Primeira safra de macroalga de SC produz 102,3 toneladas por quatro produtores
Iniciou em Florianópolis, nesta segunda-feira (10), e encerra nesta sexta-feira (14), o Aquaciência 2023 – 10º Congresso Brasileiro de Aquicultura e Biologia Aquática. Promovido pela Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática (Aquabio), a cada dois anos, o congresso é o maior e mais importante evento científico brasileiro da área de aquicultura e biologia aquática.
A temática central do evento será “Conservar, Produzir e Inovar”. O congresso propõe-se a realizar uma ampla discussão sobre o papel da ciência, tecnologia e inovação como ferramentas imprescindíveis para a conservação e produção sustentável de organismos aquáticos. Um evento para integrar academia e o setor produtivo.
O deputado Jair Miotto (União), como presidente da Comissão de Economia, Ciência, Tecnologia, Minas e Energia da Assembleia Legislativa, prestigiou o evento na terça-feira. “Um evento enriquecedor do ponto de vista técnico e científico e uma oportunidade única para troca de experiências e perspectivas entre os envolvidos nesta temática, da maior importância e atualidade.”
Completando a marca de dez edições, esta será realizada pela primeira vez em Florianópolis, com a organização feita pela equipe do Departamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC), Instituto Federal Catarinense (IFC), Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Associação Catarinense de Aquicultura (ACAq), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e Secretaria de Estado da Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural.
Programação
Durante o evento, pesquisadores, docentes, alunos de graduação e pós-graduação e profissionais do setor aquícola divulgam e debatem os avanços e tendências da aquicultura e biologia aquática. Entre os palestrantes, esteve o pesquisador do Centro de Desenvolvimento de Aquicultura e Pesca (Cedap), da Epagri, Alex Alves dos Santos. O pesquisador abordou o tema “A cadeia produtiva da macroalga Kappaphycus alvarezii em Santa Catarina”.
De acordo com Santos, os cultivos comerciais da macroalga Kappaphycus alvarezii em Santa Catarina foram autorizados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), através da Instrução Normativa n° 1, de 21 de janeiro de 2020, desde o extremo Norte do Estado, no município de Itapoá, até o extremo Sul do Estado, no município de Jaguaruna.
“De novembro de 2021 até abril de 2022, cinco cursos sobre a tecnologia de cultivo de algas foram ministrados para um público de aproximadamente 80 pessoas, composto por técnicos, acadêmicos e produtores. A partir destas capacitações, um produtor iniciou os cultivos comerciais de macroalgas em Florianópolis, seguido por outro de Palhoça”, recorda Santos.
Safra 2021/2022
Um levantamento da Epagri e da UFSC traz dados estatísticos da produção da macroalga Kappaphycus alvarezii em Santa Catarina, safra 2021/2022, a primeira safra da alga no Estado. De acordo com o estudo, a safra 2021/2022 teve quatro produtores que exploraram 3,20 hectares com o cultivo de algas. A produção total foi de 102,3 toneladas úmidas.
De acordo com Santos, esta produtividade da safra 2021/2022 ainda é baixa e foi acentuada pela perda de biomassa resultante da ação dos fortes ventos e correntes marinhas, somado a inexperiência dos produtores sobre o momento certo de colheita. “O município de Florianópolis liderou a produção, com 58,5 toneladas de macroalgas frescas, representando 57,2% da produção estadual, seguido por Palhoça, com 43,8 toneladas (42,8%)”, revela Santos.
Mercado
Considerando que a produção estadual é de 102.300 quilos, o que pode proporcionar 82.640 litros de extrato de alga, que comercializado a R$ 18 o litro pode render aos produtores aproximadamente R$ 1,5 milhão. “Estes valores prospectados são apenas de caráter ilustrativo, pois não foram considerados custos de implantação dos cultivos, custos de produção, custos de extração do extrato de alga e custos de comercialização”, estima Santos.
Ele acrescenta, ainda, que além do biofertilizante, o comércio de algas in natura já é uma realidade no Estado, com valor agregado de R$ 2,80 o quilo, praticado em 2021/2022. “Para os próximos anos, a perspectiva é de que o preço oscile entre R$ 2,80 e R$ 5 o quilo de alga fresca, dependendo da época do ano. No Rio de Janeiro, o valor praticado já é de R$ 5 o quilo”, projeta Santos.
Outro segmento que o Estado está trabalhando é o da gastronomia, através de acordos de cooperações técnicas com instituições para o desenvolvimento de pratos a base de algas. Pesquisas com a utilização das algas na alimentação dos bovinos estão sendo planejadas. O objetivo é o de avaliar a ação do componente bromofórmio, presente nas algas, na redução do gás metano emitido pelos bovinos. Da mesma forma, pesquisas relativas à ação do biofertilizante a base de algas em plantas agrícolas também estão sendo planejadas.
Algas Brasil, primeira fazenda marinha de SC
O cultivo de algas é uma cadeia produtiva nova para Santa Catarina e muitas informações relativas à tecnologia de produção, avaliações econômicas e financeiras, desenvolvimento de produtos e de seu comércio, deverão ser identificadas à medida que a atividade for se estabelecendo e consolidando.
A Algas Brasil é a primeira fazenda marinha de Santa Catarina a realizar o cultivo comercial de macroalga e está localizada no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis. Durante Aquaciência 2023, a empresa esteve presente com um estande falando sobre a a experiência e atuação da Algas Brasil no cultivo comercial da macroalga.
Segundo os sócios proprietários, Ademir Dario dos Santos e Gabriel Ademir dos Santos, desde o início da produção, em novembro de 2020, a Algas Brasil já produziu 200 toneladas de macroalga. “Até o fim desta safra, em maio de 2023, devemos produzir mais 150 toneladas” estimam os sócios proprietários.
A partir da matéria-prima é realizada a extração de biofertilizante e carragena, um espessante utilizado nas indústrias química e alimentícia. “A demanda da Algas Brasil por fertilizante, até dezembro de 2023, é de 1 milhão de litros. Até maio, a empresa deve produzir 500 mil litros. Aqui na Algas Brasil, realizamos toda a parte de produção de alga e biofertilizante. Contamos também com o pessoal responsável pela administração e pelo comercial”, explicam os sócios proprietários.
Conquista histórica
Desde o início de sua legislatura, o deputado Miotto, juntamente com a Epagri, com a UFSC e com o setor da maricultura, teve iniciativas que contribuíram para que o cultivo comercial da macroalga se tornasse realidade. Na Assembleia Legislativa criou uma Comissão Mista que buscou, junto aos órgãos competentes, a liberação do cultivo comercial da macroalga. Muitas reuniões e articulações foram realizadas. “A liberação do cultivo comercial da macroalga é recente e foi conquistada a muitas mãos, depois de mais de 10 anos de pesquisas. Mas, com alegria, em 2022, realizamos uma visita na primeira fazenda marinha do Estado, a Algas Brasil, no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis. Conhecemos a estrutura e conversamos sobre o andamento da produção. Um dos proprietários, o maricultor Ademir, nos procurou lá em 2019 buscando apoio para a liberação. Hoje, estamos vivendo a realidade de um projeto muito promissor para os maricultores e para o Estado, algo que era permitido somente no Rio de Janeiro e São Paulo”, avalia o deputado.
Nos próximos dias, o deputado Miotto receberá no gabinete da Alesc uma equipe da Fazenda Marinha Algas Brasil, que esteve no Congresso. Estarão presentes na reunião os sócios proprietários, Ademir Dario dos Santos (produção) e Gabriel Ademir dos Santos (logística e processo), os sócios e diretores comerciais, Leandro Anversa e Sandra Anversa, que são produtores rurais de soja vindos de Formosa (GO), e proprietários da empresa de fertilizantes Carbom Brasil, o pesquisador e doutor, Brener Marra (diretor técnico), que é professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), em Minas Gerais, e Adriano Cláudio (comercial), de Florianópolis.