Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina Agência AL

Facebook Flickr Twitter Youtube Instagram

Pesquisar

+ Filtros de busca

 

Revista Digital

Cadastro

Mantenha-se informado. Faça aqui o seu cadastro.

Whatsapp

Cadastre-se para receber notícias da Assembleia Legislativa no seu celular.

Aumentar Fonte / Diminuir Fonte
Publicado em 02/05/2017

O desafio de superar o trauma deixado pelo desastre

Imprimir Enviar
Dois anos após o tornado, Claúdia de Moura (d), que teve a casa destruída, recebe atendimento psicológico para superar o trauma

Se fisicamente os estragos deixados pelo tornado de Xanxerê estão praticamente "cicatrizados", nas mentes de quem viveu a tragédia ainda há o que ser feito para que tudo volte à normalidade. Para muitos que superaram as perdas materiais, o trauma é uma presença constante, principalmente quando um temporal se aproxima da cidade.

A arquiteta Emanuele Armênio evita falar sobre o ocorrido. “Não assisto, nem leio nada sobre outras tragédias como a que ocorreu com a gente. Tento esquecer para poder enfrentar o dia a dia”, comenta.

A mãe dela, Judite Armênio, não consegue segurar a emoção quando recorda o 20 de abril de 2015. Dias antes de ser entrevistada para esta reportagem, a cidade de São Francisco de Paula (RS) também enfrentou um tornado. “Eu vi na televisão o que aconteceu lá e chorei. É como se tudo que a gente viveu voltasse”, disse.

Judite também fica tensa quando o tempo fecha em Xanxerê. Certa vez, a família participava de um churrasco num clube da cidade quando o tempo ficou nublado, com nuvens muito carregadas, parecidas com as do tornado. “Paramos tudo, recolhemos tudo correndo e voltamos para casa. O coração fica apertado quando tem ameaça de temporal. É difícil lidar com isso”. Para ela, a dedicação ao trabalho, a fé em Deus e a convivência com a família e os amigos ajudam a superar o trauma com o tornado, sem a necessidade de ajuda especializada e remédios.

A técnica de enfermagem Cláudia de Moura ainda recorre ao apoio psicológico para enfrentar o trauma.  Ela morava no bairro Primo Tacca e também teve a casa destruída. “Parecia uma coisa irreal, um pesadelo, algo que eu só tinha visto em filme. O sentimento foi bem complicado. Parecia que eu estava vivendo o inferno. Pessoas chorando, gritando, coisas que eu jamais imaginaria ver”, relembra.

AÚDIO: Confira a reportagem da Rádio AL sobre as sequelas psicológicas deixadas pelo tornado

VÍDEO: Reportagem especial da TVAL conta as histórias dos dois anos da tragédia


Três meses após o tornado, os sintomas do trauma apareceram com mais força. “Não conseguia dormir. Deitava, fechava os olhos e todas aquelas lembranças vinham à minha mente. Era estranho estar em outra casa. Eu me perguntava: ‘Será que eu nunca mais vou voltar para a minha casa? Cadê minhas coisas?’”.

Claudia foi uma das dezenas de pessoas atendidas pelo Serviço de Atendimento Psicológico (SAP) da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). A instituição realizou um trabalho de apoio às vítimas, com a participação de alunos e professores. Ainda hoje, dois anos após o ocorrido, a técnica de enfermagem recebe atendimento no núcleo do SAP em Xanxerê.

“Eles [SAP Unoesc] foram prestar solidariedade pra gente e eu estava muito abalada e aceitei a ajuda. Foi muito bom, sem essa ajuda não sei se eu estaria superando como venho superando isso”, comenta.

Apesar da evolução no tratamento do trauma, Claúdia ainda tem medo quando se forma um temporal sobre a cidade. “O coração dispara, dá taquicardia. Fico pensando em sair de onde estou. Por mais que eu trabalhe para superar isso, esse sentimento vem com força.”

O psicólogo e professor da Unoesc Fábio Augusto Lise afirma que o estresse pós-traumático, como o que ocorreu com muitas vítimas do tornado, pode levar anos para ser superado. “Ele também faz aflorar problemas que a pessoa já tinha, mas ainda não haviam aparecido”, disse.

Lise era coordenador do curso de Psicologia da Unoesc quando ocorreu o tornado. As aulas foram canceladas e os próprios alunos manifestaram interesse em ajudar as vítimas, com apoio psicológico. Ao todo, 25 estagiários, coordenados por seis professores, participaram do trabalho.

“Num primeiro momento, os alunos foram conversar com as pessoas nas ruas. Depois foram formados grupos comunitários, nos quais as pessoas da comunidade trocavam experiências, falavam sobre seus sentimentos e discutiam sobre o que poderia ser feito para superar o trauma . Isso foi importante para fortalecer a comunidade e resolver algumas questões", comenta.

Segundo a psicóloga Talita Zanferari, responsável pela triagem das pessoas atendidas pelo SAP, 89 pessoas foram abordadas nas ruas, logo após o tornado. Dessas, cinco recebem assistência psicológica até hoje. Nos atendimentos, elas são estimuladas a criar estratégias para encarar o medo e se sentirem mais protegidas quando um temporal se aproxima. Construir uma casa diferente e mais reforçada, rezar, ficar em um local onde se sinta mais protegido são algumas das estratégias.

Voltar