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01/04/2022 - 13h47min

Alesc promove sessão em homenagem ao bicentenário de Fritz Müller

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Fritz Müller, em imagem de 1891, será tema de sessão especial da Alesc na segunda-feira (4). FOTO: Divulgação

O bicentenário do cientista, naturalista, botânico, pesquisador, médico e professor de matemática Fritz Müller, personagem ímpar da colonização alemã de Santa Catarina e da ciência brasileira, será comemorado em sessão especial da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc), nesta segunda-feira (4). A data do aniversário e do início do ano Fritz Müller, quando começa uma série de eventos para marcar os 200 anos de seu nascimento, foi nesta sexta-feira (31).

A homenagem ao primeiro cientista a apresentar modelos matemáticos para explicar a seleção natural e fornecer provas conclusivas da teoria de Charles Darwin está prevista para começar às 19 horas e será realizada de forma presencial e transmitido ao vivo pelos meios de comunicação do Parlamento. A solenidade, explica o proponente da sessão especial, deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB), tem como objetivo resgatar o legado histórico de Fritz Müller.

“Mesmo exaltados pela comunidade científica no Brasil e no exterior, os feitos de Fritz Müller são desconhecidos por grande parte dos catarinenses. Queremos que a sua história e seu legado científico inspirem as atuais e futuras gerações a irem mais longe, a se desafiarem na grande jornada pelo conhecimento”, disse Dr. Vicente. O parlamentar também reivindica que os conteúdos sobre a vida e a obra do naturalista sejam incluídos na grade curricular obrigatória da rede educacional catarinense. 

Alemão naturalizado brasileiro, Müller tem grande relevância para a ciência mundial. Suas pesquisas, realizadas na então cidade de Desterro, hoje Florianópolis, ajudaram a consolidar um dos principais estudos da humanidade: a Teoria da Evolução das Espécies, de Charles Darwin.

Johann Friedrich Theodor Müller (1822–1897), que ficou mais conhecido como Fritz Müller, chegou ao Brasil em 1852, na primeira leva de alemães que veio ao Brasil construir uma nova vida na então Colônia Blumenau. Em 1865, quando era professor em Desterro, passou a trocar cartas com Charles Darwin e tornou-se um valioso colaborador do cientista britânico.

Müller deixou um gigantesco legado naturalístico, tanto da flora como da fauna da região Sul do Brasil. O botânico faleceu em 21 de maio de 1897, aos 75 anos, na casa de sua filha em Blumenau. Chamado por Darwin de Príncipe dos Observadores, Müller contribuiu para o desenvolvimento científico do Brasil.

“Fritz Müller era da primeira leva de alemães que veio logo depois da fundação de Blumenau e podemos dizer que é o mais importante naturalista da história nacional. Foi aqui em Florianópolis, então chamada de Desterro, que ele realizou suas experiências e trocou impressões com Charles Darwin”, reforça o deputado Dr. Vicente Caropreso, que assegurou o apoio institucional da Assembleia Legislativa às comemorações do bicentenário.

Um ilustre desconhecido
O presidente do Grupo Desterro Fritz Müller/Charles Darwin – 200 anos, Marcondes Marchetti, considera o naturalista um personagem extraordinário na história do Brasil e na história de Santa Catarina, reconhecido no mundo acadêmico e no mundo científico, mas que é pouco conhecido pelo público em geral.

“No meio acadêmico ele é reconhecido e muito cultuado, mas na sociedade em geral ainda é desconhecido e nosso trabalho busca resgatar o seu legado histórico para que ele possa estar no mesmo patamar como Anita Garibaldi, entrando para o grupo formador da identidade de Santa Catarina.”

Marchetti relata que Fritz Müller chegou a receber títulos de doutor honoris causa, em vida, de duas universidades alemãs no século 19. Que há biógrafos que escreveram sobre a vida dele fora do Brasil e no Brasil. “Em Blumenau, onde ele está sepultado, onde ele viveu grande parte da vida brasileira dele, ele é bastante conhecido e reconhecido. Mas verdadeiramente, ele é um ilustre desconhecido da maioria”.

Isso se deve à lacuna no ensino de ciências, história e cultura no estado, na opinião do presidente do Grupo Desterro Fritz Müller. Ele destaca ainda que o naturalista, apesar de inicialmente se estabelecer na recém-fundada Colônia Blumenau em 1952, quatro anos depois, mudou-se para Desterro, onde atuou durante 11 anos como professor do Liceu Provincial e fez importantes pesquisas que colaboraram com as teorias de Darwin.

Para Marchetti, Fritz Müller foi um personagem notável da humanidade. “É um belo exemplo para juventude, para os cientistas e às pessoas, por ser um homem modesto, simples, que compartilhava seus conhecimentos sem discutir autoria, teve mais de 300 correspondentes no mundo todo, com quem trocava ideias. Todos os artigos que eram enviados ao Darwin eram publicados sem alteração e eram encaminhados aos principais cientistas da época.”

Müller e Darwin
O coordenador científico do Grupo Desterro Fritz Müller/Charles Darwin – 200 anos, Mário Steindel, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), conta que Fritz Müller recebeu de um amigo da Alemanha, o livro “A origem das espécies”, de Charles Darwin, publicado em alemão em 1861, e ficou maravilhado com as ideias colocadas nesse livro. Em suas observações, ele já tinha se indagado sobre vários aspectos e aquelas ideias de Darwin fechavam com a inquietude dele, que resolveu fazer uma prova de campo da teoria, no início muito debatida e combatida.

“Ele faz um estudo de campo pormenorizado sobre os crustáceos, durante três anos, reúne essas informações e publica um livro chamado “Für Darwin” (Para Darwin), comprovando a teoria”, relata Steindel. 

O livro foi publicado em 1864, na Alemanha. “Charles Darwin ficou maravilhado com o detalhamento científico que Fritz Müller coloca naquele livro. Antes, as pessoas faziam uma ciência muito mais observacional. Ele faz uma ciência experimental e usa conhecimentos matemáticos para fazer aferições. É uma obra extremamente interessante. Darwin pediu autorização para fazer a publicação da obra em inglês. Eles firmam uma grande amizade e Fritz Müller se torna talvez um dos principais colaboradores de Darwin.”

Müller foi o naturalista mais citado nas edições seguintes do livro de Darwin. O estudo que ele desenvolveu é considerado extremamente rico para a época, com pouca estrutura e instrumentos precários. “Fritz Müller era, além de tudo, um excelente desenhista, muito preciso na descrição morfológica das imagens”, complementa Mário.

A obra científica engloba 266 publicações, com notável pioneirismo no estudo de grupos de vertebrados e plantas da Mata Atlântica. “Fritz Müller é o cientista brasileiro com mais artigos científicos publicados no mundo inteiro, foram mais de 260 artigos que ainda são referência para os pesquisadores.”

Como forma de enaltecer a importância de Fritz Müller para Darwin, o coordenador científico destaca que na sexta edição do livro “A origem das espécies”, o naturalista é citado 19 vezes. “Aquilo que ele fazia em Desterro e Blumenau era importante para Darwin e ele estava na vanguarda do conhecimento da época.”

O professor completa: “Era uma pessoa que tinha formação sólida, que estava no local certo, mesmo com instrumentos rudimentares, fez avanços fenomenais, porque ele era muito preparado. O mais importante era o conhecimento dele, o ser humano Fritz Müller, ele fazia as observações originais que contribuíram com a ciência.”

Formação sólida
O geógrafo e botânico Marcelo Vieira Nascimento, que realizou uma ampla pesquisa sobre a obra e a vida de Fritz Müller, em especial sobre os 11 anos em que ele viveu na antiga Desterro, também enaltece a importância histórica dele para o mundo.

“A formação educacional de Fritz Müller foi extremamente exemplar, veio de duas famílias tradicionais na Alemanha. A família do pai era religiosa, então ele tinha uma base filosófica e religiosa muito grande, e a família da mãe, era toda formada por cientistas. O avô dele, por exemplo, foi o criador da primeira escola de química na Alemanha. Então, tem essa base educacional muito forte.”

Nascimento conta que Fritz Müller e Darwin nunca se encontraram pessoalmente, mas por correspondência formaram uma amizade histórica, fazendo que o cientista inglês cita ele mais de 110 vezes em suas obras. “Sempre digo que Fritz Müller em Blumenau ficou de frente para Mata Atlântica e em Desterro, para o mar. Foram anos de pesquisas e sempre Darwin solicitava pesquisas que eram realizadas em Santa Catarina.”

Com base na pesquisa que realizou, Nascimento pretende lançar em setembro o livro “Fritz Müller – Desterro (1822- 1897)”, uma biografia completa do naturalista alemão.

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