Extremo Oeste tem caminho de aromas e circuito de cicloturismo
Seis dias, 16 municípios, 300 quilômetros de pedal entre estradas de chão e asfalto. Yoga, dança circular, sabonete de lavanda, ginseng, plantas medicinais, chás, vinhos e cerveja artesanal. Tudo isso aliado a belíssimas paisagens, cachoeiras de águas cristalinas e refrescantes e a hospitalidade característica do interior catarinense.
Quem se aventurar pelos Caminhos Aromas e Chás e Circuito de Cicloturismo Velho Oeste – roteiro que percorre 16 cidades da Associação de Municípios do Entre Rios (Amerios), no Extremo Oeste de Santa Catarina – encontrará, durante seis dias, atividades para todos os gostos.
“A ideia do cicloturismo e da rota Caminhos Aromas e chás é trabalhar o turismo holístico, que é toda essa parte de saúde e equilíbrio, as práticas integrativas e complementares que estão dentro do SUS também”, explica a enfermeira Kiciosan Galli, professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e uma das maiores entusiastas do projeto.
Práticas integrativas são tratamentos que utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais, voltados para prevenir diversas doenças como depressão e hipertensão. Em alguns casos, também podem ser usadas como tratamentos paliativos em algumas doenças crônicas. “A gente já tem o grupo de dança circular a cada 15 dias e vai ter yoga e meditação, em horários específicos pensando nos horários em que o turista pode chegar”, conta a professora.
No espaço, montado dentro do quartel da Polícia Militar de Cunha Porã, o cicloturista vai encontrar horto medicinal, com várias plantas, inclusive plantas que podem auxiliar na pedalada e no pós-pedalada – como ginseng, alecrim, lavanda e erva baleeira – e também um espaço para relaxamento, meditação, da dança circular e do yoga.
O turista chega e recebe todas as orientações – inclusive com os horários das práticas neste espaço. A visitação ao horto é independente do horário. E também pode beber o chá e levar a tintura, o sabonete para sua pedalada. “Chegou ao hotel, pode tomar a tintura de lavanda pra se acalmar, tomar banho com sabonete de erva baleeira para diminuir a dor do pedal, e antes do pedal pode fazer a dança circular e a meditação para entrar nesta conexão”, ensina Kiciosan. “A meditação trabalha a concentração, a tranquilidade, o foco. E precisa do foco para pedalar, principalmente nas nossas estradas, com muitas pedras, então o foco não pode faltar”, ressalta.
Cultura da região
Segundo a professora, a utilização de chás e plantas medicinais fazem parte da cultura da região. “Sempre fui envolvida com isso, mas quando eu fiz doutorado, descobri que grande parte dos municípios daqui tem algum horto medicinal vinculado à Pastoral da Saúde, Movimento das Mulheres Camponesas ou à Epagri.”
O lançamento pelo Ministério da Saúde, em 2006, da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares inseriu estas terapias dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). “Tigrinhos oferta plantas medicinais no posto de saúde. Flor do Sertão e Caibi indicam a planta medicinal e a pessoa vai na pastoral de saúde pegar. Faz parte da identidade cultural aqui”, revela Kiciosan.
A aposta no cicloturismo veio porque, além de ser uma atividade muito praticada pela população local, atrai gente de todos os cantos do país e do mundo. “São pessoas que querem conhecer novos lugares, curtir estes espaços. E ele não faz só uma vez, ele retorna para conhecer mais. É um turista que tem essa conexão de conhecer, esse olhar para a natureza, ele gosta de estar com as pessoas, de conversar.”
Outro motivo é a tentativa de explorar esse potencial turístico do Oeste catarinense, criando uma alternativa para o desenvolvimento econômico independente da agroindústria. “Temos uma potencialidade muito grande que não é a agroindústria, que é o turismo de natureza, o turismo de aventura, é vinhedo, cervejaria, que não aparece. A gente pretende, com isso, potencializar a economia, fugindo deste olhar ‘agroindústria’.”
Hospitalidade
Ao longo do roteiro, o turista vai notar a hospitalidade e o calor humano característicos do Oeste catarinense. A cada 70 quilômetros, em média, hotéis e pousadas já estarão esperando pelos viajantes. Mas, além disso, pontos para água, fruta, hidratação, alimentação e descanso. “E esses locais são propriedades rurais onde os agricultores estão esperando. Muitos deles com comida típica e a possibilidade de o ciclista ou turista conhecer a propriedade e as atividades rurais, como a ordenha do gado, a coleta da uva”, diz Kiciosan.
Apoio da PM
A implantação do projeto vem contando com uma colaboração muito importante da Polícia Militar. O quartel da PM em Cunha Porã tem um horto de plantas medicinais, salas para produção de sabonetes, tinturas e cremes, espaço para práticas integrativas e atendimento para quem chegar.
“Nós, da Polícia Militar, ficamos encantados com o projeto já no primeiro contato. O grupo de projeto desejava apenas usar uma área do quartel, mas, à primeira vista, vislumbramos que era possível fazer mais”, afirma o comandante-geral da corporação, coronel Araújo Gomes. “Era possível transformar esse projeto, como acabou acontecendo, num piloto em que a Polícia Militar entra com muita intensidade na produção, na consolidação de um movimento de desenvolvimento econômico local.”
O coronel destaca que entre as várias vantagens do projeto está a colaboração com a segurança pública. “O horto que foi implantado dentro do quartel através de uma cessão de uso é o ponto de partida que irradia geração de emprego e renda, criação de uma vocação econômica, fortalecimento de uma vocação turística que gera a prosperidade que coopera com a segurança. E é nesse sentido que nós entramos.”
Além das instalações, a PM também vai disponibilizar policiais da reserva para atuar junto ao projeto. “Assim, nós envolvemos os nossos policiais nas práticas diárias do projeto, estruturamos serviços para atender o aumento de demanda turística em toda a região e passamos a integrar, de maneira muito ativa, o grupo de gestão do projeto. O resultado não poderia ter sido melhor”, comemora o comandante. “Hoje temos uma região mais próspera, temos a comunidade mais próxima dos policiais, isso é algo que buscamos todos os dias. E os policiais percebendo a comunidade com outro olhar”, finaliza.