Genética da tilápia é um dos segredos da qualidade
Único órgão público do Brasil que desenvolve estudos de desenvolvimento genético e fornecedor de alevinos para os 12 maiores produtores em Santa Catarina, além de atender os mercados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Goiás, o Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Cedap/Epagri), localizado em Itajaí, é responsável por diversos projetos de pesquisa com espécies de peixes importantes para a região Sul do Brasil, como a tilápia (Oreochromis niloticus), o jundiá (Rhamdia quelen) e o lambari (Astyanax altiparanae).
A tilápia destaca-se como o peixe de maior produção na aquicultura continental, de acordo com o pesquisador em piscicultura e responsável pelo projeto, Bruno Corrêa da Silva, devido a sua rusticidade, crescimento rápido e adaptação ao confinamento. O Brasil produziu 400,3 mil toneladas do pescado em 2018, com crescimento de 11,9% em relação ao ano anterior (357,6 toneladas). Com esse desempenho, a espécie representa 55,4% da produção total de peixes de cultivo. No mesmo período, a produção catarinense de tilápias foi de 33,8 mil toneladas, representando 74% do total nesse mercado.
De acordo com o pesquisador, alinhada com o avanço da produção da espécie, a Epagri implantou em 2011 um projeto de melhoramento genético de tilápias, que é responsável pela manutenção de um banco de germoplasma da linhagem Gift-Epagri. Além de conduzir cruzamentos e seleção de tilápias mais adaptadas às condições de cultivo de Santa Catarina, e consequentemente na Região Sul do Brasil, o projeto tem como meta a disponibilização de matrizes selecionadas para produtores de alevinos. Silva relata que em 2005 o Brasil importou da Ásia as primeiras matrizes, que foram melhoradas em Maringá (PR), e depois a Epagri começou os estudos e assumiu o desenvolvimento genético.
O projeto de melhoramento genético da Epagri já disponibilizou 74 mil matrizes de tilápia. Estima-se que cada matriz produzirá por safra aproximadamente mil alevinos. De acordo com levantamento feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 2015 Santa Catarina produzia 59 milhões de alevino por ano. Sendo assim, a produção derivada da genética distribuída pela Epagri pode representar aproximadamente 84% da tilapicultura catarinense.
Bruno explica que a realização de uma seleção em condições semelhantes às dos cultivos realizados em Santa Catarina (viveiros escavados em região de clima subtropical) torna-se importante para obtenção de uma linhagem mais adaptada. Após três gerações de seleção, ele acredita que a linhagem Gift-Epagri possui um potencial pelo menos 15% superior para o peso final em relação ao peixe que foi introduzido no estado em 2011. Já na segunda geração o ganho genético para o peso final foi de 8,4%. “Cada geração representou um ganho de crescimento e adaptação do peixe ao clima catarinense.”
Na avaliação do pesquisador, Santa Catarina tem uma das melhores tilápias do Brasil. O trabalho envolve até colocação de microchips e coleta de DNA nas matrizes desenvolvidas em Itajaí, como forma de acompanhar o tempo de crescimento, tempo de abate, resistência a doenças e rendimento de filés. Silva atribui o aumento da produtividade ao maior profissionalismo dos piscicultores que compreendem que, para ser competitivo e se manter na atividade, é preciso ter controle do seu negócio, usar mecanismos de registros de custos e ter maior cuidado com o manejo e com a qualidade das águas de cultivo.
A rentabilidade da tilapicultura, que pode variar de 10% a 20% para o produtor, tem levado a um maior investimento em aquisição de equipamentos que melhoram a qualidade da água e automatizam o cultivo, assim como em rações premium. Nos polos mais tecnificados, o pesquisador observa o uso de aeradores – ventiladores que aumentam a quantidade de oxigênio na água –,
permitindo a criação de mais animais no mesmo espaço, alimentadores automáticos, classificadores e contadores, entre outros equipamentos.