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19/08/2024 - 10h38min

Agosto Dourado: pediatra Tio Cecim fala sobre a importância do aleitamento materno

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FOTO: Vicente Schmitt/Agência AL

No mês Agosto Dourado, de conscientização sobre a importância do aleitamento materno, a Agência AL aprofunda o debate sobre o tema. Nós conversamos com o médico pediatra Cecim El Achkar, mais conhecido como Tio Cecim, sobre diversos assuntos ligados à amamentação, como os benefícios para mãe e bebê, dicas para quem tem dificuldade de amamentar, entre outros. Confira a entrevista abaixo:

Pergunta: Quais os principais benefícios do leite materno, tanto para a mãe quanto para o bebê?
Tio Cecim:
Vou falar primeiro da mãe. Para a mãe é importante porque ela vai voltar para o peso dela mais rápido. Também aquele peito que cresceu e ficou um pouco flácido, quanto mais ela amamentar, mais ela vai recuperar a musculatura do peito.

Fora isso, ela vai cumprir a função de mãe, o que perpetua uma mãe é um bebê, e o que mais fascina a mãe é amamentar o seu bebê. Então ela vai ter um resultado físico, um resultado emocional e um resultado de realização pessoal. Isso para ela. É cansativo, mas é um resultado importante para a vida dela. Para o bebê, ele vai tomar o leite da espécie dele, quer dizer um bebê tomando o leite da mãe, um bezerro tomando o leite da vaca, cada um com a sua espécie.

Segundo, a arcada dentada desse bebê é sete vezes mais desenvolvida do que um bebê que usa a fórmula ou toma madeira. Bebê que mama no peito tem uma imunidade muito maior do que um bebê que mama na fórmula. O intestino de um bebê que mama no peito é diferente do intestino de um bebê que mama fórmula. Vocês sabiam que a única forma de diarreia normal é quem mama no peito, então todo bebê que mama no peito, nas primeiras semanas, toda vez que o bebê mama faz uma evacuação diarréica.

Na fórmula não é assim. Para a intelectualidade do bebê, porque o bebê passa nove meses dentro da barriga da mãe, que é um paraíso, quando ele vem para fora, ele tem um trauma, um trauma que ele precisa respirar, ele precisa comer, ele perde aquele lago que ele estava, aquele paraíso, então ele sofre o maior trauma da vida dele. O próprio parto no nascimento seja no parto normal, seja em uma cesárea, é um grande trauma.

Quando você sofre um trauma, você precisa de aconchego e nada mais do que o aconchego de uma mãe abraçando seu bebê, levando ele ao peito e ele recebendo calor, luz, amor e o alimento que ele precisa. Então essas são as principais vantagens, tanto para a mãe quanto para o bebê, sem contar que o leite está disponível 24 horas por dia para o bebê, na temperatura ideal, na quantidade ideal. Quando você tem uma fórmula, você tem que preparar o leite.

Você tem um custo financeiro, você tem um custo operacional. Você tem um custo de tempo. Então só a economia de tempo, de valores e de nutrição já vale totalmente a pena, sem contar que você pode afirmar com certeza hoje que o leite materno, quanto mais bebês forem amamentados ao seio, menos nós vamos ter problema com o planeta. Então você pode dizer que, além de tudo, o amamentar é o maior ato ecológico para preservar o nosso planeta. 

Pergunta: Com tantas opções de fórmula nas suas variedades, por que o leite materno continua sendo o melhor alimento? 
Tio Cecim:
O leite materno é o leite feito para o bebê na temperatura normal, com todos os nutrientes que a criança precisa. O intestino do bebê desde a sua boca até a saída dele, todas as substâncias que estão ali são para que o bebê produza a melhor saúde, e você sabe que nós temos um cérebro aqui e um cérebro no intestino. A gente considera o intestino hoje o segundo cérebro e 60% dos nutrientes hoje são produzidos no intestino.

Então, se você colocar como primeiro alimento de um bebê o leite materno você está dando uma garantia que aquele segundo cérebro vai funcionar plenamente. Outra coisa, existe no Rio Grande do Sul, um acompanhamento dos bebês de toda a cidade durante 40 anos. Quando essas crianças fizeram 30 anos, fez-se uma pesquisa e se comparou quem mamou no peito até seis meses e quem não mamou, e qual era a qualidade de todos os parâmetros.

Aquele que mamou no peito ele tinha uma vida social melhor, um emprego melhor, uma saúde física melhor, uma saúde mental melhor, melhores condições de adaptação no meio ambiente. Então, em todos os principais parâmetros é disparada a diferença entre fórmula e leite materno. 

Pergunta: A gente sabe também que a amamentação é um processo muito individual. Tem muitas mães que infelizmente não conseguem amamentar, então o que dizer para essas mães para auxiliá-las com esta frustração?
Tio Cecim:
As mulheres do século XX, as nossas mães, as nossas avós, elas nasciam, cresciam para dar de mamar, para casar, para cuidar do filho e para cuidar da casa. As mulheres do século XXI vieram em condições de igualdade. Então, elas nasceram, foram para a escola, tiveram a sua vida social, tiveram a sua vida profissional, a academia, seu grupo de amigos, igual o homem. Então, hoje a mulher tem as mesmas oportunidades que o homem com a vantagem de ela ser um ser muito mais completo.

Então, quando ela se propõe, dentro daquela vida completa dela, a ter um parceiro, uma parceira, engravidar ter um bebê e amamentar, para isso ela vai precisar abrir mão de muitas coisas que estavam no dia a dia dela. Então, se ela não consegue fazer aquilo ou se ela não tem condições, se ela não quer fazer aquilo, ela não vai amamentar.

Então, o amamentar não é mais como no século XX, um ato instintivo. Ele é um ato que você precisa aprender, assim como você vai aprender a ler, escrever, fazer uma faculdade, e cada um tem uma dificuldade maior, para aprender inglês, para aprender francês, para andar de bicicleta. Assim também é com as mulheres. Cada uma delas vai ter uma dificuldade maior ou menor para amamentar. E é aí que a gente precisa ensinar.

Primeira coisa, alguém para ensinar e alguém para estar ali full time até que essa mulher aprenda a amamentar. Segundo, você tem alguns critérios, primeiro amamentar é uma atividade física de alta performance. É como se você tivesse que fazer todo dia uma maratona de 42 km.

Então, o que você precisa é de uma rede de apoio que faça todas as outras atividades da casa para que você se concentre 100% no aleitamento. Então, se não tiver uma rede de apoio, não existe nenhuma mãe que vai conseguir amamentar. Até a mãe ganhar o bebê, o peito dela foi de 38 para 42 de 42 para 46, e aí é como se aquilo enchesse de pó, o que ela vai precisar é renovar a água. A mãe que amamenta começa a sentir muita sede.

O cérebro está dizendo assim: eu preciso de água para renovar aquele leite para que o leite saia na quantidade adequada. Então, a mulher que amamenta precisa ter ingestão hídrica e uma dieta hipercalórica, porque você sabe que se você tiver uma dieta hipercalórica a tua nutrição vai ser mais calórica, o bebê vai se satisfazer mais e vai ganhar mais peso, então isso é fundamental. E, por último, ela precisa manter uma rotina. Rotina significa livre demanda e livre demanda não é esculhambação.

Toda vez que o bebê mama, ele solicita. Então, no começo, o estômago dele é uma bolinha pequenininha, cabe só cinco ml de leite. No segundo dia cabe 10, depois cabe 15, e assim sucessivamente. Aquele estômago vai crescendo e ele vai mamando mais tempo. Quando a mãe ganha um bebê, ela não ganha uma visita, ela ganha uma outra pessoa que vai morar com ela. E quando alguém vem morar com você, você diz aqui: na minha casa, a gente toma café às oito, almoça meio-dia, janta às seis, e às nove todo mundo dorme.

Então esse bebê vai ter que entrar para essa rotina, então o que a gente orienta às mães é para que façam a amamentação durante o dia. O bebê pode pedir de hora em hora, a cada uma ou duas horas. O que a gente não quer é que o bebê troque o dia pela noite, porque tem bebê que vai nascer noturno. Existem dois tipos de seres humanos, o diurno e o noturno. Aquele que acorda cedo e dorme cedo, e aquele que acorda tarde e dorme tarde. Com o bebê, ele não pode ser noturno. Ele é obrigado a se adaptar para ser diurno.

Para isso, você tem que, na primeira semana, fazer intervalo de duas horas, duas horas e meia na segunda semana, e a partir da terceira semana, três horas. A partir dali, se estiver dormindo, você acorda, e de noite não. Depois das 10 horas da noite, ele pode dormir até o outro dia de manhã. O ser humano cresce de duas formas completamente antagônicas.

Ele cresce durante o dia mamando. Quanto mais ele mamar durante o dia, mais ele cresce. E ele cresce de noite dormindo, com o jejum. Quanto mais jejum prolongado, o cérebro produz o hormônio do crescimento. Então, de noite ninguém precisa comer e o bebê também não. Se a mãe consegue todas essas premissas que a gente falou, ela vai conseguir amamentar o seu bebê muito bem.

Pergunta: Qual a importância do Agosto Dourado e de iniciativas como essa, de incentivo à amamentação? 
Tio Cecim:
Este ano, o Agosto Dourado tem como lema “inclusão e exclusão”. Acolher as mulheres que estão excluídas, as mulheres que estão em dificuldade, as mulheres que estão na periferia, as mulheres que não têm condição física, não têm condição mental adequada, não têm condição estrutural de família, acolher as mulheres excluídas em toda a sua dimensão.

Essa é a nossa grande bandeira e eu quero aqui sugerir que o estado de Santa Catarina seja de novo pioneiro, porque Santa Catarina foi o primeiro estado do Brasil a instituir o mês Agosto Dourado. O Brasil só aderiu depois de seis anos. Queremos agora instituir aquilo que a gente chama de apoio pós nascimento. Em muitos países da Europa, quando o bebê nasce e vai para casa, o Estado disponibiliza para as mulheres um apoio técnico, tático e de orientação.

Essa mulher tem direito, por 12 a 15 dias, de uma orientadora que vai na casa e passa oito horas por dia. Ela vai ensinar a amamentar, vai ajudar a fazer a comida, vai ajudar a dar banho no bebê, vai ajudar em todos os cuidados. Eu sugiro que Santa Catarina, que essa Assembleia, que sempre deu a mão, deu os braços e deu muito amor ao aleitamento materno, fizesse um projeto desse, pelo menos para as mulheres excluídas, para as mulheres da periferia.

Que escolhesse um grupo pequeno e começasse a dar a essas mulheres uma condição. Se ela amamentar, aquele bebê vai ficar menos doente. Se ela amamentar, ela não vai precisar da fórmula. E se ela amamentar, ela vai ter saúde e vai ter economia. Uma fórmula hoje custa R$ 90. Só o aleitamento materno custa zero. O aleitamento de fórmula custa mais de R$ 1000, que é quase um salário-mínimo.

Então, o Estado estará provendo essa mulher da melhor nutrição, estará provendo essa mulher de uma saúde física e mental para ela e para a criança. Estará economizando para o Estado, economizando para o planeta, não tendo a fórmula, e economizando para o sistema de saúde, porque aquele bebê que mama, ele vai ficar muito menos doente e vai ocupar muito menos o sistema de saúde. Santa Catarina mais uma vez vai dar um exemplo de como se cuida do ser humano em todas as dimensões, e nós temos dois lados que são muito vulneráveis.

É aquela mulher que está amamentando, aquela criança que está nascendo, e o idoso que está se indo. Então vamos proteger essa criança para que ela cresça, para que ela se desenvolva, para que aquele binômio mãe e filho se desenvolva adequadamente, que aquela mãe consiga cumprir a função que ela se propôs de ser mãe, amamentar, e criar uma criança.

Pergunta: Existe alguma medida que a mãe possa fazer durante a amamentação para produzir mais leite?
Tio Cecim:
Se você não descansar, você não tem leite. Então, a primeira coisa é descansar. Por isso, esse projeto de uma pessoa que vem cuidar daquela casa para que a mãe tenha tempo de amamentar, vai fazer toda a diferença nas primeiras duas ou três semanas. Depois ela vai se adaptar, a mãe vai conhecer o seu bebê e ter uma relação mais harmoniosa.

Segundo, ingestão de água. Terceiro, fazer uma dieta hipercalórica e cuidar com a alimentação, porque o bebê é o espelho da mãe, então tudo aquilo que a mãe come, vai passar ao bebê, então por isso que se faz a dieta. Por isso que você evita os alimentos mais fortes, porque aquilo vai dar uma indigestão, vai dar uma cólica no bebê. Então a cólica do bebê não é normal. É porque a mãe ou come alguma coisa ou ela se estressa por alguma coisa. Porque tanto vai passar a comida física como vai passar as emoções para aquele bebê. Por último, manter a rotina. Mama de dia e dorme de noite.

Com isso, com certeza, a grande maioria das mães, vai conseguir amamentar. Estamos na campanha do Agosto Dourado porque esta informação falta. O leite materno não faz parte de nenhuma indústria a não ser da indústria humana. Então, nós como humanos, precisamos defender a nossa espécie e cuidar daquela que vai ser a perpetuação da espécie que são os próximos bebês que virão aqui.
 
Pergunta: Como trabalhar psicologicamente essa questão com as mães de uma maneira que reduza essa frustração por não conseguir amamentar?
Tio Cecim:
Toda pessoa que se propõe a fazer uma coisa uma ação e ela não consegue, aquilo vai doer. E quando uma mãe se propõe a amamentar e não consegue, vai doer muito. Nem todas as mães nasceram para amamentar e na maioria das vezes não é culpa dela. É culpa do gene dela, que já foi tão modificado que ele não mais produz leite.E essa mãe vai usar a fórmula. Então, aquela mulher que não pode, tudo bem se não pode, não pode deixar o bebê com fome. Não pode deixar o bebê morrer de fome.

Então ela vai fazer o uso da fórmula e vai tocar a vida dela. Assim como as mães, muitas vão conseguir amamentar, outras não vão conseguir e todas vão ser mãe e vão cumprir o seu papel. E é fundamental o bebê perceber que a mãe está lá com ele. O bebê veio de uma situação traumática e ele precisa de aconchego, de amor, de segurança. E, para isso, precisa o olho no olho, de abraço, do aconchego da mãe.

Daniela Legas
AGÊNCIA AL

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