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Publicado em 26/09/2022

História de Antonieta é um incremento na luta contra a invisibilidade dos negros

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Sobrinho-neto da ex-deputada Antonieta de Barros, Flávio Soares de Barros, 58 anos, em Mairiporã (SP) e atua como consultor em relações internacionais e cultural. Para ele, o redescobrimento da importância histórica da tia-avó vem preencher uma lacuna de um processo de invisibilidade estrutural promovido pela sociedade as famílias negras. “A família está recuperando um pouco deste vinculo que foi apagado da história.”

Flávio conta que a própria família não sabia da importância da Antonieta de Barros e que agora a história dela é um orgulho, mas que ainda há muitas lacunas que aos poucos estão sendo preenchidas. “Não dá para afirmar que foi um processo consciente de apagar Antonieta da história, mas sim um processo estrutural, apagando o vínculo familiar, diminuindo a realizações das pessoas negras. A existência dela é uma demonstração de como as estruturas funcionam, a memória dela foi apagada. Quando dizia que era sobrinho-neto dela, muitas pessoas diziam que ela não tinha família.”

O pai de Flávio nasceu em Florianópolis, no período em que seu avô, Cristalino, recebeu conselho da própria Antonieta de Barros para se mudar para São Paulo. “A família tem vínculos, o meu pai não conheceu a avó, mas sempre dizia que era brava. Hoje se fala de Antonieta como uma pessoa solitária e isso não é verdade, ela tinha relação com os familiares, foi aglutinadora da família.”

Ele complementa que, apesar do processo de apagamento da Antonieta, a família era estruturada. “Tanto meu pai e meus tios casaram e tiveram filhos, surgiram gerações de descendentes de Antonieta de Barros, isso foi apagado da história, sem contar a questão de classe, o próprio espólio dela foi doado para uma igreja de Florianópolis e não foram transmitidos os bens aos familiares, foi mais uma peça deste processo de individualização de Antonieta.”

Uma das primeiras vezes que Flávio ouviu sobre Antonieta de Barros foi quando criança, por volta dos 10 anos, quando o pai trouxe um folhetim de Florianópolis. “Fiquei encantado, era uma fantasia para mim, aquela mulher era da minha família, tinha tido uma atuação política que nunca sonhei. Participou da política do Brasil, mas só percebemos a importância dela quando há maturidade para isso.”

Na avaliação dele, a família está vivendo como arqueólogos. “Quando o arqueólogo chega num lugar só depois de escavar percebe a grandiosidade deste lugar, a cada dia estamos descobrindo e agraciados pela força dela e ficamos cada vez mais curiosos para saber sobre Antonieta. Uma negra dos anos 20, que tinha fotos, não era comum nesta época negros serem fotografados, ela dirigia seu próprio carro, rompeu barreiras, foi uma mulher ativa.”

O reconhecimento histórico é importante e incentiva o resgate de fatos que a família conhece sobre Antonieta de Barros. “Tem um fato curioso, Antonieta e sua irmã, Leonor de Barros, na escola que administravam, tinham um telefone. Eram poucas pessoas que tinham telefone em Florianópolis na época, mas elas tinham e recebiam trotes, muitas vezes racistas. Outro fato interessante, é que Antonieta gostava de dirigir seu carro e, ela e a irmã tinham um hábito que não era comum na época, gostavam de passear de carro nos fins de semana. Isso me faz sonhar de como eram essas mulheres.”

Apesar do reconhecimento tardio, Flávio diz que ainda há muitos fatos nebulosos na história da família que um dia ele espera serem esclarecidos, como o fato da bisavó ter decidido mudar de Lages para Florianópolis. “Não sabemos por que eles saíram de Lages, onde foram morar em Desterro (Florianópolis), não foram para os morros como era comum para os negros da época, a decisão de abrir uma pensão no centro de Florianópolis, a casa tinha que ter vários quartos. Há várias versões, boatos, mas não temos elementos para saber o porquê estes fatos ocorreram.”

Na opinião dele, hoje se Antonieta estivesse viva, estaria lutando as mesmas lutas, mas em outro patamar, defendo a educação, a cultura, a igualdade de gênero, entre outras. “Isso demonstra a nossa falta de resultado na resolução destes problemas estruturais da sociedade brasileira, ela foi uma mulher de coragem, negra, pobre, que teve coragem de ir ao Parlamento, enfrentar a elite de igual para igual. Ela serve de exemplo para todos, esse impacto que ela fez precisa ser continuado para que o preconceito e o racismo possam desaparecer.”

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