Atleta de goalball revive emoção de ter disputado Paralimpíadas
Participar do revezamento da tocha olímpica no Brasil significa, para o atleta de goalball Paulo Roberto Homem, reviver a emoção de ter representado o país nas Paralimpíadas de Pequim, na China, em 2008. “O sonho era competir no Rio, mas pela minha idade – 46 anos – não deu. No entanto, estou muito feliz por ser uma das pessoas que vai conduzir a chama olímpica, que representa a união dos povos. Vai ser mais um momento marcante na minha vida.”
A relação de Paulo com o esporte começou cedo. Na adolescência, praticava regularmente surfe e outras modalidades. Porém, tudo mudou quando ele descobriu, aos 25 anos de idade, uma doença chamada retinose pigmentar, que o deixou com cerca de 10 porcento da visão. “Fui perdendo a visão no decorrer dos anos. Começou a ficar difícil e eu parei de surfar. Fiquei uns seis anos sem praticar esportes, pensando que a minha vida tinha parado por ali, mas sentia muita falta.”
VÍDEO: Assista à reportagem da TVAL com o paratleta Paulo Roberto Home
AÚDIO: Depoimento à Rádio AL do atleta que vai carregar a tocha
Ao procurar ajuda na Associação Catarinense para a Integração do Cego (Acic), de Florianópolis, Paulo conheceu os esportes adaptados para pessoas com deficiência visual. Com aptidão para a natação e o atletismo, logo alcançou resultados no paradesporto. Foi campeão da Copa Brasil de Natação em 2001 na prova de 50 metros costas. Na mesma competição, conquistou a medalha de prata nos 50 metros livre. No ano seguinte, na Copa Brasil de Atletismo, venceu a prova de 400 metros e ficou em segundo lugar nas de 200 e 100 metros. “Nessa época veio o sonho de ser atleta, participar de competições internacionais, alçar outros voos.”
A partir de 2003, Paulo começou a praticar goalball. No início, houve uma certa resistência devido ao uso obrigatório da venda para jogar. “Achava que, utilizando a venda, a minha visão podia piorar. No entanto, era uma preocupação infundada.”
GOALBALL: modalidade, disputada por atletas com deficiências visuais que jogam de olhos vendados, foi criada em 1946, pelo austríaco Hanz Lorenzen, como forma de reabilitar veteranos de guerra. O objetivo das duas equipes, cada uma composta por três jogadores, é marcar pontos lançando a bola (que tem guizos em seu interior) com as mãos em direção ao gol adversário e defender a sua própria meta. FONTE: Rio 2016
“Esse esporte me trouxe muitas felicidades. Fui artilheiro do Campeonato Brasileiro em 2003. Deste ano até 2008 a minha equipe sempre esteve em nível nacional, mostrando resultados. E o goalball me levou aonde eu queria chegar quando comecei nos esportes adaptados: despontei como um atleta e realizei o sonho de participar de uma competição internacional.”
Paulo foi um dos seis atletas convocados pela seleção brasileira de goalball para representar o país nos Jogos Paralímpicos de Pequim, em 2008. “Foi o meu auge. Foram anos de treinos e trabalho árduo, de dedicação e muito esforço. Mas tudo valeu a pena”, relembra. O time terminou as Paralimpíadas na 11ª colocação.
A experiência da qual o atleta tanto se orgulha foi, inclusive, eternizada em uma tatuagem dos anéis olímpicos no braço direito. “Foi um momento que marcou a minha vida profundamente, e que está registrado para sempre na minha pele e, principalmente, na minha alma.”
O goalball continua fazendo parte da rotina de Paulo. “Quando voltei da China, sabia que era a minha última competição por conta da idade, pois já tinha 38 anos. Para participar de competições em alto nível nessa idade é muito difícil. Apesar de estar com 46 anos, ainda pratico em alto rendimento o esporte que escolhi.” Ele concilia a atividade na Associação Catarinense de Esportes Adaptados (Acesa) com a família e o trabalho no setor de ouvidoria da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte.
E foi um colega do trabalho que inscreveu Paulo na campanha promocional de um dos patrocinadores oficiais dos Jogos Rio 2016 para ser condutor da tocha olímpica. “Ele mandou todas as informações, a minha história. A expectativa começou no ano passado, em agosto, e a cada dia que passa fica maior.” O comunicado de que havia sido pré-selecionado chegou em novembro de 2015 e a confirmação só em março deste ano. “Estava no trabalho quando recebi a notícia. Veio por e-mail e, na hora, não acreditei. Chamei uma colega para ler porque não conseguia me concentrar. Foi uma surpresa, uma emoção muito grande.”
Agora Paulo faz contagem regressiva para o dia 10 de julho, quando vai conduzir a chama olímpica em Florianópolis, sua cidade natal, acompanhado por familiares e amigos. “Todos ao meu redor estão muito felizes, na expectativa de chegar o dia para participar desse evento junto comigo. Estou bem ansioso e apreensivo. É muito gratificante, vai ser uma alegria total.” Ele confessa que planeja caminhar ao longo do trecho de 200 metros do revezamento. “Já imaginei várias situações. Acho que vou caminhar para aproveitar bem o momento e todo mundo sentir a mesma emoção que eu naquele instante.”