Congresso discute políticas públicas para o parto humanizado
O protagonismo da mulher durante o parto e nascimento do bebê centrou as discussões do 4º Congresso Nacional de Parto Humanizado na manhã desta quinta-feira (28) na Assembleia Legislativa. O evento, proposto pela deputada Ana Paula Lima (PT), tem por objetivo debater ações e vivenciar a realidade catarinense para a efetivação de uma política e intervenção mais humanizada nas gestações, partos e nascimentos.
Em Santa Catarina, o índice de cesarianas chega a quase 60%. De acordo com a coordenadora da Rede Cegonha no estado, a enfermeira obstetra Carmen Delziovo, esse número contraria as diretrizes do modelo de atenção ao parto e está entre os maiores desafios na efetivação das políticas que asseguram partos humanizados.
Carmen explica que a maior incidência acontece em pequenos hospitais, onde ocorre a falta de profissionais. “Nós temos uma realidade no estado de que esses pequenos hospitais têm dificuldade de ter uma equipe completa, acaba tendo um profissional único, muitas vezes ele não é obstetra, e então as mulheres, ao procurar o hospital, a gente tem percebido que a maior parte dos partos acabam sendo partos cirúrgicos.”
Para a médica e mestre em saúde pública, Sônia Lansky, muitas mulheres recorrem à cesariana porque acreditam ser um ´parto sem dor’. “E, no entanto, é uma grande cirurgia que deve ser realizada apenas em casos de riscos iminentes à vida da mulher e do bebê. Nós banalizamos a cesariana por um lado, e banalizamos a violência na assistência ao parto contra a mulher e contra o bebê.”
A médica aponta que o problema ocorre desde a formação de profissionais da área, que ainda estão se referenciado em práticas consideradas obsoletas, em que a mulher, por exemplo, fica deitada para parir, sozinha, em jejum e acaba sofrendo violências físicas e verbais. “Então isso traz um desconforto, um sofrimento pra mulher no parto que não tem correspondência técnica nenhuma, o que resulta numa situação de violência no tratamento com a mulher e com o bebê.”
Doulas
Em Santa Catarina, a Lei 16.869/2016 assegura a presença de doulas, mediante a solicitação das gestantes, em maternidades e hospitais catarinenses durante o parto. Para a presidente da Associação de Doulas no estado, Gabriela Zanella, existe um excesso de intervenções no parto que acarretaram a perda de sabedoria da mulher sobre o próprio corpo.
“Eu acredito que a fortaleza está nas mulheres, a partir do momento que reconhecemos isso, essa força se traduz em informação para outras mulheres e em uma cultura de que o parto pode ser bom, que não precisa ser violento, em que as mulheres podem se sentir muito satisfeitas e felizes com seus partos, independente da via de parto, que seja a mais saudável e escolhida pela mulher, de fato, promovendo sempre a saúde da mãe e do bebê”, explicou Gabriela.
A médica Sônia Lansky afirmou ter observado um avanço na mobilização das mulheres catarinenses em favor do parto humanizado, mas acredita haver um descompasso na política pública da implementação da Rede Cegonha. “Isso está muito vinculado nas questões de gênero, na importância da mulher na sociedade, então é nesse sentido que nós temos de fazer uma mudança, uma recuperação do poder da mulher na hora de parir, porque a decisão é dela, o corpo é dela e ela que sabe parir. E ela que vai ter condições de parir desde que nós a apoiemos nas políticas públicas, na ambiência, na equipe multiprofissional, na inserção da enfermagem obstétrica, da doula, apoiando essa mulher e essa família a vivenciar o momento do parto como uma celebração da vida que faz parte da natureza humana, e que nós temos que respeitar e voltar a fazer desse momento, um momento familiar, marcante e de alegria, não de sofrimento”.
Com a colaboração de Carolina Lopes/Agência AL