saber o que vai acontecer com as rodovias estaduais, federais e municipais da região. “Como é que vai ser essa integração, o que vai facilitar e onde estão os gargalos, para dar transparência de tudo que está acontecendo para que a população possa ir entendendo e também se integrando com as mudanças do trânsito que acontecerão no eixo da Grande Florianópolis”, explicou.
O deputado Neodi Saretta (PT) citou a preocupação dos moradores de Palhoça, especialmente do bairro Aririú. “O contorno deve separar o trecho entre a avenida Bom Jesus de Nazaré com a avenida São Cristóvão. Vai dificultar para as pessoas conseguirem transitar, vai isolar igreja, comércios, vai haver prejuízos. É uma questão que já foi bastante falada, mas as obras estão em andamento e não há um encaminhamento sobre isso”, criticou.
Para a deputada Marlene Fengler (PSD) o tema não envolve municípios separados. “É uma região metropolitana e os problemas e soluções não são de um município ou de outro. São de todos. É fundamental que qualquer iniciativa seja feita de modo conjunto. São debates como esse que a gente consegue trazer soluções e encaminhamentos importantes”, avaliou.
O coordenador regional da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Gilmar Cardoso, afirmou que a obra é complexa, com mais de mil unidades desapropriadas, além de gerar 2,3 mil empregos diretos. “Nossa expectativa é que, dentro do prazo definido, a obra vai estar disponível para a comunidade e para todos nós da Grande Florianópolis”, citou.
Cardoso, por outro lado, reconheceu a relevância da audiência. “Precisamos ter como norte que o contorno permaneça com a função de escoamento do tráfego rodoviário na região. E que possamos integrá-lo com as demais rodovias de uma forma que ele não passe a ter o mesmo problema que levou à necessidade de ter o contorno daqui alguns anos”, contou.
O que diz o Estado
O secretário de Estado da Infraestrutura e Mobilidade, Tiago Vieira, que participou da audiência por videoconferência, garantiu que o governo do Estado sabe da importância da situação para a Grande Florianópolis. “Todos têm procurado trabalhar neste assunto. Falta de nossa parte, de todos os envolvidos, colocar todos os projetos na mesa para fazer um grande plano de desenvolvimento para a região metropolitana”, reconheceu.
Segundo ele, a mobilidade é um tema caro. “Por isso criamos o SC + Mobilidade, que foi lançado para dar mais transparência para que qualquer pessoa possa acompanhar por um website o planejamento macro do governo do Estado para a Grande Florianópolis. Uma das ações é a integração das cidades da região. Além disso, temos procurado fazer implantação de rodovias que permitam facilitar a mobilidade. Um exemplo é a SC-281, de São Pedro de Alcântara a Angelina. Outro exemplo é a ponte do Rio Cubatão, que cria uma rota alternativa para quem quer acessar a BR-101 vindo da BR-282”, relatou.
Municípios
O prefeito de Biguaçu, Salmir da Silva (PSDB), também falou sobre a necessidade de se discutir efetivamente uma integração por completo. “Senão a gente só vai jogando o problema para o vizinho. E a gente vê que isso em vários momentos acaba acontecendo. Com a terceira pista na BR-101 na região da Palhoça hoje a gente vê que as filas estão lá na ponte ou quase lá na Polícia Rodoviária de Biguaçu”, exemplificou.
Na opinião dele, a questão do contorno viário acaba trazendo sérios problemas para os municípios. “Não só na sobrecarga que traz para o município na educação, na saúde, na infraestrutura local, com a vida de vários profissionais envolvidos, mas também com os transtornos provocados nas rodovias e acessos municipais. Isso simplesmente fica a cargo do município para dar a atenção necessária para que a população que está ao entorno tenha o menor impacto possível”, comentou.
O prefeito lembrou ainda que, além de um “planejamento de início, meio e fim”, é preciso evoluir na questão do transporte coletivo, da Beira-Mar Continental e da Avenida das Torres como outras vias alternativas sem sobrecarregar as rodovias federais, além do impasse sobre o transporte marítimo precisar evoluir de forma organizada e planejada.
Representando a Capital, o secretário de Mobilidade Urbana de Florianópolis, Michel de Andrado Mittmann, assegurou que o município tem trabalhado em cooperação com o governo do Estado nas ações de mobilidade. “Entre elas a questão do transporte náutico, que tem evoluído. Florianópolis, diferente das demais cidades, não está no eixo da BR, mas é receptora de viagens urbanas também. Temos uma rodovia federal que acessa as pontes e ali a gente tem uma mistura de trânsitos e falta prioridade para o transporte coletivo auxiliar na mobilidade urbana. Tem que rever, além disso, o papel das rodovias estaduais intraurbanas, Florianópolis é um caso típico disso. Elas fazem parte do dia a dia da cidade, como a SC-401”, avaliou.
Para o prefeito de Palhoça, Eduardo Freccia (PSD), existe preocupação com as interferências do contorno viário no município. “Tivemos já grandes ganhos com a execução da terceira pista. Temos esse diálogo muito grande com a Autopista e a ANTT e estamos avançando. Mas gostaria de chamar a atenção para que se possa novamente reunir todas as partes. Sei que a concessionária já tem projetos para melhorar o entroncamento entre a Avenida São Cristóvão e o Contorno, para que a gente possa trazer alternativas àquela população, de um bairro tradicional cujos moradores vão ficar exclusos de todo o restante do bairro”, lamentou.
Maria de Fátima Medeiros, da Associação dos Moradores do Aririú, trouxe a realidade dos moradores que vivem entre as avenidas Bom Jesus Nazaré e São Cristóvão. “O túnel que pedimos está previsto em lei municipal. É uma estrada mais antiga que o próprio município e vamos ficar com mais de cinco mil moradores segregados de tudo, do acesso à farmácia, ao posto de saúde. E mais 50 comércios que vão fechar as propostas, pois não haverá mais trânsito”, reclamou. De acordo com ela, até uma escola municipal que atende mais de 600 crianças ficará isolada.
O secretário de Segurança e Defesa Social e de Trânsito de São José, Vanio Luiz Dalmanco, alegou que a situação local é bastante complicada. “A cidade precisa desta alça de contorno, que seja concluída o mais rápido possível, mas precisa que a SC-281 seja melhorada, pois o movimento vai aumentar muito quando tudo estiver funcionando. E também precisa se resolver a questão do transporte coletivo e integrado para a região metropolitana o mais breve possível”, afirmou.
Diálogo
O diretor de Operações Sul da Arteris, Antonio César Ribas Sass, explicou que “o bom relacionamento” com a Prefeitura de Palhoça para o andamento da terceira pista já provocou uma redução de mais de 50% no número de acidentes. “Estamos com vários projetos em andamento, um deles é a ligação da marginal de Biguaçu no sentido Norte com a construção de uma ponte. São mais de 600 metros e a ligação. Entendemos que a BR-101 precisa de uma ampliação de capacidade contínua frente ao crescimento que ela tem demonstrado”, citou.
Por outro lado, o diretor também concordou que é necessário que cada setor coloque os próprios projetos para que uma solução conjunta seja tomada. “Sobre a avenida São Cristóvão, temos um projeto de uma alça que passa sobre o contorno, mas estamos estudando outras alternativas. Estamos atentos aos anseios de todos e mantemos o diálogo sempre aberto”, garantiu.
Presente na audiência, a ex-senadora Ideli Salvatti, criticou a ausência do Dnit no encontro. “A Grande Florianópolis tem duas rodovias federais de alto movimento e o Dnit não comparece aqui na audiência pública”, apontou.
Ela questionou também a situação das rodovias estaduais SC-108, entre Santa Rosa de Lima e Angelina e de lá até Major Gercino, e a SC-281, de Angelina a São Pedro de Alcântara. “Estão um caos, mas nós estamos dando recursos para obra federal. Então por que não se aplica aqui nas nossas SCs que são necessárias para o desenvolvimento da região?”, questionou.
A vereadora de Florianópolis, Carla Ayres (PT), citou que a região está há alguns anos sem ter um órgão responsável para reunir as partes envolvidas. “Então a Bancada e esta Casa tomarem a responsabilidade para si é extremamente importante, pois estamos vivendo um retrocesso de pensares e de pensar a cidade. Aprovamos a discussão integrada na Câmara junto com a Assembleia, mas infelizmente a Câmara Municipal de Florianópolis se negou a aprovar uma audiência pública sobre a questão da Beira-Mar Continental e como impactará os demais municípios”, relatou.