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23/07/2021 - 12h46min

25 de julho: Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

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Uda Gonzaga, professora aposentada
FOTO: Vicente Schmitt/Agência AL

Apesar de ser uma data não muito conhecida no calendário, no dia 25 de julho é comemorada a celebração das lutas e das conquistas de mulheres negras, e também de reflexão de como estruturas sociais ainda carregam entraves que dificultam suas vivências, o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha. A data é um símbolo de resistência das mulheres negras, que apesar de várias conquistas sociais desde sua instituição em 1992, no 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana, ainda lutam por mais espaço na sociedade brasileira.

O evento surgiu para dar visibilidade à luta das mulheres negras contra a opressão de gênero, a exploração e o racismo. No Brasil, a data também homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela, símbolo de luta e resistência do povo negro. Em Florianópolis, a servidora Marilu Lima de Oliveira, que foi por muitos anos foi coordenadora do Programa de Estágios Especiais - Antonieta de Barros (PAB) da Assembleia Legislativa, e a professora aposentada Maria da Costa Lourdes Gonzaga, a Uda Gonzaga, foram precursoras da luta por mais direitos e espaço às mulheres negras em Santa Catarina.

Dona Uda, 83, nasceu, cresceu e reside na comunidade do Mont Serrat, também conhecida como Morro da Caixa, onde por mais de 30 anos foi professora e atuou na Associação das Mulheres Negras (Amab), como uma das líderes do movimento. “As pessoas não se envolviam, mas tivemos algumas conquistas, mas para mim ainda falta mais união das mulheres, envolvimento na política para conquistar mais direitos e melhorias para a sociedade e para as mulheres. Falta amor, só o amor constrói. Essa falta de união, solidariedade. É difícil, mas não impossível.”

Ela enfatiza que fica triste quando vê e lê sobre a violência no estado e considera que a mulher não foi feita para apanhar. “Espero que o futuro seja melhor para as mulheres, vejo que há muitas conquistas, como mulheres no futebol, atuando como juízas e empresárias, mas há ainda muitas que precisam de oportunidade.” Dona Uda foi professora de quatro gerações de moradores do Morro da Caixa e também fez parte da história da escola de samba Copa Lord e é um dos maiores nomes vivos do Carnaval de Florianópolis.

A líder comunitária só foi se interessar pelo Carnaval depois que começou a namorar com Armandinho Gonzaga. Vindo da Protegidos da Princesa, Armandinho era um apaixonado por Carnaval e foi fundamental para a história da Copa Lord, fundada em 1955. Nos 18 anos em que o marido presidiu a escola, Dona Uda sempre esteve junto ao marido para ajudá-lo, mas jamais imaginaria ser ela a comandante da Copa Lord um dia. Após a morte de Armandinho em 1978, Dona Uda foi eleita presidente, mas só aceitou mesmo depois de uma votação entre os moradores do morro. “Eu dirigia o grupo de jovens, a catequese, era diretora de escola… Como ia dirigir também uma escola de samba? Mas ganhei.”

Já a servidora pública Marilu Lima de Oliveira lembra que desde que iniciou sua carreira profissional em 1982 atuou na defesa da questão racial como forma de dar mais visibilidade aos negros. Ela também defende o envolvimento das mulheres negras na política, independentemente do partido político, como forma de conquistar espaço e espera que novas políticas públicas oportunizem mais vagas em concursos públicos e nas candidaturas a essa parcela da sociedade.

Para ela, infelizmente, as grandes demandas das mulheres negras ainda continuam as mesmas da década de 90. “Não temos oportunidade, a sociedade brasileira perde quando não há espaço para diversidade, precisamos construir uma sociedade plural.” Marilu já recebeu prêmios estaduais e nacionais por suas ações a favor das mulheres negras e impactou positivamente na vida de muitos adolescentes de periferia, e também, é claro, de garotas negras que passaram por estágio na Alesc.

Quem foi Tereza de Benguela
Tereza de Benguela, a grande homenageada do Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, foi uma líder quilombola que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravidão no século XVIII. Após a morte do marido, José Piolho, Tereza assumiu o comando do Quilombo Quariterê e o liderou por décadas. Ficou conhecida por sua visão vanguardista e estratégica.

Sua liderança se destacou com a criação de uma espécie de Parlamento e de um sistema de defesa. Ali, era cultivado o algodão, que servia posteriormente para a produção de tecidos. Havia também plantações de milho, feijão, mandioca, banana, entre outros.

Um breve histórico da luta das mulheres negras no Brasil
Resistir, construir e avançar são verbos que as mulheres negras carregam consigo historicamente. Da luta contra a escravidão aos tempos atuais, elas fazem a micro e macro política nas ruas e nas arenas públicas.

Assim, no Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, essa história precisa ser lembrada. A história da organização das mulheres negras em defesa de seus interesses começa no século XIX, com a criação de associações e irmandades, e durante o século XX com a criação de organizações a partir de 1950, o ano em que é fundado o Conselho Nacional de Mulheres Negras no Rio de Janeiro.

O feminismo negro no Brasil, enquanto movimento social organizado, teve início na década de 1970 com o Movimento de Mulheres Negras (MMN), a partir da percepção de que faltava uma abordagem conjunta das pautas de gênero e raça pelos movimentos sociais da época.

Já as décadas de 80 e 90 foram marcadas pelo trabalho de pensadoras como Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro, que em plena trajetória de redemocratização do país, contribuíram para a consolidação das pautas das mulheres negras por meio de suas atuações acadêmicas e políticas.

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