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24/07/2019 - 11h47min

Iniciativa de Fabiano: Espaço da Alesc poderá ser batizado de Cruz e Sousa

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Desde o começo de junho, esta obra do artista Rodrigo Rizo chama a atenção na paisagem do Centro de Florianópolis. Foto: Maurício Santos

Antes do recesso parlamentar, o deputado  Fabiano da Luz (PT) protocolou Projeto de Resolução para denominar o Espaço Didático Cultural da Assembleia Legislativa de Santa Catarina de "Espaço Cultural Cruz e Sousa".

O objetivo de Fabiano da Luz é homenagear o  promotor público e poeta Cruz e Sousa no espaço oferecido para exposições de arte (chamado de "anexo", ainda sem um nome). Familiares de Sousa estão emocionados com a decisão do deputado Fabiano.

A Assembleia Legislativa  aprovou em 2017  o projeto de lei que reconheceu simbolicamente João da Cruz e Sousa como promotor público. O PL é de autoria do ex-deputado Dirceu Dresch.

O ano de Cruz e Sousa
Desde o começo de junho, uma imagem de autoria do artista Rodrigo Rizo chama a atenção na paisagem do Centro de Florianópolis. É o poeta Cruz e Sousa, retratado em um painel que ocupa os três paredões de um prédio ao lado da Praça XV de Novembro, em frente ao quintal do palácio que leva seu nome. Ao mesmo tempo em que homenageia o artista num dos mais célebres endereços da cidade, a pintura também reacende o debate em torno da figura dele, ajudando a fazer com que sua obra e legado sejam redescobertos.

Filho de escravos alforriados, João da Cruz e Sousa nasceu na então Desterro, como se chamava a capital catarinense no ano de 1861, já em liberdade. Enfrentou a sociedade escravocrata da época com textos e críticas contundentes, como jornalista, professor e escritor. Como poeta, experimentou diferentes formas e assimilou variadas influências, até encontrar a maturidade no estilo que o consagrou: como simbolista, movimento literário do qual é considerado um dos precursores no Brasil.

Biografia de Cruz e Sousa
Cruz e Sousa (1861-1898) foi o mais importante poeta simbolista brasileiro. Com os livros: Missal (poemas em prosa) e Broquéis (versos) inaugurou oficialmente o Simbolismo no Brasil.

Infância e Juventude
João da Cruz e Sousa nasceu em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, Santa Catarina, no dia 24 de novembro de 1861. Filho de escravos alforriados nasceu livre. Foi criado como filho adotivo do Marechal de Campo, Guilherme Xavier de Sousa e Clarinda Fagundes de Sousa. Por ter nascido no dia de São João da Cruz, recebeu o nome do santo, e o sobrenome da família que o criou.

Em 1865, começou a aprender as primeiras letras com sua protetora. Com sete anos, Cruz e Souza escreveu seus primeiros versos. Em 1869 entrou para uma escola pública, onde se destacava. Nessa época já declamava em salões e teatrinhos. Em 1871, com dez anos, matriculou-se no colégio Ateneu Provincial Catarinense, onde estudou francês, latim, matemática e ciências naturais.

Amante das letras, em 1877, Cruz e Sousa dedicou-se ao magistério e começou a publicar seus versos em jornais da província. Empenhado na campanha abolicionista, com o amigo Virgílio Várzea, durante vários anos redige para o jornal Tribuna Popular. Passa a sofrer perseguições por ser negro.

Em 1885, Cruz e Sousa estreia na literatura com o livro de poemas em prosa: "Tropos e Fantasias", em parceria com Virgílio Várzea, em que já se reconhecem algumas características marcantes do Simbolismo. Nesse mesmo ano assumiu a direção do jornal "O Moleque", cujo título se deve à sua rebeldia contra o preconceito de cor, de que sempre foi alvo.

Missal e Broquéis
Em 1890, o poeta vai para o Rio de Janeiro e passa a colaborar no jornal Cidade do Rio, de José do Patrocínio, e trabalha como arquivista na Central do Brasil. Em 1893, casa-se com Gavita Rosa Gonçalves. Nesse mesmo ano, com a ajuda do editor, Cruz e Sousa consegue publicar os livros: "Missal" (poemas em prosa) e "Broquéis" (poesias). Com eles, Cruz e Sousa rompe com o parnasianismo e introduz oficialmente o Simbolismo no Brasil.

Doença e Morte
Conhecido como o “poeta negro”, Cruz e Sousa viveu seus últimos anos numa luta contra a miséria e a infelicidade, quando poucos reconheceram seu valor como poeta. Sua esposa tem crises nervosas. Dos seus quatro filhos apenas dois sobreviveram. Vítima da tuberculose, em 1898, muda-se para a cidade de Sítio, em Minas Gerais, à procura de alívio para o mal, mas falece logo depois. Seu corpo foi transladado para o Rio, num vagão de transporte de animais. Cruz e Sousa faleceu na cidade de Sítio, em Minas Gerais, no dia 14 de março de 1898.

Simbolismo
O Simbolismo foi um movimento Literário que teve sua origem na França em 1870. Verlaine, Mallarmé e Rimbaud formam a famosa tríade do Simbolismo francês. No Brasil, Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens são os dois nomes mais significativos do Simbolismo. O simbolismo apresenta uma linguagem carregada de símbolos, em clara oposição à literatura de linguagem mais impessoal. Suas características são:

  • Musicalidade – onde as palavras têm um valor sonoro, fazendo uma comparação da poesia com a música.
  • Subjetividade – a valorização do inconsciente e do subconsciente, do estado da alma, da busca do vago e do sonho.
  • Espiritualidade – apresenta uma atmosfera de delírio, o caráter ideológico do verso e o mistério são constantes, traduzidas pelos temas da morte, desencanto pela vida, fé cristã e transcendentalismo.
  • Sugestão – afastando a descrição, criam-se novas imagens, novos símbolos que acentuam a carga emotiva das palavras, na tentativa de expressar o vago, o incorpóreo e o não concreto.

Fases da obra de Cruz e Sousa
Cruz e Sousa transformou em poesia seus dramas e angústias. Sua obra passa por três fases distintas:

  • Na primeira fase de sua obra, Cruz e Sousa canta o estigma de sua raça e se deixa seduzir por tudo que sugere brancura, como na estrofe abaixo:

          Antífona

Ó Formas alvas, brancas, Formas Claras
de luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...

  • A segunda fase da trajetória do poeta manifesta-se com a publicação de "Faróis", em 1900. Nela, o poeta transmite maior profundidade da vida, experimenta toda sorte de tragédia, sofrendo com a loucura da esposa. E dessa fase o poema:

           Música da Morte

A música da morte, a nebulosa,
estranha, imensa, música sombria,
passa a tremer pela minh’alma e fria
gela, fica a tremer, maravilhosa...

  • A terceira fase da poesia de Cruz e Sousa é marcada com sua obra “Últimos Sonetos”. Nela, o poeta mostra uma resignação, a sublimação da dor e das misérias humanas. O poema “Piedade” é dessa fase:

           Piedade

O coração de todo ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade,
Ficar mais doce o eterno desengano.

Em 1905, seu grande amigo e admirador, Nestor Vítor, prestou-lhe uma homenagem, zelando pela imagem de Cruz e Souza, incentivando a publicação, em Paris, da maior obra do poeta: “Últimos Sonetos”. A crítica francesa o considerou um dos mais importantes simbolistas da poesia ocidental. Em 1961, sua obra, "Cruz e Sousa, Obra Completa" foi publicada num volume de mais de oitocentas páginas, em comemorações do centenário de seu nascimento.

Obras de Cruz e Sousa

Poemas em Prosa

  • Tropos e Fantasias, 1885, em colaboração com Virgílio Várzea.
  • Missal, 1893
  • Evocações, 1898

Poesias

  • Broquéis, 1893
  • Faróis, 1900
  • Últimos Sonetos, 1905

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